domingo, 26 de dezembro de 2010

O Urso e a Raposa

O urso ficou admirado com sua audácia!
A pelugem rubra podia tê-lo encantado,
mas era a inteligência da raposa que o impressionava...
Por um bom tempo ele ficou parado,
pois não tinha a menor idéia do que fazer!

A raposa se recostou no corpo do urso!
Aqueles braços poderosos a cobriram,
já que o urso tinha muito carinho guardado...
No entanto, ele era forte demais e,
como sempre, o urso machucou quem amava!

A raposa fugiu mais rápido que um raio!
Como os outros animais ela estava desesperada,
logo acabou se machucando caindo em um buraco...
Ficou presa em um emaranhado de gravetos,
com medo do grande urso que se aproximava!

O urso a resgatou prontamente!
Assim a raposa pode entender seu gesto,
pode entender que ele queria apenas seu bem...
Sentiu toda angustia do velho urso,
logo prometeu que nunca o abandonaria!

Um grande sentimento floresceu entre os dois!
O urso estava muito agradecido,
pois tinha encontrado uma amiga finalmente....
A raposa estava muito feliz,
agora tinha a quem confiar!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Raposa

...então o urso caminhou sozinho mais uma vez!
Já estava acostumado a ser abandonado,
muitos animais não o compreendiam...
Toda a esperança tinha abandonado o urso,
entretanto ela reacendeu mais uma vez!

Passeava perto do urso uma doce raposa!
Era peralta e tinha uma beleza impar,
que demonstrava toda sua sagacidade...
Graciosa ao caminhar,
não demorou a perceber a presença do urso!

A raposa era um animal desconfiado por natureza!
Pequenina e extremamente frágil,
tinha aprendido a sobreviver com sua evasão...
Entretanto não era apenas furtiva a raposa,
pois tinha uma forte tendência a curiosidade!

A mais esperta dos animais da floresta!
Sua iniciativa a fazia agir sempre,
mas sua impulsividade já lhe trouxe problemas...
Estava indecisa ao que fazer,
já que o urso parecia ser ameaçador.

Era também tão intrigante!
A raposa o rodeava com estrema leveza,
atenta a todos os seus movimentos...
Ela olhou com desconfiança ao velho urso,
mas decidiu se aproximar toda amável!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Lenda de Eastwood


“And I walk these streets, a loaded six string on my back
I play for keeps, 'cause I might not make it back
I've been everywhere, still I'm standing tall
I've seen a million faces and I've rocked them all”
Wanted Dead or Alive – Bon Jovi



Dwight Callahan heim? Estou sabendo! Bom, eu sei que não é sobre mim que você está interessado, já que eu não sou ninguém! Você quer saber do xerife Bill com certeza. Todo mundo quer saber dele! Não sei muito mais do que a maioria aqui de Eastwood e duvido que alguém lhe fale sobre o passado dele. Sabemos tudo sobre sua chegada e permanência em nossa miserável cidadezinha, mas o que veio antes é apenas estória que o povo conta.
Ficamos bem abaixo de Albuquerque e Santa Fé. Estamos muito longe da sua cidade ianque, seja ela qual for e diabos! Ficamos meio longe até mesmo de El Passo, mas passa por aqui quase todo viajante que quer chegar ao longínquo oeste sem ter que enfrentar a cordilheira que acompanha o Rio Grande vindo de Roswell. Esse é o caminho mais conhecido, mas não tão fácil. Têm os bandoleiros e bem, por essas terras, sempre tem os peles vermelhas.
Acho que não é isso que quer saber, não? Você quer saber sobre o xerife que carinhosamente chamamos de Bill Law. Bom, posso dizer, quase com certeza, que o nome dele é Willian Jackson Lawrence e foi sargento do décimo terceiro regimento da quinta cavalaria dos Estados Unidos da América. Sim, imagino que esteja pensando em Old Jack, mas falo nisso depois.
Dizem que Willian desertou em algum momento durante a Batalha de Little Big Horn onde muitos afirmam que ele foi viver entre os selvagens e se não acredita em mim, pode ir na delegacia conhecer o Cheyenne que está sempre com o xerife, mas o chame assim e você vai acabar com uma machadinha no peito!
Bom, mas deixa eu falar do primeiro dia em que a cidade viu o xerife. Eu estava sentado bem aqui, no fundo do saloon, quando ele entrou pela primeira vez. Ninguém o conhecia na época, nem de rumores. Sentou-se no balcão e pediu uma bebida qualquer para o Danny Boy. James Carson, que era o xerife de Eastwood na época, foi até o homem para saber o que aquele forasteiro queria por lá. Normalmente Carson não faria isso, mas Bill estava armado e ele resolveu perguntar. Era algo comum sabe? Muitos viajantes passam por aqui e a maioria armado. Já falei dos índios não? Enfim, quando James estava bem perto de Law houve um estrondo seco e o xerife caiu.
Lawrence tinha dado um tiro que pegou Carson de surpresa e deve ter morrido antes mesmo de cair no chão. Todos ficaram assustados, claro, mas ninguém gostava do xerife, pois ele trabalhava mais para os fazendeiros que para qualquer um que estava ali e isso marcou a sentença de James.
Bill pegou a estrela de xerife e colocou no próprio peito. Assim o homem virou lenda. Disse seu nome inteiro e falou que se alguém tivesse problemas com aquilo para procurá-lo na delegacia. Assim o novo xerife saiu e logo ouvimos mais tiros, era ele matando os dois únicos ajudantes do xerife e não ouvimos mais nada.
Todos ficaram com medo, pois como eu disse o antigo xerife trabalhava para os fazendeiros e logo haveria um tiroteio entre os capangas de algum colono e o pobre Willian, mas não foi isso que aconteceu.
Naquela mesma tarde; Frank Turner, o homem que tinha mais terras nas redondezas, apareceu na delegacia em pessoa, com seus homens, para conversar com o novo xerife. Acredito que ele pensou que podia comprar Lawrence como fazia com o outro, mas no meio da conversa acabou levando um tiro de surpresa também. Só que Turner não morreu e os capangas se prepararam para abrir fogo contra Bill.
Ninguém sabia, ou melhor ninguém teria sequer imaginado, mas havia homens nos telhados das casas perto da delegacia. Eram homens de Willian! Abriram fogo e houve uma pequena chacina em nossa pequena Eastwood.
Quando a poeira abaixou não tinha sobrado ninguém do lado de Turner, que também estava morto. O xerife deixou isso como um aviso para que ninguém desafiasse a sua lei. Sim, Lawrence era a lei agora e nenhum outro fazendeiro tentou matá-lo abertamente depois disso. Assim a lenda virou mito e muitas coisas se falam de nosso amado xerife Bill Law.
Agora vou lhe contar a primeira vez que eu vi Bill. Sim, eu acabei de contar a primeira vez que Eastwood o viu, mas eu já tinha visto ele antes e com esse breve relato você poderá tirar suas próprias conclusões sobre o passado de nosso xerife.
Estava em El Passo, ao sul daqui, quando o vi pela primeira vez, ou melhor, quando receio que o vi. Estava em um estábulo preparando meu cavalo para seguir viagem quando eu o vi entrar. Era o mesmo homem que se tornaria Bill Law com certeza. Aposto meu bigode nisso! Só que Willian estava vestido com uma farda dos confederados e isso tinha desagradado algumas pessoas ali. Havia um grupo de soldados da União que resolveram tirar satisfação com Bill. Aquilo deu em briga e você já deve imaginar o que aconteceu. Mas o mais importante era a farda, que todos sabem que a única pessoa que ainda tinha coragem de usar a farda nesses dias é o famoso criminoso conhecido como Old Jack!
Então tire suas próprias conclusões! Na verdade, acredito que já saiba de tudo que estou falando, pois eu percebi sua reação quando disse o nome do xerife inteiro.
Não! Está tudo bem! Imagino que seja um daqueles caçadores de recompensa pagos pelos fazendeiros que não querem peitar o Bill Law de frente ou talvez um dos novos agentes do presidente querendo descobrir se ele é realmente Old Jack.
Bom, tenho uma boa notícia e uma ruim para você.
Sim, a boa notícia é que ele realmente é o famigerado bandido, ou melhor dizendo, foi o pistoleiro e ladrão de bancos.
A má noticia, meu amigo, é que eu me juntei ao bando dele em El Passo e infelizmente terei que matá-lo agora. Nada pessoal sabe, mas é o meu trabalho. Tenho que matar qualquer forasteiro que venha perguntando do passado do xerife. Mas fique tranqüilo, escutará apenas um estrondo seco e morrerá rapidamente, sou bom nessas coisas sabe?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Letrinhas Dispersas

Poucas vezes eu irei mudar a forma que eu posto em meu blog para escrever outros temas e esse é um desses momentos. Meu propósito é divulgar meus contos, estórias e poemas e tem sido assim desde quando o criei. No entanto, essa é a segunda vez que modifico isso e a razão não poderia ser mais especial.
Quero homenagear uma pessoa incrível em que conheço há muito pouco tempo, mas foi responsável indiretamente por esse blog, seja como fonte de inspiração, seja como apoio para continuar escrevendo...
Lívia Inácio.
Conheci-a no cursinho. Ela era aluna enquanto eu dava aulas de História do Brasil e infelizmente tivemos um contato muito superficial. Lívia passou no vestibular e foi fazer a tão sonhada faculdade de jornalismo.
Esse ano uma amiga em comum esteve trabalhando com ela por um tempo e, mediante a esse contato, eu tive a oportunidade de “visitar” seu lindo blog.
Chamado “Letrinhas Dispersas” o blog de Lívia se dedica a contos, estórias e poemas, mas essa aparente semelhança com o meu blog pode enganar.
Eu nunca poderia escrever com tanta beleza, delicadeza e ingenuidade que faz tão bem a nossa alma e coração.
Nesse sentido seu blog é o oposto do meu e sempre que estou cheio de preocupações e problemas permeando minha mente é para o “Letrinhas Dispersas” que eu vou, pois sempre tem um escrito novo e cativante.
Nossa querida Lívia é possuidora de uma habilidade ímpar com as palavras tornando a leitura gostosa e agradável.
Fica aqui então minha dica, em um 12 de outubro, para todos aqueles que querem ter a incrível sensação de voltar no tempo e ler algo de pureza límpida e suave para esses dias tão escuros que estamos vivendo agora.
Vocês encontrarão um dos melhores blogs que eu já tive a sensacional oportunidade de ver a acompanhar fielmente.
Parabéns Lívia!!!

Letrinhas Dispersas
http://letrinhasdispersas.blogspot.com/

domingo, 19 de setembro de 2010

A Caçada


Aquela parecia ser uma noite espetacular. Alguns diriam que estava linda como qualquer outra noite. No entanto, havia algo em especial. Eu podia sentir isso na terra, podia ver nas luzes, podia cheirar no ar. Algo distante e insolúvel, mas afetava meus sentidos avassaladoramente. Essa latente sensação permeava minha mente e enquanto contemporizava sobre o assunto, mal notava todos os olhares na minha direção que minha simples existência provocava com tanta naturalidade no “After Dark”.
Localizada no, talvez, bairro mais boêmio do Rio de Janeiro, a boate After Dark era certamente uma das casas noturnas mais tradicionais da Lapa. Embora não fosse o samba que embalava as noites ali e por isso mesmo o lugar sendo o ponto de encontro de muitos cariocas que fugiam do convencional. Por isso eu estava ali, mas não apenas para me divertir, embora realmente poderia pensar isso. Infelizmente eu estava lá para realizar a única coisa que ainda me motivava depois de tanto tempo.
A caçada.
Digo isso porque nunca gostei. Já tive medo e teve um tempo que me sentia imoral ao fazer isso, mas agora eu tenho repugnância. Caçar é algo inexorável para os filhos da noite e eu mesma já me conformei com isso, no entanto, aceitar é muito diferente de gostar. Eu odeio fazer isso, embora minha sobrevivência dependa disso e por alguma ironia do destino, sou muito boa na caçada, e essa é a horrível verdade.
Caminhava em meio a uma profusão de etnias e talvez esse seja o maior diferencial desse país. Um amontoado de pessoas de diversas origens culturais se misturava como se pertencesse ao mesmo povo. Claro que estávamos no Brasil e claro que somos uma nação, mas esse sentimento de união não é tão forte como a maioria dos mortais pensa e sinceramente me pergunto se algum dia foi.
Assim meu escolhido se revela para mim. Era um homem alto com o corpo de quem deve malhar regularmente, mas sem exageros. Simplesmente odeio homens musculosos do tipo que chamam hoje em dia de “bombados”. Tinha os cabelos loiros e olhos verdes de uma tonalidade que se tornavam azuladas dependendo da luz. Um rosto fino que estava em acordo com o padrão de beleza de hoje em dia e eu apreciava isso, pois ele representaria perfeitamente seu propósito.
Sabia que era um homem inteligente, que se chamava Carlos Luca e trabalhava com publicidade em uma proeminente agência de propaganda no Paquetá. Na verdade, eu sabia muitas coisas sobre ele, já que eu o observava havia muito tempo com a ajuda das dádivas das trevas. Sabia do seu caráter e ambição. Conhecia seus mais íntimos segredos e por isso mesmo era meu escolhido.
Carlos já me observava.
Minha beleza já tinha chamado sua atenção bem como e quando eu queria que acontecesse. Não mais precisava da distração do ambiente. Estava ali, bem na minha frente e ele me admirava com fascínio. Eu causava, além de tudo, um deslumbramento sobrenatural. Uma atração que abrangia bem mais que o mundo físico. Deveria ser uma bela visão. Talvez tenha sido uma das últimas coisas que eu aprendi a manipular, mas uma das primeiras que utilizava inconscientemente.
Sabia muito bem o quanto eu era linda, pois já era elogiada mesmo antes de meu renascimento. Era desprovida de falsa modéstia. Olhos azuis celestiais e cabelos negros profundos como a Baía de Guanabara nas noites de lua nova. Meu corpo era praticamente perfeito. Bem desenhado e de uma delicadeza que atraía impreterivelmente os homens. Normalmente minha pele era muito branca, mas fiz questão de me cuidar bem para que as cores rosadas voltassem. Eu era a própria personificação da beleza divina em meio a meras e simplórias pessoas com suas curtas vidas.
Assim eu não precisava fazer quase nada. Bastava eu ficar sentada no bar, sem pedir nada, para que meus galantes pretendentes se aproximassem. Gentilmente descartava aqueles pobres coitados que em vão tentavam algo e trocava alguns olhares com meu escolhido para que o mesmo criasse coragem de me cortejar. Claro, foi justamente o que aconteceu.
Carlos se aproximou aparentemente confiante, mas eu escutava a batida acelerada de seu coração. Sentou-se do meu lado e dirigiu um olhar penetrante a mim e com um menear suave perguntou:
- Muitas cantadas?
Esse foi o início, obtuso a meu ver, mas propício aos meus objetivos, e deixei que ele me pagasse um Daiquiri com Morango e conversamos inúmeras futilidades enquanto cedia aos poucos às suas investidas. Queria que meu escolhido imaginasse que estava no controle, que estava jogando bem e me conquistando sem perceber que era ele mesmo o manipulado. Carlos era bom nesse jogo, mas não poderia vencer uma mulher com quase duzentos anos de vida.
O rapaz se sentia perdidamente atraído por mim. Podia perceber isso com todos os meus sentidos. Eu era ardente como as chamas de uma fênix que restaurava suas paixões mais profundas. No entanto, ao mesmo tempo, eu era evasiva na medida exata para lhe dar um ar misterioso e alimentar o desejo dele. Sabia trabalhar bem com isso, pois eu também era fria como o inverno e se encontram nesta dicotomia meus maiores talentos que estavam tirando a sanidade de Carlos rapidamente.
Toquei suavemente sua perna e disse que queria ir para algum lugar mais reservado. Claro que ele aceitou imediatamente e quando partirmos da boate After Dark aprestei minha audição à cata de ouvir todos os comentários sobre nós. Falavam mais sobre a sorte do rapaz do que sobre mim mesma. Minha beleza estonteante logo se nublaria na lembrança deles e embora seja impossível me esquecer, ninguém poderá me descrever exatamente, pois serei sempre uma imagem onírica indelineável.
Partimos no carro dele e passamos por vários bairros admirando o frescor e as belezas da Cidade Maravilhosa. Ficamos um pouco em uma praia de Ipanema para que eu pudesse estimular ainda mais suas emoções e depois fomos para minha cobertura não muito longe dali. Na verdade, todo o prédio, o “Marquesa Palace Hotel”, era meu e se todos os meus negócios pudessem ser computados eu seria considerada a mulher mais rica de todo o sudeste e talvez de todo o país.
Isso faz com que eu tenha meu próprio andar no prédio, que pode ser alcançado apenas por um dos elevadores e mesmo assim é preciso ter a chave que apenas meus mais leais servos possuem. Aqueles que tentarem passar por eles descobrirão rapidamente que suas habilidades e força também são sobrenaturais.
Logo que chegamos não tive sequer a oportunidade de lhe servir uma bebida ou mandar buscar algo para comer do restaurante “Lafayette”, pois Carlos me cobiçava tanto que logo cedemos à simples luxúria. Meu escolhido logo descobriria que sou uma ótima amante, com certeza a melhor que ele jamais possuiu e isso, ligado ao fascínio que emanava de mim, fez com que minha mordida fosse prazerosa ao invés de causar sofrimento.
Excedendo ao simples sadismo, o profundo beijo dos amaldiçoados acabava liberando a libido e adrenalina dos mortais. Essa era uma realidade que dava certa vantagem na caçada, mas nem toda pessoa reagia assim. Alguns tinham uma incrível força de vontade e sempre tínhamos que trabalhar com o imaginário das nossas vítimas, e logo era imprescindível todo o jogo que eu provocara antes.
Comecei a sugar seu sangue e a satisfação que aquilo me causava era inexplicável para qualquer mortal. Era muito mais forte e intensa que qualquer coisa que tinha experimentado quando eu ainda respirava. Melhor que os prazeres físicos como o sexo e os sentimentos que acalentam o espírito como o sorriso de nossa mãe.
Larguei-o na cama e sentei tranqüilamente enquanto o belo rapaz estrebuchava, perdendo sua vida a cada segundo. Carlos estava branco pelo sangue drenado sem entender o que estava lhe acontecendo. Na verdade ele entendia. Apenas não podia acreditar no que lhe parecia óbvio naquela situação.
Eu era uma vampira.
A dor que sentia, a vertigem e o terror que percorriam todas as fibras de seus músculos era uma sensação que eu conhecia muito bem, pois já tinha passado por aquilo e mesmo que de uma forma diferente dele, era um sentimento único. Aquilo me deu certa nostalgia e, sentada em frente à vista que dava para o encontro entre as avenidas Bartolomeu Mitre e Delfim Moreira, resolvi quebrar o silêncio e falar:
- Eu podia observar bem melhor todas as constelações na minha época – disse para o rapaz às portas da morte. – Agora até aqui a vida contemporânea poluiu os céus. Claro que esse lugar não era mais que um terreno vazio, mas já havia algumas chácaras quando meu criador se mudou para o Rio de Janeiro. Era um local calmo e tranqüilo, bem diferente desses dias, mas devo confessar que o Leblon ainda possui seu charme. Talvez seja por isso que eu tenha tantas posses ainda nesse lado da cidade.
Escuto os grunhidos quase surdos de Carlos e me lembro de toda a ardência que era ter o sangue drenado desta forma, mas ele ficaria vivo se assim desejasse ou melhor, como eu, ele nasceria novamente, mas para as trevas.
- Não seja rude, meu rapaz – disse para meu escolhido às portas da morte. – Se bem que eu também fui não é mesmo? Meu nome é Lívia Bastos de Castelo Branco e tenho vivido em seu país desde 1823. Sim, respondendo sua pergunta eu sou uma vampira, mas você ainda pode viver. Poderia dizer que lhe darei a grande dádiva da vida eterna, mas nossa vida é um tormento terrível pelas sombras do submundo. Meu motivo de querer transformá-lo não é menos egoísta que o que fez meu criador a me fazer renascer, porém ao menos eu estarei contigo em seus primeiros passos e isso já lhe bastará. A dor que sente é porque a magia profana está começando a agir em seu frágil corpo e isso é apenas o início. Ainda tem vários passos para se completar o ritual, mas por boa parte dessa noite nada pode fazer a não ser sofrer, e durante esse desagradável período eu lhe contarei minha história.





Introdução do meu romance sobre vampiros no Rio de Janeiro chamado:


A Fênix do Inverno

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Estrela do Mar


“O pescador tem dois amor
Um bem na terra, um bem no mar”
O Bem do Mar – Dorival Caymmi



O pescador olhava para o mar e sentia sua própria tristeza refletida nas ondas letárgicas do outono. Era extremamente difícil se conseguir peixes durante aquela época, mas o mais complicado era encarar sua própria família. Ver aqueles rostinhos decepcionados quando ele não traz o único sustento da família.
Parecia aquele mais um dia como estes. Suas desventuras no mar trariam fome às pessoas que ele mais amava. Isso era mortal para o pescador e cada vez menos sentia vontade de voltar ao mar.
No entanto, parou o barco em um ponto qualquer e voltou a pôr a rede na água em sua última esperança de pescar peixes. Ficou ali um tempo e puxou a rede de volta sem nada encontrar, ou era o que imaginou naquele momento. Nos emaranhados de corda, lixo e algas o pescador encontrou algo que julgava nunca encontrar.
Uma estrela do mar.
Sentou no convés de seu pequeno barco totalmente fascinado pela beleza daquela brilhante estrela que ele encontrou em meio ao universo do oceano.
Era linda! Tinha o azul do céu e brilhava refletindo todas as luzes que caíam sobre ela, como se toda a beleza do mundo se curvasse diante dela.
Aquilo enchia os olhos do pescador, deixando-o em êxtase profundo. Então ele se lembrou do passado, quando viu pela primeira vez uma estrela do mar.
Infante ainda na época, ele não sabia como reagir a àquela beleza, não sabia apreciar sua delicadeza, mas seu fascínio já tinha encantado o pescador.
Lembrou das brincadeiras que fazia com os amiginhos da escola e do tempo que passava com seu pai na pescaria. Adorava aquilo, adorava os tempos do colégio, em que sua única preocupação era se divertir. O pescador teve saudade daquele tempo.
A estrela do mar lhe trouxe todas aquelas boas lembranças. Ele quase pode sentir tudo novamente, como se vivenciasse de novo. Queria agradecer à linda estrela por ter feito tudo isso, mas não sabia se ela entenderia. Na verdade não saberia como fazer, pois era um simples pescador e entendia apenas de peixes.
Revigorado ele voltou a jogar a rede no mar e buscou, inspirado pela estrela do mar, o sustento para sua família. Não mais importava se conseguiria ou não, o pescador estava feliz como não era há muito tempo. Isso devia muito a ela...
Estrela do mar.

domingo, 5 de setembro de 2010

Nascimento da Amizade

Nós sempre passamos por diversidades
Quando o destino se zanga é que podemos
Finalmente conhecer os verdadeiros amigos
Alguém para estar do nosso lado sempre
Sejam momentos de tristeza ou alegria.

Assim podemos dizer palavras doces
Mostrar ao amigo que ele é melhor
Que é melhor que toda essa sujeira
Algo que teima a ficar incrustado
Tenta nos jogar sempre para baixo

Sim, minha querida você está certa
Somos melhores do que isso sim.
Essas palavras são suas e as revelo a ti
Pois suas palavras me confortaram
Quando estava em meus piores dias

Tenha a certeza que cativou um amigo
Daqueles que não abandonam
Que teimam ficar do lado mesmo
Nesta distancia cruel que está entre nós
Tempo e espaço que nada significa.

Se hoje eu estou mais feliz
Devo isso a grandes amigos
Pessoas especiais que se tornaram
Milagres em minha singela vida
Devo isso a você, minha querida amiga.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Saudade


E como nos filmes a chuva banhava o mármore cinza. Havia algo no ar que eu não entendia bem, certa letargia...
O pequeno campo estava molhado, mas o céu não estava totalmente nublado. Seria uma suave garoa passageira que parecia estar propositalmente acontecendo naquele exato momento. Não havia chovido nesses dias, apenas hoje. Seria coincidência?
Eu estava em frente ao túmulo de uma amiga da minha infância.
Olho para a lápide em minha frente e tento me lembrar de todas as alegrias que passamos juntos. Dos tempos em que brincávamos na pracinha perto da minha casa e de todas as besteiras que fazíamos juntos.
Eu costumava mexer com ela para que, irritada, ela corresse atrás de mim. Corria como um louco, sem me importar com as pessoas que nos viam. Éramos crianças e aquela foi a melhor fase da minha vida.
Não tínhamos as preocupações e deveres da vida adulta, apenas brincávamos alegremente. Tudo era mais simples e divertido e como qualquer pessoa, eu imagino, sinto muita saudade daquele tempo.
Saudade.
Fazia tempo que eu não tinha contato com ela e nos reencontramos recentemente. Marcamos de nos encontrar nas férias, pois ambos estávamos com muita saudade um do outro.
Mas o pior aconteceu.
Tinha tantas coisas para falar e agora eu não poderei mais. Não tinha mais contato com ela, mas saber que eu nunca terei só faz apertar o peito e a saudade me atinge inexoravelmente.
Penso em todos os amigos que não tenho mais contato, seja por desavenças ou simplesmente pela ação do tempo.
Será que um dia eu irei voltar a vê-los?
Mesmo os que eu acabei me desentendendo. Será que eu terei a oportunidade de conversar novamente com eles? Será que eu terei a sabedoria de perdoá-los e eles a mim?
Gostaria muito de mudar as coisas, gostaria de ver o sorriso da minha amiga que está enterrada novamente.
Algumas coisas eu posso fazer, outras não.
Não sei se eu poderei reencontrar a todos que gostaria.
A única coisa que eu sei é o que eu sinto...
Saudade.

sábado, 10 de julho de 2010

Vinícius de Moraes

"Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...

Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...

Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...

Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...

Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...

Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades..."

domingo, 4 de julho de 2010

Como Sempre

Acordo e me sento na cama como faço todos os dias. Não entendo isso, mas faço. Como sempre. Não tenho mais motivo nenhum para levantar, mas ainda assim eu acordo. Não sei o porquê.
Estou todo suado como sempre. Tive pesadelos horríveis. Sonhei com minha família como sempre. Acordo com uma sensação de vertigem. Tudo em volta tem um ar onírico e como sempre eu sinto que não descansei o suficiente...
Isso é verdade, pois além de ainda doerem todos os meus ferimentos, como sempre não dormi à noite e o sono perturbador chegou apenas de manhã, quando os primeiros feixes de luz atravessaram as frestas da minha janela iluminando escassamente meu quarto.
Agora a luz está mais forte, já se passou do meio dia, e posso ver a bagunça e desordem que se tornou meu quarto. Não tenho vontade de arrumar, pois na verdade eu não tenho vontade de mais nada.
Vejo a arma colocada despojadamente ao lado da minha cama. Eu a seguro com minha mãe direita. Leve. Tem apenas uma bala. A mesma bala que eu deixo todas as noites, pois toda a manhã eu faço esse mesmo ritual.
Como sempre.
Desde pequeno eu escuto as pessoas falando que se eu continuar vivendo da forma que vivo uma bala me estaria esperando no fim. Isso é verdade. Essa é a bala e todas as manhãs eu penso em acabar com minha angústia.
A bala que me faria encontrar os amores da minha vida.
Levanto-me e mesmo nu eu abro a janela. Não há quase ninguém nessa cidade desgraçada. Todos já foram para suas famílias nesse feriado e eu ainda estou aqui. Dias de silêncio onde eu quase não escuto minha própria voz. Apartamento vazio e escuro onde nem à noite eu me importo de acender as luzes. Sozinho como sempre e mesmo que estivesse uma multidão aqui eu ainda estaria só...
Ando descalço pelo chão de tacos malcuidados e não me importo com os cortes que os cacos de vidro causam ao pisar neles. Já tive ferimentos piores.
Lembro da minha amada e volto a pegar a arma.
A vida era mais fácil mesmo antes de conhecê-la. Meus inimigos eram óbvios. Amarelos comunistas. Eu atirava e eles morriam. Simples. Preto e branco.
Entretanto tudo está diferente agora. Não mais posso determinar o mal. Melhor. Não vejo mais a diferença entre bem e mal. Estou em uma cidade suja em um país impregnado pela corrupção.
Então eu escuto uma sirene e me lembro.
Como sempre.
Lembro o porquê eu não meto uma bala na minha cabeça miserável.
Ainda há bandidos lá fora.
Assassinos, estupradores, ladrões e todo o tipo de escória que nossa sociedade pode produzir. Um câncer que deve ser curado, ou melhor, que deve ser extirpado.
Eu devo punir porque ninguém mais faz isso!
Coloco a arma de novo ao lado da cama.
Um dia vou apertar novamente o gatilho, mas não será hoje.
Hoje eu tenho um trabalho a fazer.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Presença

Alegro-me quando está perto de mim
Sua presença me trás conforto...
Entristeço-me quando está perto de mim
Não tocá-la me deixa desolado...
Alegro-me quando está longe de mim
Minha razão volta ao normal...
Entristeço-me quando está longe de mim
Não tenho mais você...

Guardo em mim apenas as alegrias!

domingo, 27 de junho de 2010

Ascensão

Olho em sua direção e não está mais lá.
Tento desesperadamente encontrar.
Ficou apenas uma sombra do que foi.

Minha vida vai esvaindo dentro de si mesma.
Não há nada que me fascine mais no mundo.
Preso dentro das ilusões que eu mesmo criei.

A esperança já abandonou esse lugar.
O vazio me rodeia completamente.
Os demônios vêm saudar minha caminhada.

Uma luz bruxuleante surge no horizonte.
Feixes tímidos percorrem meu limbo particular.
Seu brilho começa a desafiar as trevas.

A claridade radiante afasta as sombras.
A paz extrai a angústia que existia em mim.
Penetra em meu ser e ascendo ao paraíso...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Resplendor

Esse sentimento não pode ser verdadeiro.
Os demônios ainda me rodeiam com sussurros.
Malditos tentam desesperadamente me enganar.
Entretanto eu vejo com mais clareza agora.

Sigo o brilho cálido do amanhecer.
Aquela luz me faz tão bem agora.
Percebo que todo o mal que causei.
Foram apenas erros e nada mais.

O resplendor me preenche totalmente.
Sinto todo o amor que dedicaram a mim.
O amor que tenho dedicado a tantos.
Lágrimas de fascínio percorrem minha face.

Êxtase perturba meus sentidos.
Fecho os olhos e continuo meu caminho.
Não enxergo mais dessa forma mundana.
Vejo apenas com meu coração.

A claridade radiante afasta as sombras.
A paz extrai a angústia que existia em mim.
Penetra em meu ser e ascendo ao paraíso.
A glória me acalma para sempre...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Alvorecer

Estou em um lugar totalmente desconhecido agora.
Um tom sombrio percorre até onde minha vista alcança.
Sinto minha tristeza sendo deixada para trás.
Entretanto o medo percorre toda a minha espinha.
Caminho para onde meus pés querem me levar.


Há algo de estranho no campo onde piso.
Parece se mover de forma desordenada.
Braços e cabeças saem do chão.
Escuto sussurros de lamento e dor.
Prantos de uma demanda muito longa.

São as vozes do passado que me atormentam.
Aqueles que me fizeram sofrer por toda vida.
Aqueles que eu magoei de forma tão mesquinha.
Faço as pazes comigo mesmo em busca de descanso.
Faço as pazes com as almas que me rodeiam.

Um brilho bruxuleante surge no horizonte.
Feixes tímidos percorrem meu limbo particular.
Seu brilho começa a desafiar as trevas.
Um tom cinza percorre até onde minha vista alcança.
Algo estranho preenche meu coração agora.

Como uma mariposa eu sigo a luz radiante.
Tento buscá-la para purificar a mim mesmo.
Vacilo, pois acredito que nada disso é real.
Não posso acreditar que algo bom possa acontecer.
Nada de bom nunca aconteceu comigo...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Trevas

Durmo em meio ao vazio fumegante das trevas.
Pesadelos que minha mente nunca imaginaria.
Chamas negras que queimam pelo frio.
Um lugar onde já estive várias vezes.

Enfim o destino se revela novamente.
Olho e vejo os atores dessa fúnebre novela.
Entendo exatamente o que querem de mim.
Continuo a caminhar sem olhar para trás.

A esperança já abandonou esse lugar.
O vazio me rodeia completamente.
Os demônios vêm saudar minha caminhada.
Tentam me conquistar por dentro.

O réquiem embala os meus sentidos.
Tenho vontade de ficar para nunca sair.
As sombras parecem que me completam.
O conforto do nada sempre protege.

Por algum motivo eu continuo a andar.
Cada vez mais para dentro eu caminho.
As desilusões me machucam ainda mais.
Não vejo a luz me guiando...

sábado, 19 de junho de 2010

Escuridão

Faz muito tempo que não há mais nada para mim.
Olho em volta e tudo começa a se desmanchar.
Nada mais importa se é que algum dia importou.
As ironias do destino me prendem como grilhões.
Ninguém mais sentirá minha falta...

Minha vida vai esvaindo dentro de si mesma.
Não há nada que me fascine mais no mundo.
Preso dentro das ilusões que eu mesmo criei.
Aquele brilho de antes não voltará mais.
Ninguém mais sentirá minha falta...

Tento descobrir como isso pode chegar onde está.
Busco a resposta sabendo que não quero encontrá-la.
Sobrevivendo em um abismo totalmente particular.
Perdido dentro das profundezas da minha alma.
Ninguém mais sentirá minha falta...

Conhecia todos e agora não desconheço quem sou.
Tento achar em vão as distantes lembranças felizes.
Agora minha mente não está mais tão clara.
Estou totalmente enamorado por minha tristeza.
Ninguém mais sentirá minha falta...

Há um silêncio ensurdecedor me incomodando.
A escuridão tomou conta de tudo que vejo.
O vazio que ficou é a única coisa que me conforta.
As trevas crescem me libertando de mim mesmo.
Ninguém mais sentirá minha falta...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sombra

Olho em sua direção e não está mais lá.
Tento desesperadamente encontrar.
Ficou apenas uma sombra do que foi.

Como isso pode ser possível?
Algo tão intenso poderia não existir mais?
Será que irei compreender um dia?

Imagino que tenha ido para um lugar melhor,
Mas apenas às vezes isso me conforta,
Pois é melhor que acreditar que apenas não exista mais.

Não pode ter apenas desaparecido!
Deve existir ainda!
Tem que existir ainda!

Está na minha mente e no meu coração.
Faz parte da minha alma e do meu corpo.
Ainda está viva bem dentro de mim...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Flor de Lótus


O rio levava suavemente as pétalas brancas de cerejeira enquanto provocava um ruído baixo que acalmava os dois. Mestre e Aluno. Ambos contemplavam a beleza da natureza e o espetáculo que os Deuses lhes proporcionavam aquele dia.
Entretanto era outra flor alva que chamou a atenção do discípulo. Perto da beirada do rio estava uma, apenas uma, Flor de Lótus. Era lindo ver as flores caídas da árvore tocá-la delicadamente.
O espadachim respirou fundo. Fechou os olhos e tentou se harmonizar mais uma vez com o universo à sua volta. Meditou. Descobriu que não conseguia manter a mente vazia, como deveria, pois vinha sempre a imagem da Flor de Lótus.
Abriu os olhos.
- Mestre?
- Sim?
- Não consigo meditar!
- Por quê?
- Não me sai da mente aquela Flor de Lótus...
O aluno apontou para a flor e o mestre olhou admirado que tal beleza tinha sido percebida por seu jovem samurai e não por ele mesmo!
- Uma Flor de Lótus! – exclamou o velho mestre. – Sabia que esta planta é considerada sagrada na Índia?
- Não!
- Claro que não sabia! Não é mesmo?
O discípulo abaixou o rosto envergonhado. Era bom com a espada. Considerado o melhor de todo Japão. No entanto, faltava-lhe a cultura que era exigida dos outros samurais, pois tinha se dedicado muito ao caminho da espada.
- Não se preocupe! – tranqüilizou o mestre. – Vou lhe contar a história.
O velho se sentou, com as pernas cruzadas, em frente ao jovem. Era uma postura estranha, pois a forma respeitosa de um samurai se sentar era sobre os joelhos. O espadachim titubeou, mas fez o mesmo.
- Essa flor, meu jovem, está ligada ao grande Buda. Existe uma base para se sentar, esta que estamos usando, que é chamada pelos indianos de postura da Flor de Lótus. Foi assim que Buda atingiu seu estado mais elevado e chamamos esta forma aqui de Seiza no Kamae. Mas desconfio que esta base seja anterior ao budismo.
O aluno tentou manter a posição, mas percebeu o quanto era difícil. Perseverante, continuou firme tentando imitar seu mestre que voltou a falar:
- A mística sobre essa planta está na forma que ela cresce. Veja! – o velho apontou para a planta – A Flor de Lótus nasce na beirada do rio, em meio a toda lama. Mesmo assim ela desabrocha, sobre a água, ainda branca e límpida!
- Impressionante! – surpreendeu-se o discípulo. – Como se a sujeira que tem em sua volta não maculasse suas pétalas!
- Exatamente! – animou-se o mestre. – Exatamente! Mesmo que todo o mal nos cerque, que todas as impurezas nos rodeiem, devemos ser como a Flor de Lótus! Devemos sempre nos manter puros!
- Sim, eu entendo!
- Este é o caminho da espada! O caminho da perfeição! O caminho do guerreiro!
- Bushido!
- Correto! Diminua, reflita e aprenda!
Ambos se levantaram em silêncio. Estavam cansados. O aluno imaginava que as lições tinham acabado naquele dia, mas o mestre sabia que sempre existiam mais a aprender. Caminharam calmamente para a ponte a fim de voltar à vila.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Discurso de Alamor

Eis que observo o campo de batalha e reconheço os meus
Amazonas e cavaleiros forjados pela guerra e pela honra
Ligados entre si por um Voto e pela Medina
Honrando a antiga promessa pela espada e pelo escudo
Protegendo aqueles que o servem e os que oram por vós.

Olho mais adiante e me deparo com hostes escuras
Vêm com sua vontade de ferro e lâminas cruéis
Unidos por um código de medo e submissão
Transformando o acordo ancestral em um pacto
Eles querem furtar nossa esperança trazendo a desolação.

Entretanto não devem temer essa hedionda tempestade
Mesmo que quebrem todos os seus escudos de aço
Mesmo que abalem suas coragens lendárias
Mesmo que tragam as mais terríveis bestas do abismo
A fé em nossos Deuses nos tornará implacáveis.

Bardos e heraldos declamaram nossos feitos desse dia
Muitos dirão que lutamos pela nossa própria vida
No entanto, este não é um embate por nós mesmos
Lutamos por aqueles que foram privados de suas casas
Levaremos o conforto para aqueles que tanto sofreram.

Somos o arauto do glorioso resplendor
Nossas flâmulas trazem a luz do amanhecer
Se entes amados foram ceifados por forças escuras
Retribuiremos com a força e velocidade do vento leste
Cavalgaremos para o fim de todas as coisas.

sábado, 12 de junho de 2010

Eu te Amo

“Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?”
Vinicius de Morais

Vitória olhava para as pétalas alvas dos lírios do campo e apenas sentia mais tristeza. Não era uma mulher melancólica, mas os golpes que o destino tinha desferido contra ela nos últimos anos eram inexoráveis. Há pouco tempo ela tinha perdido a avó e a mãe juntas e agora a morte tinha também levado seu amado pai.
Amado pai! Fazia algum tempo que ela não o chamava assim. Ela o culpava pelas mortes da mãe e avó, pois ambas morreram pelos ideais de seu pai. Ele era um político. Um da pior espécie, um político honesto. Infelizmente era assim em um país onde a corrupção reinara e devido à honradez dele, devido à sua ética inabalável, inocentes foram mortos. A mãe e avó de Vitória foram mortas...
Entretanto tudo mudara agora. Ela lia a lápide em sua frente. Fernando Roberto Vilela e não mais tinha raiva desse nome. Seu pai estava morto agora e nem enterrá-lo ela podia, pois nem imaginava onde estava seu corpo. Sabia apenas que estava morto e resolveu homenageá-lo de alguma forma no jardim em frente à sua casa.
Queria tê-lo visto pela última vez. Queria dizer que o amava ainda e que suas dores eram iguais, pois ambos perderam suas mães juntos. Queria ter dito que não era culpa dele, mas ela não podia fazer isso mais. Era horrível a sensação de amar alguém e não poder se expressar. Não poder dizer que o amava e tendo esse sentimento apenas para si. Ela queria gritar! Gritar tão alto para que ele ouvisse aonde quer que estivesse naquele momento. Aquilo a sufocava, mas nada fez além de olhar para a fria lápide de mármore escura. Era dolorido não poder dizer eu te amo!
Sabia que poucas pessoas iriam vir prestar essa última homenagem, mas estavam apenas ela e uma ex-aluna de seu pai. A mesma mulher que trouxe a fatídica notícia de sua morte. Ela estava com Roberto momentos antes desta. Como Vitória invejava aquela jovem francesa!
Eleanor LeBeau tinha vindo ao Brasil para realizar um trabalho com Roberto, ambos eram arqueólogos, mas tudo tinha dado errado e o velho homem havia sacrificado a própria vida pela jovem. A francesa sentia certa culpa por isso. Sentia que tinha privado Vitória de seu amado pai, mas não imaginava que a dor que a filha sentia era bem maior que isso.
Lágrimas percorriam a face de Vitória enquanto ela olhava para o chapéu fedora que Eleanor estava carregando. Sabia que era de seu pai e não entendia o porquê de aquilo estar com a francesa. Viu quando a mulher partiu colocando o chapéu na cabeça e percebeu que aquilo significava muito para ela, para ambas.
Vitória voltou a olhar para a lápide e mais uma vez leu o nome de seu pai. Ficou ali por um bom tempo. Ajoelhou-se em meio ao jardim de lírios do campo. Fechou os olhos e sentiu uma necessidade de pedir desculpas, mas não o fez. Ela disse apenas, em uma voz tão suave que não era mais que um sussurro, eu te amo...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ao Inimigo

Observo mais uma vez a tenebrosa tempestade
Vejo-me novamente bem no olho do furacão
Os demônios ainda dançam em minha volta.

Agora não temo mais a escuridão e o silêncio
Suas injurias não abalam minha vontade
Sou inabalável como as fundações da Terra.

E agradeço tudo isso ao inimigo e suas hostes
A todos que se colocaram diante de mim
Aos obstáculos que atravancaram meu caminho.

Se não fosse por tudo isso eu não seria quem sou
Não teria toda a força que tenho agora
Forjado em meio a um mar de desilusões.

Posso caminhar calmamente em meio à tormenta
Sorrio ao reconhecer meu inimigo pessoal
Travarei somente o bom combate!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Beco do Crime


Era uma noite de estréia e, como toda noite assim, a cidade estava em uma balbúrdia. Todos queriam ver o filme mais esperado do ano, Zorro! Os cinemas naquele tempo uniam os mais variados cidadãos. Não importava se você era pobre ou rico, qualquer criança adorava o Zorro. De fato, qualquer um adoraria um homem mascarado, vestido de preto e que combate a injustiça. Mas aquela não seria uma noite qualquer...
Estavam saindo do cinema aquela noite vários casais com seus filhos, mas um casal em especial, Thomas e Martha Wayne. Os Wayne eram donos de um dos maiores patrimônios dos Estados Unidos. Embora dono de várias empresas, Thomas Wayne era médico e não cuidava pessoalmente de suas empresas. Tinha apenas um único filho, Bruce, que herdaria todo o seu patrimônio.
Eles passeavam distraídos com a empolgação de seu único filho, Bruce, pelo filme. Que pulava, corria e se movia como o Zorro, brincando pela rua.
- Você não pode me pegar Sargento Garcia! – gritava o menino imitando o herói.
Os pais riram. Era seu único filho e assim todas suas atenções iriam para ele. Um bom garoto, julgava o pai. Tinha poucos, mas bons amigos e a fortuna da família não tinha sido nociva para sua criação. Não era um garoto mimado ou arrogante, apenas feliz.
Distraídos, os Wayne mal percebiam que estavam passando pelo perigoso bairro de Bowery, um local que, embora já tinha sido a antiga morada do fundador da cidade, o Capitão sueco Jon Logerquist, hoje era um dos mais perigosos bairros de Gotham.
Entraram em um beco e não viram quando um homem se aproximou deles. Alguém, que não parecia mais que um mendigo. Sujo e mal vestido era a representação da pobreza e decadência que aquela cidade estava passando. O homem apontou uma arma para eles que não faziam idéia de onde tinham se metido. O assaltante, tremendo e vacilante, falou.
- Sua carteira e suas jóias.
- Calma – disse o Thomas – Tudo vai ficar bem, tenha calma!
Tirando, bem lentamente, a carteira do bolso ele a entregou ao bandido, que pegou e guardou, mas ainda apontando a arma para Martha, voltou a falar.
- Agora eu quero as jóias dela.
- Não! Esse colar está na família há muito tempo!
- Ótimo, quer dizer que são caras! Quero agora!
- Por favor, você não entende...
O pai foi à frente do assaltante para impedi-lo de pegar as jóias da esposa. Acreditando que Thomas estava tentando reagir, o bandido atirou e atingiu-o no peito. Martha gritou, apavorada pelo que acontecera e o marginal atirou nela duas vezes arrancando o colar de seu pescoço que arrebentou a caiu no chão.
Assustado o bandido correu e fugiu deixando para trás o menino que estava ajoelhado em frente aos corpos já sem vida de seus pais. Sozinho naquele escuro beco, sem entender o que aconteceu, sem poder fazer nada. Havia apenas o silêncio...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Aparência...

Embora exista até um comercial dizendo que a imagem não é nada, aprendi na publicidade que as aparências podem influenciar muito!
Alguns vão querer negar, mas a primeira impressão pode marcar o conceito que as pessoas têm sobre um individuo, pois muitas vezes quem você é realmente não importa. Vivemos fazendo projeções das pessoas e esperamos que elas agissem de acordo com o que imaginamos. Esquecemos que cada indivíduo é único e que não compreendemos completamente as pessoas e quase sempre julgamos errados aqueles que nos cercam.
Tenho um grande amigo que exemplifica tão bem o que estou escrevendo que ele me faz refletir muito sobre esse assunto.
A primeira vista pode-se achar que meu amigo é um playboy típico. Vai à academia quase todos os dias, se veste bem, tem carro e sempre está azarando alguma garota nas festas. Um legítimo Don Juan, ou alguns ainda o chamaria de galinha, mas será que ele é assim mesmo?
Eu mesmo tinha essa imagem e pouco conversava com ele, embora o destino tenha sempre nos juntado, seja como vizinho de república, seja morando na mesma pensão. Isso fez com que eu o entendesse cada vez mais e percebi que ele era bem diferente do que todos, até eu, pensavam.
A primeira coisa que se percebe nele, e não se esperava, é a amizade. Grande companheiro que não o abandona nas festas para pegar aquelas garotas e parceiro nas melhores e piores horas. Sempre preocupado com todos em sua volta e sempre buscando apaziguar brigas para manter um ambiente agradável. Possui a mente aberta e está sempre pronto para conversar. Sabe levar as críticas muito bem e sabe quando deve criticar também.
Não liga tanto para as aparências, ao contrário do que possa parecer.
Muitos podem achá-lo superficial, mas é dotado de uma inteligência impar e capacidade incrível de compreender as pessoas, sempre vendo o outro lado da história.
Há pessoas, em nosso convívio, que ainda julgam mal meu amigo, mas ele é uma das pessoas de melhor caráter que eu tive o privilégio de conhecer.
Como sempre as pessoas são mais profundas que imaginamos e nem sempre elas agem da forma que esperamos. Devemos entender que as pessoas não são boas ou más, todas elas têm qualidades e defeitos e devemos aceitar e amar ambos, pois é isso que nos torna fiéis amigos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Restauração

Ele olhou para a mesa que estava sentado e alisou mais uma vez o chapéu sentindo seu corpo revigorar-se de uma longa e inexorável demanda. Como se sua antiga força e vontade voltassem, algo que julgava estar esquecido, mas ainda era capaz de se lembrar. Respirou fundo e colocou o chapéu...

sábado, 5 de junho de 2010

Minha Honra é minha Vida

E apenas no silêncio da sua alma ele escuta a batida da solidão.
Um segundo coração, lento, que pulsa no ritmo das saudades.
Suas lembranças remetem a uma busca estóica e vazia.

O limiar de sua trajetória é envolto por brumas.
Destituído se seu passado cheio de glórias.
Um futuro construído sem esperanças.

Guiado por um voto que preserva dentro de si.
Ele não o segue, mas o personifica.
Um código de honra e de vida...

Adaptado dos contos de Dan Mishkin

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Constatação!

Você adquiriu a incrível habilidade de perceber o óbvio!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Amigo de Infância

É muito difícil para mim falar de você,
mas a saudade que tenho de ti irá me guiar!
Sou seu amigo a mais tempo que posso me lembrar.
Foi todos esses anos meu melhor amigo, sempre!
E quanto a isso não é muito difícil saber o motivo...
Querido amigo, você sempre foi leal e companheiro
de todas as horas ruins ou boas sempre positivo!
Me apoiou sempre, mesmo quando eu estava errado!
Possui um catáter honroso inquestionável e declarado.
É simplesmente um gentleman, amigo e sempre alegre.
Uma daquelas pessoas queridas que sempre queremos perto!
Você tem mais qualidades que eu posso compreender!
Sempre que eu tento ser uma pessoa melhor do que sou
eu lembro de você meu caro e assim sei como devo ser.
Saudoso amigo, você é a melhor pessoa que eu conheço!

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Diário


“A emoção mais antiga e forte da humanidade é o medo”
H.P. Lovecraft

Inicialmente, como em todo diário, acredito, eu deveria começar por meu nome, mas antes devo avisá-lo que se você encontrou este caderno surrado por acidente feche-o agora! Pare de ler e volte à sua vidinha comum em que você não percebe nada rastejando pelas sombras. Há uma espécie de brumas que distorcem sua percepção impedindo que enxergue com clareza. Abrace isso com força e não tente fazer coisas que vão além de se voltar para casa em tempo de assistir à novela das oito. A alienação por muitas vezes é uma benção, assim mate todo e qualquer instinto investigativo que possa ter em sua personalidade. Você sabe o que a curiosidade fez ao gato...
Mesmo que não tenha sido um acidente, que abrir esse diário tenha sido de forma deliberada, mesmo que já tenha chegado à conclusão de que não estamos sós, eu insisto em adverti-lo, ainda sim, para não continuar, pois acabará chegando a um caminho sem volta. A partir daqui, mesmo que você queira, não irá mais conseguir viver no mundo com as outras pessoas, pois o véu que cobria seus olhos será retirado.
Mas desculpe minha falta de educação, devo me apresentar antes de mais nada, pois isso é um diário afinal de contas!
Meu nome é Luiz Eduardo de Oliveira Vaz e Monforte e sim, fui vítima de muitas chacotas quando era menor, mas meu nome evidencia minha descendência aristocrática mineira. Sou filho de grandes fazendeiros e antigos coronéis que comandavam a região do Sul de Minas Gerais há muito tempo e isso me rendeu passagem segura para viajar e fazer faculdade participando do Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo da Unicamp.
Era algo grande, mas eu simplesmente voltei para minha pequena Passos e seu jornal local chamado Folha da Manhã. Entretanto isso não é o mais peculiar em minha vida, pois adquiri, ao longo de minhas viagens pelo interior do Brasil, habilidades específicas de investigação que deixaria constrangido qualquer perito da Criminalística Forense. Fora meu treinamento com diversos tipos de armamentos, luta desarmada e sobrevivência. No entanto, não é em mim que você está interessado, mas nas coisas que eu não deveria ter visto, pois eu descobri coisas que ninguém deveria saber.
Sempre acreditei que quanto mais conhecimento eu obtivesse, melhor seria minha vida. Aprendi isso mesmo vivendo em uma cidade em que o pensamento conservador ainda a influencia muito, apesar do aparente progresso. Os mais velhos dizem que estudo é para quem quer virar vagabundo, mas essa mentalidade já havia abandonado as escolas. Assim meu pai custeou meus estudos e pude entrar em uma faculdade pública. No entanto, hoje eu questiono se realmente o que eu sei me fez viver melhor.
Volto a advertir que pare de ler esse diário agora! Não importa como ou o porquê você o encontrou, feche-o agora, ou melhor, ateie fogo neste velho caderno que era o que eu deveria ter feito. Faça isso e talvez, quem sabe, possa voltar à sua vida medíocre e assistir novamente aos programas de auditório no domingo à tarde sem ter a menor idéia do que o rodeia.
Escrevi este relato mais para não ficar louco do que apenas para produzir minha matéria e garantir meu Prêmio Esso de Jornalismo. Esse era meu sonho, mas isso era algo totalmente utópico, apenas devaneios da mente ingênua que eu tinha quando encontrei aquele maldito padre pela primeira vez na miserável cidadezinha de Fortaleza de Minas não muito longe de Passos. Mesmo porque eu não vou conseguir que nenhum jornal respeitável, talvez nem um tablóide, publique o que está escrito aqui. Se eu tentar provavelmente irei para um hospício e essa, devo confessar, não seria a primeira vez e provavelmente não será a última.
O que encontrará aqui vai desafiar sua razão e o que você acredita ser real. Já vi muitas pessoas enlouquecerem com esse conhecimento ao longo das minhas pesquisas e penso se eu mesmo ainda mantenho minha sanidade intacta.
Existe algo lá fora que é formado pelos medos mais íntimos das pessoas. Sua intuição está correta em ter medo da escuridão, esse é seu instinto mais primitivo e aprenda a respeitá-lo. Você sabia disso quando era menor e felizmente esqueceu-se disso quando cresceu e sua vida adulta o fez parar de acreditar no que chamavam de fantasia.
Desde o início dos tempos o homem sabe que não está sozinho e todas as culturas e religiões têm suas próprias lendas para revelar essa assustadora, mas inegável realidade. Entretanto você não encontrará a verdade aqui e digo que a busca por ela é algo impossível, pois o máximo que se consegue é vislumbrar o que realmente está em volta de nós. Indagações apenas trazem mais perguntas e a escuridão oculta somente mais sombras.
Você está certo em temer o que o acorda no meio da noite com calafrios, pois provavelmente o que fez os cães uivarem de modo tão sinistro é bem pior que sua mente limitada é capaz de imaginar e isso é justamente o que eu tenho combatido nesses longos anos, meu caro. Assim, embora você possa encontrar vários depoimentos, relatos e fotos, frutos de intensas e perigosas investigações, este não é um relato de um jornalista. Mas o diário de um caçador e, meu inconseqüente leitor, o que eu persigo está nos seus mais medonhos pesadelos...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cotidiano...


Era um homem comum em um dia normal de uma cidade qualquer. Não havia nada de especial nele como não há nesta história. Se estiver procurando algum conto fantástico de pessoas incríveis e originais procure outros escritos meus ou vá para outro blog. Este aqui é sobre pessoas do cotidiano...
Ele estava no fim de um dia como todos os outros e, como tal, estava cansado das aulas e do estudo diligente para uma prova.
Nada demais!
De repente ele se assusta com um telefonema. Foi atender e era sua amiga. Uma daquelas amigas próximas que todos nós temos. As que contam seus segredos e desilusões e nos permite fazer o mesmo. Uma companheira para os dias mais escuros e os dias mais felizes.
Aquele na verdade era um dia escuro. Ambos estavam passando por uma péssima situação financeira. Estudavam, mas não tinham emprego. A situação tinha apartado e os dois não tinham sequer dinheiro para jantar naquela noite.
Ela o convidou para ir a sua casa. Morava perto. Ele foi tranquilamente olhando as pessoas na rua, apreciando a noite e desesperadamente tentando tirar poesia das pessoas e lugares que passava pelo caminho. Não conseguiu. Tudo era irritantemente comum. Estava pessimista e isso era normal para alguém na situação dele. Tanto a fazer e tão pouco tempo...
Estava velho, a seu ver, para a faculdade. Não tinha emprego e estava duro. Pensava que já devia ter conquistado muito e nada tinha feito. Às vezes pelas circunstâncias da vida, às vezes por culpa dele mesmo. Estava ali, andando, e o destino tinha se revelado novamente para ele. Era um momento crítico e ele até sabia o que fazer, mas seria extremamente difícil e penoso. Faria, mas era incerto se conseguiria.
Chegou à casa da amiga que demorou um pouco para atender. Quando ela chegou ao portão ele pôde admirar, como sempre, a forma que a garota estava vestida. Uma blusinha verde listrada e calça jeans surradas, uma roupa simples. A amiga sempre estava bem-vestida, mas aquele dia deveria ser o mais comum de todos. Sua roupa era bonita, mas nada perto do que ele já tinha visto. Era um dia normal.
Entraram e conversaram um pouco. Descobriram que juntos não conseguiriam tirar nada para comer aquele dia. Dois desgraçados que não tinham nada!
No entanto, a garota teve uma idéia, na verdade uma lembrança veio à sua mente. Ela tinha um cartão que nunca havia usado. Era o cartão de uma loja, mas também funcionava como cartão de crédito. Não sabiam se funcionaria realmente, mas da forma que estava era a única alternativa.
Naquela hora da noite apenas as lanchonetes estavam abertas. Como não sabiam do futuro eles não queriam gastar muito. A solução veio como um lugar que servia hot-dog. Era grande e barato, assim se dirigiram ao local.
Não era muito perto de onde eles moravam, mas dava para ir tranquilamente a pé e mesmo porque eles não tinham outra opção. Foram passos rápidos e com pouca conversa, pois a fome estava apertando.
Chegaram ao lugar e encontraram, como de costume, uma grande fila e tiveram que esperar mais.
Dor no estômago!
Fizeram o pedido, mesmo a menina pediu o maior lanche, e ficaram esperando o cartão passar. Era aquela expectativa que apenas as pessoas que já passaram por aquilo sabiam. Será que tinha saldo? Funcionaria? Impressionante como os segundos ficam longos em determinadas situações.
Frio no estômago!
O cartão passou e a reação de alívio ficou tão evidente nos dois que até o homem que estava no caixa achou aquilo estranho.
Sentaram. Ela foi lavar as mãos e ele arrumou as cadeiras. Esperaram os lanches que pareciam que nunca chegariam.
Os hot-dogs chegaram. Sem cerimônias costumeiras ambos comeram os lanches. Normalmente já era complicado comer aquilo, pois era grande e acabava caindo um pouco se não tivesse cuidado, mas não se importaram.
Logo nas primeiras mordidas a menina tinha sujado todo o seu nariz de purê de batata. Ela sorriu envergonhada e aquilo foi engraçadíssimo!
Ele quis tirar uma foto dela, a amiga protestou, mas aceitou mesmo assim. A foto não saiu boa, mas mesmo assim ele não se importou. Aquela imagem dela ficaria na sua mente para o resto de seus dias. A amizade dela e o carinho ele levaria eternamente em seu coração.
A amiga estava feliz por aquele momento, não apenas por saciar a própria fome, mas também por ter ajudado o amigo. Alguém que sempre fora prestativo e tinha ajudado nos dias negros dela também. Queria muito ajudá-lo, pois era bem quisto. Mal ela sabia que aquela tinha sido a única refeição dele aquele dia...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ane.

Ariane Fernandes Machado.
Sagrada protetora que vem voando nos acalentar, nosso anjo!
Voe alto sobre os ramos de tulipas, delicada borboleta!
Inspirando a alma com o perfume de seus encantos.
Minha querida amiga, irmã senão de sangue, irmã de alma!

Os demônios do que foi podem até atormentá-la.
No entanto não deves acreditar nestas injúrias.
Pois foi longa e tortuosa estrada até chegares aqui.
Conquistaste mais coisas do que podes perceber.
Isto eles não podem roubar de ti.

Tens conquistado cada vez mais o mundo.
Nem todas as dores incrustadas de um poema não lido,
podem apagar a luz da essência de tua alma que sai pelos teus dedos.
Liberte de ti mesma redimida em um leito de jasmins.
Não estais condenada às teias de lamentações...

Componha em palavras o que se descompõe em lágrimas.
Permita-se viver não se perdendo em suas lembranças!
Escrevendo a ti mesma ao tentar desnudar-se do passado.
Pois sempre se sentirá em casa dentro do meu coração.
Quando a dor for pesada demais, um anjo de cabeceira ajudará a carregá-la.

Enfim venere apenas tuas alegrias e acene derradeiramente para as mágoas.
Ache a ti mesma e vai-te a fundo decifrando teus segredos.
Tire de dentro de ti o negror que alimenta tua tristeza.
Encare de forma diferente os cheiros, livros e músicas.
Continue a mulher madura de 21 e a menina ingênua de 12...

Feliz Aniversário minha querida amiga!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Cerejeira


O grande guerreiro estava sentado taciturno em frente à exuberante árvore de cerejeira. Era talvez o mais hábil dos samurais do Imperador. Um especialista na técnica de Iaijutsu, ou saque rápido com sabre. O mais mortal dos estilos de luta.
Ali, sentado sobre os joelhos, ele meditava sobre as palavras de seu mestre, que se encontrava logo atrás, imaginando se estava no caminho certo. O caminho da espada!
Tinha vencido muitos inimigos e eram tempos negros aqueles realmente, mas era conhecido como o melhor dos espadachins de seu tempo. Isso o fazia ser um homem orgulhoso e confiante, algo que vinha preocupando seu mestre.
Lentamente ele abriu os olhos e viu as flores alvas que delicadamente descansavam sobre os galhos finos, mas firmes, da Cerejeira. O vento soprava tão suavemente que ainda não tinha derrubado nenhuma daquelas lindas pétalas no chão.
O guerreiro ficou impaciente e resolveu golpear o tronco da árvore com o cabo de sua espada.
Surtiu efeito!
As flores começaram a cair pelo impacto do golpe e finalmente o homem se pôs de pé e golpeou novamente a fim de cortar as flores que caíam suavemente.
Mas as pétalas foram levadas pelo vento do norte e, como se fosse uma ação deliberada, desviaram do fio da lâmina do samurai.
Aquilo não estava certo! Ele estava errando em algo e, voltando a se sentar, contemporizou sobre sua falha. Logo percebeu que sua falta estava em golpear duas vezes, uma para fazer as flores caírem e outra para golpeá-las.
Sim! Muita energia era perdida no primeiro golpe. O espadachim deveria esperar pacientemente que o próprio vento derrubasse as pétalas. Devia deixar a natureza seguir seu curso.
O samurai fechou os olhos e pôde sentir o vento percorrer-lhe a face. Ouviu o sibilar do canto dos pássaros e o som das águas límpidas do rio próximo que não passava de um confortante sussurro. O guerreiro pôde sentir a natureza em sua volta expandindo seus sentidos. Sua alma tocou o espírito da Cerejeira e finalmente ele se tornou uno com o universo em sua volta.
Percebeu que tudo estava ligado. O bosque, a árvore e ele eram uma coisa só.
Assim pôde sentir claramente o vento norte soprar e ouviu o ruído das pétalas se desprendendo da Cerejeira tão nitidamente que quase podia vê-las.
O golpe foi desferido de forma perfeita. Mais rápido que os olhos de seu mestre, mas mesmo assim nenhuma das flores foi arrebatada no ar como pretendia o habilidoso samurai...
- Não está certo! – bradou o espadachim. – O que me pede é impossível!
- Por quê? – perguntou o mestre – Não seria mais obvio que você esteja em falta com seu treinamento?
- Sim! – respondeu o discípulo admirando a Cerejeira. – Mas a natureza é poderosa demais, não me envergonho de ter sido derrotado por uma força tão esplêndida!
- Então uma árvore derrotou o maior guerreiro de seu tempo?
- Claro, pois está na Cerejeira a alma de um samurai!
- Sim, de fato! – concluiu o ancião. – És apenas uma parte do todo. O maior dos homens do Imperador, mas ainda passível de ser derrotado! Ninguém é imbatível como seu ego imaginava. Diminua, reflita e aprenda!
Os dois, mestre e aluno, ficaram a contemplar as pétalas de Cerejeira que delicadamente caíam sobre o rio e tingiam as águas anis de uma tonalidade alva e pura como as nuvens que desafiavam o azul celestial...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Lar é onde está o coração!

Estais distante da sua antiga morada...
Pode ser que demore a entender isso.
A saudade irá apertar e você irá querer voltar.
Entretanto ir e vir não fará muito bem.
Logo não se sentirá confortável,
nem na nova morada como na derradeira.
Então você não saberá mais onde mora.
Não terá mais lugar para ir.
Você não se sentirá em casa em lugar nenhum.
No entanto, tens ainda um refúgio!
Um lugar para aquecê-la.
Um lugar para descansar.
Um lugar para chamar de casa.
Sua casa será o meu coração!
Você mora para sempre em meu coração...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Luz e Sombra

No início vemos apenas estrelas no céu
Elas nos inspiram a fazer o certo,
Elas iluminam e nos preenchem de vida!

Logo vem a avassaladora tempestade
Escurecendo inexoravelmente toda a luz
É quando perdemos toda a esperança!

Mas surge o resplendor do dia
Para nos provar que nada está perdido
Vencendo a escuridão de uma vez por todas!

Amar Errado

É errado amar alguém?
Se você ama a pessoa e é correspondido é fácil responder a essa pergunta, mas e quando isso não acontece?
Lembro da música do Kid Abelha e realmente devemos agradecer quando a vida coloca em nosso caminho um amor correspondido, mas e quando isso não ocorre?
E quando o destino se zanga?
Brigas e desentendimentos podem acabar com um amor. Nossos pais podem nos expulsar de casa, nossos amigos podem não olhar mais para nós quando andamos na rua, o amor de nossas vidas pode estar com outro alguém qualquer...
No entanto, e se mesmo assim continuarmos amando?
Mesmo que não nos dêem esperança, mesmo que seja um amor imaginário em que acreditamos em apenas meias verdades, às vezes acontece de continuarmos amando aquela pessoa tão maravilhosa para nós.
O que fazer quando isso acontece?
Muitos podem simplesmente dizer se afaste, mas realmente conseguimos fazer isso?
Afastado ainda levo na lembrança aquela pessoa que me persegue para onde quer que eu vá, mas nada é pior que vê-la todos os dias...
Ter alguém que amamos bem perto e não poder declarar nosso sentimento. Não poder beijá-la. Não poder amá-la da forma mais sublime. Não poder ter esse carinho...
Vemos seus erros e não podemos fazer nada. Vemos suas desilusões amorosas e não podemos dizer que estamos ali, que será diferente conosco!
Não poder dizer eu te amo!
Seria errado gostar de alguém assim?
Seria errado tentar conquistá-la?
Seria errado continuar amando?
É errado amar?
Existe isso de amar errado?

domingo, 9 de maio de 2010

Acalento do Desespero

“Este homem que vos fala,
Não é somente um poeta cantor
E esta canção que vos embala,
Nunca deverá ser um desabafo de dor.

Uma exaltação que nunca se cala,
Nem diante do mais forte ardor
Mesmo a escuridão desta sala,
Ilumina-se ante o caloroso amor.”

Poema escrito em parceria com Ariane Fernandes

sábado, 8 de maio de 2010

Noite Tenebrosa

Adormecida na putrefação de sua própria existência
A noite tenebrosa abala tudo que perto dela ousa chegar
Quantos de nós pediram por clemência,
E aos nossos Deuses retornamos a chorar?

Quão furiosa ao se despertar
Com seu negror a nos consumir
Mas não nos deixemos amedrontar!
Um leal companheiro nunca tarda a reagir!

Sejamos tão corajosos quanto podemos ser,
Sigamos com fé que alcançaremos nossos ideais,
Mesmo que nas profundezas tenhamos que descer!
Heraldos declamam nossos feitos e nos tornaremos imortais!

Poema escrito em parceria com Ariane Fernandes

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A Borboleta e o Urso

A borboleta encontrou o urso!
Viu que os animais fugiam dele,
mas algo estranho ocorreu...
Ela não ficou com medo,
pois viu o olhar amigo do urso!

Confiante a borboleta se aproximou!
Não via a maldade no urso,
mas havia certo receio...
Enfim a borboleta pousou no fucinho,
mas o urso nada fez!

Os dois ficaram em silêncio!
O urso estava totalmente perplexo,
pois nunca tinha visto uma borboleta tão corajosa...
A pequena ficou feliz,
já que percebera a admiração que provocava!

O urso subitamente se mexeu!
Tocou com cuidado a borboleta,
mas ele era muito bruto...
Segurou a pequena com suas garras sujas,
assim machucou a borboleta!

A Borboleta caiu no campo!
O Urso ficou triste,
pois apenas queria acariciá-la...
Entretanto a borboleta voltou a voar,
pois tinha aprendido a ser forte!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

... O Urso

Era uma vez um urso!
O animal mais forte da floresta,
mas ele vivia sendo caçado...
Tinha muitos talentos,
assim muitos queriam sua morte!

O urso tinha que lutar sempre!
Era muito corajoso,
mas também muito temido...
Não tinha amigos na floresta,
pois suas garras sempre tinham sangue!

A solidão o acompanhava!
Tinha um bom coração,
mas sua vida o tornara bruto...
Sempre bravo e ameaçador,
pois ninguém gostava dele!

Conhecia apenas os caçadores!
Seu urro era alto e poderoso,
mas era um grito de dor...
Não queria mais estar sozinho,
mas que animal se aproximaria dele?

A Borboleta...

Era uma vez uma pequena lagarta!
A lagarta vivia triste e desconsolada,
pois era feia e não tinha muita inteligência...
Ela era muito estabanada e desengonçada,
mesmo para uma lagarta!

Todos os animais da floresta riam da pobrezinha!
Diziam todos que não havia talentos na lagarta,
logo a pequena lagarta se isolava cada vez mais...
Não conseguia mais suportar as provocações,
assim a lagarta voltou-se para si mesma!

Em seu casulo a lagarta ficou!
Sozinha ela começou a refletir,
mas não mais triste a pequena ficava...
Finalmente ela percebeu que não era feia,
pois todos tinham inveja da lagarta!

Assim a lagarta virou uma borboleta!
Toda feliz ela saiu do casulo,
para enfim ganhar o mundo...
Os animais sentiam ainda mais inveja,
mas a borboleta voava por cima deles!

Agora a borboleta era dona de si!
Pairava pelo campo de tulipas,
ela não era a única beleza no mundo...
Suas asas eram fortes e firmes,
pois o céu era da borboleta agora!

Poema dos Seis Heróis

“A palavra será a redenção dos pecadores
Apenas o mais misericordioso a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O escudo será a proteção dos desamparados
Apenas o mais honrado o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A espada será a justiça dos oprimidos
Apenas o mais temerário a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O cajado será a lei dos desesperados
Apenas o mais prudente o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A flecha será o equilíbrio dos soberbos
Apenas o mais sábio a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O machado será a vingança dos esquecidos
Apenas o mais audacioso o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas”

domingo, 2 de maio de 2010

Quem quer viver para sempre?


“There's no time for us
There's no place for us
What is this thing that builds our dreams
And slips away from us?
Who wants to live forever?”
Queen

Meu nome é Raphael Albuquerque Gonçalo Dias de Castelo Branco e Oliveira. Nasci em 1557 na Cidade do Porto em minha amada Portugal. Tive minha primeira morte na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578. Sim, minha primeira morte! São como nós chamamos o despertar para a imortalidade. Algo que muitos chamariam de bênção, pois imagine não morrer. Imagine atravessar os séculos e ver como tudo muda; as pessoas, os países e as idéias. Tenho quase quinhentos anos e isso não me traz alegria alguma, muito pelo contrário. Não! Isso não é uma bênção, mas uma maldição.
Eu tenho andado pelo mundo afora e isso tem me tornado cada vez mais triste, pois é o que acontece quando não mais se reconhece o mundo. Quando se é criado de uma forma e acaba descobrindo que apenas você pensa deste modo ainda. Quando se torna anacrônico e percebe que não há mais tempo para mudar, para se readaptar. Sua ética e até mesmo seus sentimentos não cabem mais neste mundo. Quando ninguém mais pensa como você!
Tive algumas mulheres, mas fui ficando mais frio à medida que elas envelheciam e eram ceifadas pelo tempo que nunca vinha me buscar. Enterrei muitos amores, sejam mulheres ou sejam amigos e agradeço ao meu Senhor que não tenha me dado filhos, pois não suportaria vê-los envelhecer.
No entanto, algo surpreendente acontece. Encontro uma mulher como eu, imortal, e sou levado a acreditar no amor. Que ela trará o resplendor do dia novamente afastando toda aquela avassaladora tempestade. Tenho esperança de novo, mas não por muito tempo. Quanto mais eu chego perto dela, mais me decepciono. Acho que ela pensa como eu, que tem os mesmos ideais, mas ela é como todas as outras e isso me traz os dias sombrios...
Não, a felicidade que vejo em todas as pessoas não é para mim. Sua débil, mas acolhedora ignorância os faz felizes, mas eu continuo a caminhar sozinho. Continuo no escuro e a esperança me abandonou totalmente.
Isso ocorre quando chego à conclusão que o mundo está errado. Que tudo está errado! Nada é como antes. Os valores se perderam e a moral foi totalmente deturpada nos dias de hoje. Sim! Esse pensamento me conforta por um tempo, isso faz com que eu consiga dormir nas noites frias...
Entretanto, logo percebo que não estou certo e a verdade me golpeia inexoravelmente. Ela não tem piedade em clarear minha mente. Quem está errado sou eu! Afinal não se pode estar certo e todos os outros errados, não?
Não é o mundo que está errado, mas sim eu é que não mais me encaixo nele e percebo hoje que eu nunca me encaixei. Uma exceção à regra, uma anomalia, uma abominação!
Então ao andar nas ruas vejo que tudo se torna onírico como se eu não passasse de um velho fantasma.
Eu não reconheço mais os rostos.
Eu não reconheço mais os lugares.
Eu não reconheço mais nada.
Não está tudo errado! Eu é que não pertenço mais ao mundo.
Eu estou sozinho! Sozinho em meio a uma multidão.

Conto ambientado no universo do filme Highlander.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Legado Mandaloriano


Eu não sou humano. Não pelos conceitos comuns da galáxia. No banco de dados que está em meu CDp (Clone Datapad) estão catalogadas 174 raças vivendo em mais de cem planetas. Nenhuma delas me chamaria de humano, embora provavelmente não soubessem a diferença apenas olhando.
Essas raças, ao contar suas próprias histórias, começam por sua origem, seu nascimentos, seus pais... Eu não posso fazer isso, pois eu não tenho pais, eu não nasci pelos padrões normais. Eu sou um clone.
Criado pelos Kaminoanos, uma raça que se dedica a Biogenética. A clonagem geralmente é pesquisada para transplante de órgãos que salvam muitas vidas, mas não foi esse o propósito dos cientistas de Kamino. Não fui criado para salvar pessoas, mas fui criado para a guerra. Nascido para matar.
O DNA usado para a criação dos clones como eu foi retirado do caçador de recompensas conhecido em toda a galáxia como Jango Fett. O próprio Jango treina as tropas clones, baseado no treinamento que ele mesmo recebeu.
Fett é um Mandaloriano, um antigo grupo de mercenários que se tornou famoso em toda a galáxia, mas foram quase exterminados pelos Jedi. Assim ele é considerado o último deles, pois embora tenham restado alguns outros, mas apenas Jango ainda possui seu antigo código, tornando-se o soldado ideal e por isso foi chamado para ser o modelo dos clones.
Agora nós somos tudo o que sobrou deles, o legado Mandaloriano.


Parte introdutória de um conto meu no Universo de Star Wars!

sábado, 24 de abril de 2010

Instinto


“I feel I change
back to a better day
hair stands on the back of my neck
in wildness is the preservation of the world
so seek the wolf in thyself”
Of wolf and man – Black Album – Metallica

Aos poucos meus sentidos voltam ao normal e agora sinto que minha respiração está cada vez mais calma. Lembro do pesadelo em que me meti e não faço a mínima idéia de como as coisas chegaram a esse ponto. Não é como nos filmes, eu não fui mordido. Não são como as malditas estórias de terror, mas minha vida virara um conto obscuro de Stephen King.
Não sei como isso aconteceu, mas me lembro da minha infância, na qual sempre caçoavam de mim por ser esquisito. Mesmo adulto nada mudou, pois no trabalho nunca consegui uma promoção, nunca me destaquei em qualquer serviço. Ninguém me respeitava e sempre tiravam vantagens da minha bondade. Eu nunca brigava, acho que tinha me acostumado.
Minha calma era sempre confundida com covardia e isso apenas piorava as coisas. Sempre humilhado, sempre passado para trás pelos “colegas” de trabalho, sempre sem amigos. Sinto que passei minha vida inteira sozinho em uma grande multidão de pessoas que vivem nessa cidade corrompida em meio a todo esse cheiro pútrido!
Acho que eu sou amaldiçoado e essa é a única explicação. Depois de tantos anos vivendo prostrado finalmente algo começou a ferver em meu sangue. Uma fúria interior que me dilacera de dentro para fora em um urro selvagem que certamente não consigo mais conter.
Estou nascendo de novo, ou melhor, nascendo pela primeira vez!
Olho em volta e vejo o lugar que tenho trabalhado há anos, mas agora está bem diferente!
Há sangue e corpos retalhados por toda parte. Vejo mesas reviradas e estraçalhadas. Algo aconteceu aqui. Alguém forte e claramente maligno esteve aqui e por algum motivo eu me sinto bem. Faz muito tempo que eu me sentia totalmente sufocado e com uma enorme vontade de liberar o grito que estava preso em minha garganta.
Foi então que quase por instinto eu me aproximo do corpo em pedaços do que foi meu chefe e passo minha mão em seu sangue que jorrava. Levo os dedos à boca e sinto prazer no gosto. Agora entendo que fui eu que fiz tudo isso. Eu sou o maldito que destruiu todo esse lugar e ainda me sinto muito bem por ter feito isso.
Aqueles que trabalhavam comigo não passavam de vermes que me torturavam todos os dias. Agora não são mais que cordeiros cujas vidas foram ceifadas por minhas garras. São presas que sucumbiram perante minha fome insaciável. Caíram ante do rosnado primitivo que tanto ardia em meu interior.
Tiveram sua lição!
Agora entendo porque tinha pesadelos horríveis e acordava com minhas cobertas rasgadas. Apenas agora entendo o porquê os animais fugiam aos guinchos quando me aproximava. Eu sou um predador que caça implacavelmente vagando na escuridão mais tenebrosa da noite enquanto as pessoas dormem.
Ninguém vai me humilhar agora...
Agora começo a escutar ao longe o som das sirenes fazendo a selvageria insurgir novamente dominando meus sentidos, e sei que algo está mudando em mim. Os pêlos na minha nuca se arrepiam. Sinto a dor da minha carne sendo rasgada por dentro e tudo diminui em minha volta.
Esse lugar é apertado e me prende. Quero sair. Eu preciso sair logo daqui! Assim eu pulo a janela e chego à rua em uma queda que ninguém sobreviveria, mas estou mais vivo do que nunca.
As pessoas correm apavoradas quando me vêem e posso farejar o medo impregnado no ar e isso me agrada muito.
Vejo os policiais me cercando. Os malditos provavelmente devem achar que vieram atrás de um psicopata comum, um louco que teve um excesso de fúria no trabalho. Vão logo descobrir que encontraram algo muito pior...
Salto sobre os policias e destroço seus veículos como se fossem feitos de plástico. Os movimentos rápidos liberam meus sentidos gerando uma coragem insana. É mais tarde do que eles imaginavam.
Meu corpo arde em raiva incontrolável e pedindo por mais sangue, por mais de sua suculenta carne. Pelo simples prazer que o som dos ossos partindo me traz.
Vejo o medo em seus olhos e os poucos que não fogem atiram em mim com suas pistolas e escopetas, mas os ferimentos cicatrizam rápido. No entanto, eu sinto a dor e não gosto nem um pouco disso.
Uma dor que aumenta ainda mais minha fúria, liberando minha adrenalina, e ataco com selvageria minhas débeis presas como se não fossem nada. Retalho seus corpos frágeis e libero totalmente a fúria bestial que tenho em meu interior.
Escuto o chamado do vento e corro pelas ruas para fora da névoa dos novos dias em busca de liberdade. Pulsando com a Terra eu vou ao encontro da natureza primitiva.
Chego mais rápido do que imaginava em uma área de bosques nas redondezas da cidade. Não era o que eu imaginava e nem o que precisava, pois não é a selva que procuro. Mas servirá por um tempo, pois ali eu finalmente sinto uma paz reconfortante.
Vejo a lua iluminando as árvores e um sentimento desconhecido me fascina. Um desejo obscuro e vital pelo disco prateado onipotente na escuridão daquela noite gelada como o aço. Extasiado completamente eu apenas consigo proferir um uivado nunca liberado por nenhum homem. O presente da Terra que trás de volta o sentido da vida. Todos os meus sentidos primitivos estão libertados agora, eu me sinto totalmente livre.
Não tenho medo ou remorso pelo que fiz, muito pelo contrário! Meu temor é que eu me sinto bem. O que me assusta é que sinto que nasci para isso, que finalmente encontrei o destino que me foi arrancado há muito tempo atrás. Como seu eu tivesse sido destituído de alguma forma pelas pessoas que vivem nas imundas cidades.
Na vida selvagem está a preservação do mundo e é nela que eu sinto o lobo em mim mesmo. Minha fúria interior trará de volta os dias melhores de glória e honra do lobo e do homem.

Selvagens


A conquista desta terra desgraçada em meio aos selvagens já dura há tanto tempo que nem sei mais onde estou exatamente. Eu estou cansado da areia deste grande deserto sem fim, do sol escaldante e desse uniforme azul que me faz suar como um desses animais. Santo Deus! Estou tão cansado.
Meu nome é Dwight Callaran e sou um capitão do décimo terceiro regimento da quinta cavalaria dos Estados Unidos da América e não me pergunte o dia, pois já não me importo mais com isso. Deve ser meados de 1876 e estamos em algum lugar bem ao norte do Rio Missouri. Apenas isso que eu sei e de qualquer forma estou muito longe da minha amada Virgínia.
Combatemos muitos dos indígenas e antes eu sabia diferenciar as tribos apenas ao vê-los. Arapahos, Cherokees, Cheyennes, Kiowas, Pawnees e Siouxs. São tantos, mas agora são apenas peles vermelhas. Os indesejáveis! Seria melhor para todos se estivessem todos exterminados. Afinal, um índio bom é um índio morto, certo?
Selvagens e sanguinários, esses povos atacam com uma voracidade implacável atrás de nossos escalpos, mas depois de tantos anos eu me pergunto se não faríamos o mesmo se estivessem invadindo nossas próprias casas, roubando nossas comidas e estuprando nossas mulheres. Nossa fúria não seria menor com certeza.
Já lutamos na frente de nossas casas uma vez e grandes homens como George Washington, Henry Knox e Nathanael Greene expulsaram os “casacas vermelhas” há muito tempo e agora quando não enfrentamos os selvagens combatemos a nós mesmos.
Selvagens! Chamamos os índios de bárbaros selvagens, mas já fomos chamados assim pelo Rei Inglês quando enfrentamos o maior exército do mundo com nossa “ralé armada”.
Somos os civilizados, mas não foram os indígenas que escalpelaram os mortos em Sand Creek. Nem foram esses selvagens que mataram as mulheres e que Deus me perdoe, mas as crianças também. Sei disso porque estava lá e lembro bem das palavras do coronel Chivington dizendo: Quero que escalpelem a todos, grandes e pequenos, pois os piolhos nascem em ovos. Isso ao som das índias sendo estupradas.
Não! Nós somos os civilizados e bradamos o amor a nossa perfeita constituição que os velhos homens brancos escreveram há cem anos. Essa é nossa terra por direito e nosso destino imbuído por Deus mantê-la segura dos selvagens.
Sim, hoje tornaremos os índios civilizados, nem que seja à força. Na verdade nem que eles não queiram. Mas eles tiveram sua chance. Nossos liberais lutaram pelo direito às terras aos indígenas, mas claro que não contavam com nossa ganância.
Terras como Black Hills foram dadas aos selvagens apenas para depois serem tomadas quando descobrimos que havia ouro naquele território. Claro que não deixaríamos essas riquezas aos bárbaros que nem saberiam utilizá-las e assim a terra que foi dada seria tomada.
Somos arautos da liberdade, mas apenas trazemos desgraça e morte. Para obtermos a paz travamos a guerra, para civilizá-los nós cometemos as maiores atrocidades.
Pouco importa se os soldados estupram as índias e depois as matam, pouco importa se massacramos aldeias inteiras, homens, mulheres e crianças; se destruímos povos que nem conhecemos. Não importa! Hoje avançaremos sob a música demoníaca pisando nas carcaças vermelhas. Hoje haverá destruição, mas não mais participarei disso, estou cansado e há apenas um descanso para mim...

Amor Verdadeiro


Vitória fechou seu livro e suspirou profundamente. Apertou contra o peito sua edição de Orgulho e Preconceito, seu livro preferido. A jovem se identificava com a personagem principal da obra, pois não via como coincidência o fato de ambas, ela e a personagem, terem os nomes das rainhas mais fortes de sua pátria. Imaginou o quão poético Jane Austen escreveria sobre o que estava sentindo naquele exato momento.
Sentiu o cheiro das flores amarelas que balançavam ao suave vento do outono de Green Park. Uma esperança a paisagem de árvores secas daquele lugar. Era um dos mais famosos parques de Londres, mas havia uma certa paz ali, que não entendia bem, mesmo com tantas pessoas passando por lá.
Cada um que passava tinha sua própria vida e Vitória refletiu o quão fantástico deveria ser cada universo individual dentro deles. Tinham suas alegrias e angústias e ela se perguntou se alguém sentia algo próximo à dor que estava em seu coração agora.
A jovem inglesa estava apaixonada e, como muitas da sua idade, achava que era um amor impossível de se realizar, mas por motivos bem diferentes e pessoais.
Vitória estava gostando do seu melhor amigo!
Estudavam juntos e isso já bastaria, mas como melhores amigos o rapaz a tinha como confidente e ela, de fato, conhecia todas as tristezas e desilusões de seu amado. Foi justamente isso que a fez se encantar pelo rapaz.
A maioria das pessoas namoravam bem antes de toda essa proximidade, pois quanto mais perto, mais claramente se via o defeito do parceiro e isso acabava com a relação mesmo antes de se tornar mais séria e portanto sólida. Entretanto, com Vitória acontecia justamente o contrário.
Ela não conseguia se apaixonar por alguém que conhecera em uma noite. Não conseguia ter essa confiança em algum rapaz levemente alto pela bebida em um bar qualquer. A jovem precisava admirá-lo para amá-lo. Uma triste condição que a fazia se apaixonar por aqueles que haviam se transformado em amigos e assim jamais a namorariam.
Vitória o amava tão intensamente que gostava até mesmo de todas as fraquezas que seu amigo apresentava. Sentia compaixão quando ele chorava e não se decepcionava pelos seus defeitos. Ela o compreendia como nenhuma outra e era por isso que se achava a única capaz de fazê-lo feliz.
Infelizmente seu amigo não achava o mesmo, pois nunca notara seu amor e isso trazia certa melancolia à jovem. Sua insegurança a fazia pensar que era feia, ignorante e pouco brilhante. Pensava que estava gorda demais e exagerava as imperfeições de seu corpo imaginando que seu amigo a achava estranha e horrorosa. No entanto, sabia que esses pensamentos estavam longe de serem verdadeiros, muito longe!
Então o que a impedia de se declarar? Porque ela não conseguia dizer aquelas palavras tão singelas a ele? Era apenas falar que o amava acima de todas as coisas e todo aquele impasse, para seu bem ou para seu mal, seria finalmente resolvido. Como era extremamente difícil e angustiante pronunciar aquelas simples palavras...
No fundo Vitória tinha medo de perder sua amizade que lhe era tão cara e especial. Temor por ele não confiar mais seus segredos mais íntimos a ela, para sua grande amiga. Será que ele não mais choraria suas mágoas para a jovem se Vitória declarasse seu amor? Ainda passaria todo aquele tempo ao seu lado se ela sinceramente dissesse, eu te amo, ao amigo?
Não. A jovem não poderia abandoná-lo de tal forma. Vitória não poderia trair sua amizade por seu sentimento egoísta. Deveria enterrar todas aquelas emoções bem fundo em seu coração. Ele se afastaria se ela quisesse mais do que a amizade, acharia que era sua amiga e confidente apenas por interesse, embora não fosse verdade. Não poderia se afastar, simplesmente não conseguiria. Seu amigo precisava tanto dela...
Vitória já havia tomado sua decisão há muito tempo, mas faltava a coragem de fazer e, ao bem da verdade, ela não queria. Eram pensamentos tristes de uma história inacabada sem final feliz. Não haveria esperança para a jovem, não haveria sombra no fim da jornada para ela.
Sabia que tinha que deixar de lado sua paixão e continuar apenas uma boa amiga ao seu amado. Ele provavelmente se afastaria dela se soubesse de seus sentimentos e perdê-lo totalmente era ainda pior que ver seu amor sofrer pelas garotas que não lhe davam seu devido valor. Garotas que não viam o quanto aquele lindo sorriso era especial, como Vitória via tão claramente. A jovem o amava demais para se afastar ou abandoná-lo, assim ela sofreria calada e continuaria sendo apenas sua amiga.
Seria o que deveria ser para seu amado amigo, seu amor verdadeiro...