sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Legado Mandaloriano


Eu não sou humano. Não pelos conceitos comuns da galáxia. No banco de dados que está em meu CDp (Clone Datapad) estão catalogadas 174 raças vivendo em mais de cem planetas. Nenhuma delas me chamaria de humano, embora provavelmente não soubessem a diferença apenas olhando.
Essas raças, ao contar suas próprias histórias, começam por sua origem, seu nascimentos, seus pais... Eu não posso fazer isso, pois eu não tenho pais, eu não nasci pelos padrões normais. Eu sou um clone.
Criado pelos Kaminoanos, uma raça que se dedica a Biogenética. A clonagem geralmente é pesquisada para transplante de órgãos que salvam muitas vidas, mas não foi esse o propósito dos cientistas de Kamino. Não fui criado para salvar pessoas, mas fui criado para a guerra. Nascido para matar.
O DNA usado para a criação dos clones como eu foi retirado do caçador de recompensas conhecido em toda a galáxia como Jango Fett. O próprio Jango treina as tropas clones, baseado no treinamento que ele mesmo recebeu.
Fett é um Mandaloriano, um antigo grupo de mercenários que se tornou famoso em toda a galáxia, mas foram quase exterminados pelos Jedi. Assim ele é considerado o último deles, pois embora tenham restado alguns outros, mas apenas Jango ainda possui seu antigo código, tornando-se o soldado ideal e por isso foi chamado para ser o modelo dos clones.
Agora nós somos tudo o que sobrou deles, o legado Mandaloriano.


Parte introdutória de um conto meu no Universo de Star Wars!

sábado, 24 de abril de 2010

Instinto


“I feel I change
back to a better day
hair stands on the back of my neck
in wildness is the preservation of the world
so seek the wolf in thyself”
Of wolf and man – Black Album – Metallica

Aos poucos meus sentidos voltam ao normal e agora sinto que minha respiração está cada vez mais calma. Lembro do pesadelo em que me meti e não faço a mínima idéia de como as coisas chegaram a esse ponto. Não é como nos filmes, eu não fui mordido. Não são como as malditas estórias de terror, mas minha vida virara um conto obscuro de Stephen King.
Não sei como isso aconteceu, mas me lembro da minha infância, na qual sempre caçoavam de mim por ser esquisito. Mesmo adulto nada mudou, pois no trabalho nunca consegui uma promoção, nunca me destaquei em qualquer serviço. Ninguém me respeitava e sempre tiravam vantagens da minha bondade. Eu nunca brigava, acho que tinha me acostumado.
Minha calma era sempre confundida com covardia e isso apenas piorava as coisas. Sempre humilhado, sempre passado para trás pelos “colegas” de trabalho, sempre sem amigos. Sinto que passei minha vida inteira sozinho em uma grande multidão de pessoas que vivem nessa cidade corrompida em meio a todo esse cheiro pútrido!
Acho que eu sou amaldiçoado e essa é a única explicação. Depois de tantos anos vivendo prostrado finalmente algo começou a ferver em meu sangue. Uma fúria interior que me dilacera de dentro para fora em um urro selvagem que certamente não consigo mais conter.
Estou nascendo de novo, ou melhor, nascendo pela primeira vez!
Olho em volta e vejo o lugar que tenho trabalhado há anos, mas agora está bem diferente!
Há sangue e corpos retalhados por toda parte. Vejo mesas reviradas e estraçalhadas. Algo aconteceu aqui. Alguém forte e claramente maligno esteve aqui e por algum motivo eu me sinto bem. Faz muito tempo que eu me sentia totalmente sufocado e com uma enorme vontade de liberar o grito que estava preso em minha garganta.
Foi então que quase por instinto eu me aproximo do corpo em pedaços do que foi meu chefe e passo minha mão em seu sangue que jorrava. Levo os dedos à boca e sinto prazer no gosto. Agora entendo que fui eu que fiz tudo isso. Eu sou o maldito que destruiu todo esse lugar e ainda me sinto muito bem por ter feito isso.
Aqueles que trabalhavam comigo não passavam de vermes que me torturavam todos os dias. Agora não são mais que cordeiros cujas vidas foram ceifadas por minhas garras. São presas que sucumbiram perante minha fome insaciável. Caíram ante do rosnado primitivo que tanto ardia em meu interior.
Tiveram sua lição!
Agora entendo porque tinha pesadelos horríveis e acordava com minhas cobertas rasgadas. Apenas agora entendo o porquê os animais fugiam aos guinchos quando me aproximava. Eu sou um predador que caça implacavelmente vagando na escuridão mais tenebrosa da noite enquanto as pessoas dormem.
Ninguém vai me humilhar agora...
Agora começo a escutar ao longe o som das sirenes fazendo a selvageria insurgir novamente dominando meus sentidos, e sei que algo está mudando em mim. Os pêlos na minha nuca se arrepiam. Sinto a dor da minha carne sendo rasgada por dentro e tudo diminui em minha volta.
Esse lugar é apertado e me prende. Quero sair. Eu preciso sair logo daqui! Assim eu pulo a janela e chego à rua em uma queda que ninguém sobreviveria, mas estou mais vivo do que nunca.
As pessoas correm apavoradas quando me vêem e posso farejar o medo impregnado no ar e isso me agrada muito.
Vejo os policiais me cercando. Os malditos provavelmente devem achar que vieram atrás de um psicopata comum, um louco que teve um excesso de fúria no trabalho. Vão logo descobrir que encontraram algo muito pior...
Salto sobre os policias e destroço seus veículos como se fossem feitos de plástico. Os movimentos rápidos liberam meus sentidos gerando uma coragem insana. É mais tarde do que eles imaginavam.
Meu corpo arde em raiva incontrolável e pedindo por mais sangue, por mais de sua suculenta carne. Pelo simples prazer que o som dos ossos partindo me traz.
Vejo o medo em seus olhos e os poucos que não fogem atiram em mim com suas pistolas e escopetas, mas os ferimentos cicatrizam rápido. No entanto, eu sinto a dor e não gosto nem um pouco disso.
Uma dor que aumenta ainda mais minha fúria, liberando minha adrenalina, e ataco com selvageria minhas débeis presas como se não fossem nada. Retalho seus corpos frágeis e libero totalmente a fúria bestial que tenho em meu interior.
Escuto o chamado do vento e corro pelas ruas para fora da névoa dos novos dias em busca de liberdade. Pulsando com a Terra eu vou ao encontro da natureza primitiva.
Chego mais rápido do que imaginava em uma área de bosques nas redondezas da cidade. Não era o que eu imaginava e nem o que precisava, pois não é a selva que procuro. Mas servirá por um tempo, pois ali eu finalmente sinto uma paz reconfortante.
Vejo a lua iluminando as árvores e um sentimento desconhecido me fascina. Um desejo obscuro e vital pelo disco prateado onipotente na escuridão daquela noite gelada como o aço. Extasiado completamente eu apenas consigo proferir um uivado nunca liberado por nenhum homem. O presente da Terra que trás de volta o sentido da vida. Todos os meus sentidos primitivos estão libertados agora, eu me sinto totalmente livre.
Não tenho medo ou remorso pelo que fiz, muito pelo contrário! Meu temor é que eu me sinto bem. O que me assusta é que sinto que nasci para isso, que finalmente encontrei o destino que me foi arrancado há muito tempo atrás. Como seu eu tivesse sido destituído de alguma forma pelas pessoas que vivem nas imundas cidades.
Na vida selvagem está a preservação do mundo e é nela que eu sinto o lobo em mim mesmo. Minha fúria interior trará de volta os dias melhores de glória e honra do lobo e do homem.

Selvagens


A conquista desta terra desgraçada em meio aos selvagens já dura há tanto tempo que nem sei mais onde estou exatamente. Eu estou cansado da areia deste grande deserto sem fim, do sol escaldante e desse uniforme azul que me faz suar como um desses animais. Santo Deus! Estou tão cansado.
Meu nome é Dwight Callaran e sou um capitão do décimo terceiro regimento da quinta cavalaria dos Estados Unidos da América e não me pergunte o dia, pois já não me importo mais com isso. Deve ser meados de 1876 e estamos em algum lugar bem ao norte do Rio Missouri. Apenas isso que eu sei e de qualquer forma estou muito longe da minha amada Virgínia.
Combatemos muitos dos indígenas e antes eu sabia diferenciar as tribos apenas ao vê-los. Arapahos, Cherokees, Cheyennes, Kiowas, Pawnees e Siouxs. São tantos, mas agora são apenas peles vermelhas. Os indesejáveis! Seria melhor para todos se estivessem todos exterminados. Afinal, um índio bom é um índio morto, certo?
Selvagens e sanguinários, esses povos atacam com uma voracidade implacável atrás de nossos escalpos, mas depois de tantos anos eu me pergunto se não faríamos o mesmo se estivessem invadindo nossas próprias casas, roubando nossas comidas e estuprando nossas mulheres. Nossa fúria não seria menor com certeza.
Já lutamos na frente de nossas casas uma vez e grandes homens como George Washington, Henry Knox e Nathanael Greene expulsaram os “casacas vermelhas” há muito tempo e agora quando não enfrentamos os selvagens combatemos a nós mesmos.
Selvagens! Chamamos os índios de bárbaros selvagens, mas já fomos chamados assim pelo Rei Inglês quando enfrentamos o maior exército do mundo com nossa “ralé armada”.
Somos os civilizados, mas não foram os indígenas que escalpelaram os mortos em Sand Creek. Nem foram esses selvagens que mataram as mulheres e que Deus me perdoe, mas as crianças também. Sei disso porque estava lá e lembro bem das palavras do coronel Chivington dizendo: Quero que escalpelem a todos, grandes e pequenos, pois os piolhos nascem em ovos. Isso ao som das índias sendo estupradas.
Não! Nós somos os civilizados e bradamos o amor a nossa perfeita constituição que os velhos homens brancos escreveram há cem anos. Essa é nossa terra por direito e nosso destino imbuído por Deus mantê-la segura dos selvagens.
Sim, hoje tornaremos os índios civilizados, nem que seja à força. Na verdade nem que eles não queiram. Mas eles tiveram sua chance. Nossos liberais lutaram pelo direito às terras aos indígenas, mas claro que não contavam com nossa ganância.
Terras como Black Hills foram dadas aos selvagens apenas para depois serem tomadas quando descobrimos que havia ouro naquele território. Claro que não deixaríamos essas riquezas aos bárbaros que nem saberiam utilizá-las e assim a terra que foi dada seria tomada.
Somos arautos da liberdade, mas apenas trazemos desgraça e morte. Para obtermos a paz travamos a guerra, para civilizá-los nós cometemos as maiores atrocidades.
Pouco importa se os soldados estupram as índias e depois as matam, pouco importa se massacramos aldeias inteiras, homens, mulheres e crianças; se destruímos povos que nem conhecemos. Não importa! Hoje avançaremos sob a música demoníaca pisando nas carcaças vermelhas. Hoje haverá destruição, mas não mais participarei disso, estou cansado e há apenas um descanso para mim...

Amor Verdadeiro


Vitória fechou seu livro e suspirou profundamente. Apertou contra o peito sua edição de Orgulho e Preconceito, seu livro preferido. A jovem se identificava com a personagem principal da obra, pois não via como coincidência o fato de ambas, ela e a personagem, terem os nomes das rainhas mais fortes de sua pátria. Imaginou o quão poético Jane Austen escreveria sobre o que estava sentindo naquele exato momento.
Sentiu o cheiro das flores amarelas que balançavam ao suave vento do outono de Green Park. Uma esperança a paisagem de árvores secas daquele lugar. Era um dos mais famosos parques de Londres, mas havia uma certa paz ali, que não entendia bem, mesmo com tantas pessoas passando por lá.
Cada um que passava tinha sua própria vida e Vitória refletiu o quão fantástico deveria ser cada universo individual dentro deles. Tinham suas alegrias e angústias e ela se perguntou se alguém sentia algo próximo à dor que estava em seu coração agora.
A jovem inglesa estava apaixonada e, como muitas da sua idade, achava que era um amor impossível de se realizar, mas por motivos bem diferentes e pessoais.
Vitória estava gostando do seu melhor amigo!
Estudavam juntos e isso já bastaria, mas como melhores amigos o rapaz a tinha como confidente e ela, de fato, conhecia todas as tristezas e desilusões de seu amado. Foi justamente isso que a fez se encantar pelo rapaz.
A maioria das pessoas namoravam bem antes de toda essa proximidade, pois quanto mais perto, mais claramente se via o defeito do parceiro e isso acabava com a relação mesmo antes de se tornar mais séria e portanto sólida. Entretanto, com Vitória acontecia justamente o contrário.
Ela não conseguia se apaixonar por alguém que conhecera em uma noite. Não conseguia ter essa confiança em algum rapaz levemente alto pela bebida em um bar qualquer. A jovem precisava admirá-lo para amá-lo. Uma triste condição que a fazia se apaixonar por aqueles que haviam se transformado em amigos e assim jamais a namorariam.
Vitória o amava tão intensamente que gostava até mesmo de todas as fraquezas que seu amigo apresentava. Sentia compaixão quando ele chorava e não se decepcionava pelos seus defeitos. Ela o compreendia como nenhuma outra e era por isso que se achava a única capaz de fazê-lo feliz.
Infelizmente seu amigo não achava o mesmo, pois nunca notara seu amor e isso trazia certa melancolia à jovem. Sua insegurança a fazia pensar que era feia, ignorante e pouco brilhante. Pensava que estava gorda demais e exagerava as imperfeições de seu corpo imaginando que seu amigo a achava estranha e horrorosa. No entanto, sabia que esses pensamentos estavam longe de serem verdadeiros, muito longe!
Então o que a impedia de se declarar? Porque ela não conseguia dizer aquelas palavras tão singelas a ele? Era apenas falar que o amava acima de todas as coisas e todo aquele impasse, para seu bem ou para seu mal, seria finalmente resolvido. Como era extremamente difícil e angustiante pronunciar aquelas simples palavras...
No fundo Vitória tinha medo de perder sua amizade que lhe era tão cara e especial. Temor por ele não confiar mais seus segredos mais íntimos a ela, para sua grande amiga. Será que ele não mais choraria suas mágoas para a jovem se Vitória declarasse seu amor? Ainda passaria todo aquele tempo ao seu lado se ela sinceramente dissesse, eu te amo, ao amigo?
Não. A jovem não poderia abandoná-lo de tal forma. Vitória não poderia trair sua amizade por seu sentimento egoísta. Deveria enterrar todas aquelas emoções bem fundo em seu coração. Ele se afastaria se ela quisesse mais do que a amizade, acharia que era sua amiga e confidente apenas por interesse, embora não fosse verdade. Não poderia se afastar, simplesmente não conseguiria. Seu amigo precisava tanto dela...
Vitória já havia tomado sua decisão há muito tempo, mas faltava a coragem de fazer e, ao bem da verdade, ela não queria. Eram pensamentos tristes de uma história inacabada sem final feliz. Não haveria esperança para a jovem, não haveria sombra no fim da jornada para ela.
Sabia que tinha que deixar de lado sua paixão e continuar apenas uma boa amiga ao seu amado. Ele provavelmente se afastaria dela se soubesse de seus sentimentos e perdê-lo totalmente era ainda pior que ver seu amor sofrer pelas garotas que não lhe davam seu devido valor. Garotas que não viam o quanto aquele lindo sorriso era especial, como Vitória via tão claramente. A jovem o amava demais para se afastar ou abandoná-lo, assim ela sofreria calada e continuaria sendo apenas sua amiga.
Seria o que deveria ser para seu amado amigo, seu amor verdadeiro...