terça-feira, 5 de abril de 2011

Para Sempre...


“Sempre existirá Paris”
Humphrey Bogart
Casablanca



A jovem estava sentada em uma cadeira de metal em estilo moderno sutilmente afastada da mesa redonda com toalhas alviverdes. Embora estivesse na mais famosa avenida de Paris, o lugar estava relativamente vazio. O Montecristo Café era um local aconchegante com poucas mesas na rua protegida com toldos vermelhos. Eram servidos vários tipos de café, mas como uma brasileira ela estava acostumada a pedir um simples quando no máximo um capuccino.
No entanto, nada disso permeava a mente dela. Na verdade estava muito ansiosa a espera daquele que a tinha tirado de sua semana de trabalho. Ela estava na França representando uma firma portuguesa em que trabalhava desde que tinha se formado na faculdade de Coimbra e decidido não mais voltar ao Brasil.
Tinha sido uma coincidência incrível quando a moça descobriu que seu amigo de infância, que não via há quase 10 anos, também estava em Paris, mas este a passeio com sua família. Para ela era quase mágico saber que ambos estavam longe de seu país de origem, longe do local de trabalho, mas se encontrariam mesmo assim depois de tanto tempo separados. Isso se tornava mais forte sabendo que tinham sido namorados na escola. Aquele primeiro amor que se tornou difícil de esquecer, mas a vida e o destino tinham feito questão de separar.
A mulher estava muito ansiosa.
Será que ele ainda pensava nela? Será que em momentos tristes ou desilusões amorosas ele pensava nela e tentava entender o porquê aquele amor não tinha dado certo como ela sempre refletia? Será que ele ainda a amava?
A mulher afastou esses pensamentos ao ver seu antigo amigo se aproximar atravessando a Avenida Champs Élysées e a vendo já de longe. Ela achou fantástico o tempo não ter alterado quase nada nele e de perto pode perceber que nenhuma linha do tempo tinha maltratado seu lindo rosto. Entretanto aquilo a fez sentir certa vergonha de si mesma, pois sabia que não estava mais tão bonita como antes.
O rapaz a cumprimentou e a beijou no rosto educadamente. Ela sentiu sua própria pele queimar e imaginou se estava corada. Considerou-se uma idiota por ter sentimentos de uma estudante mesmo sendo mais velha e rezou para que seu amigo não percebesse a profusão se emoções que corriam por toda sua mente.
Eles conversaram e relembraram do passado fazendo aquela tarde ser longa e de certa forma onírica. Havia uma letargia no ar e parecia que os bons tempos tinham voltado pela força avassaladora da saudade. Ambos esqueceram das vidas que tinham e embora tinham revelados seus feitos um para o outro no início da conversa, os anos que passaram separados não importavam nem um pouco.
O dia atingia seu crepúsculo como aquele encontro e assim ambos falavam cada vez mais na tentativa débil de adiar o inevitável. Foi nesse momento que o amigo a fez a pergunta fatídica. Ele a indagou sobre o que tinha acontecido com os dois e como podiam não estar mais juntos.
A mulher ficou sem jeito e tentou disfarçar dizendo que não era ela que tinha se casado e estava com três filhos. Não era ela que tinha levado a vida por um caminho tão diferente e seguido adiante.
O homem sorriu e, olhando nos olhos dela, disse que nunca tinha amado tanto alguém como ela. Nunca uma mulher o tinha feito sonhar como aquela garota da escola. Seu primeiro amor. O primeiro amor de ambos...
Uma confusão de sentidos penetrou inexoravelmente na jovem que se levantou tentando se despedir de seu amigo... se despedir de seu amor. Ambos não tinham mais tempo para aquilo e a vida os tinha levado a caminhos tão diferentes que aquela conversa tinha se transformado em algo injusto e dolorido.
Entretanto ela mesma se surpreendeu deixando levar pelas suas emoções beijando o amigo...
Foi um beijo longo. Ele a abraçou com força e ao mesmo tempo com carinho em uma dicotomia que apenas um homem apaixonado era capaz de fazer.
O tempo simplesmente parou.
Se eles já estavam envolvidos por aquele sentimento apaixonado e saudosista agora ambos estavam totalmente arrebatados. Aquilo era forte demais para os dois e eles claramente tentaram aproveitar o momento ao máximo possível.
Seus sentimentos diminuíram e o casal se separou novamente. Mais uma vez um sorriso torto se formou no rosto do homem fazendo a moça sorrir com facilidade.
Ambos sabiam que aquilo não iria para frente. Sabiam que se despediriam ali e cada um iria tocar sua vida sozinho, pois não havia mais espaço para aquele sentimento na rotina deles.
Eles partiram.
Sem um saber do outro, os dois lembraram do antigo filme preferidos de ambos nos tempos de escola. Tinham visto Casablanca juntos pela primeira vez no inicio do namoro juvenil e o tinham escolhido como símbolo do sentimento deles. Mal sabiam que a frase de Rick Blaine, personagem interpretado pelo ator estadunidense Humphrey Bogart, seria tão marcante e propícia como agora.