segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Aqueles versos escritos na areia...



Aqueles versos escritos na areia.
Juras de amor que não importam mais.
Palavras ditas que nunca foram ouvidas.
Afeto que se sentiu apenas sozinho.
Esperança abalada pela desilusão.

Aqueles versos escritos na areia.
Coração doado a mãos duras.
Sangra na falta do acalento.
Pulsando em vão por ti.
Busca por algo que nunca esteve lá.

Aqueles versos escritos na areia.
Flores que nunca foram entregues.
Planos que ficaram apenas nos sonhos.
Momento fora do seu tempo.
O fim de todas as coisas.

Aqueles versos escritos na areia.
Choro quente debaixo da água fria.
Querer bem afastado pela razão.
Grito calado pelo silêncio.
Desespero na escuridão da noite.

Aqueles versos escritos na areia.
Feitos assim para que se esqueça.
Levados pelo mar da existência.
Que temam em ficar na memória.
Perdidos em algum lugar de mim.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Contos Cotidianos


Foi lançado a segunda antologia em que eu participo no dia 26 de março desse ano, mas apenas agora os livros chegaram. Contos Cotidianos é uma coletânia de estórias sobre o dia dia das pessoas e a vida comum. Meu conto no livro chama-se Amizade, mas foi publicado nesse blog como Cotidiano. Sem mais, aqui está a sinopse do livro.

"Este espaço não tem dono. Aqui não existem amarras da ética, religião, dogmas ou qualquer outro empecilho que possa, desrespeitosamente, atrever-se a impor censura.
A liberdade e a clareza de ideias neste livro não serão como animais selvagens que necessitem ser domados, tampouco devam ser ventos a girarem moinhos. Então, que destas ideias não se façam proveito, deixando-as correrem livremente, soprarem sem direção certa, tendo na liberdade o único propósito. Refiro-me à liberdade de criação.
Estas linhas também são minhas, digo, não vêm com a agonia dos dias atribulados, embora falem sobre o cotidiano... Vêm como uma psicografia ditado por ele, quando consigo escapar das voltas do relógio e das exigências diárias, que roubam a criatividade e o tempo.
Quando escrevemos, tornamo-nos livres ou indiferente às comparações, avaliações ou julgamentos a que somos submetidos e aos quais nos submetemos constantemente... Perdemos a casca; criamos um espelho para ver o que não se enxerga na repetição dos dias.
Olhemos o cotidiano e, com criatividade narremos o que nossa observação e imaginação permita ampliar, modificar ou apenas uma prática rotineira, inserida na dureza do que parece imutável. Mergulhemos no cotidiano; escapemos também, nem que para isto tenhamos que mergulhar em águas, quase sempre turbulentas."

Sergio Prado.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Tempo e a Lua


Raistlin Majere sentou-se pesadamente na pedra já sentindo os efeitos de sua costumeira vertigem devido ao esforço físico provocado pela longa demanda. Sua saúde estava muito debilitada, mas sempre falava para si mesmo e aos demais companheiros que era o preço a se pagar por tanto poder recebido das Torres de Alta Magia. Sua pele amarelada lhe dava ainda um maior aspecto doentio sem falar dos cabelos brancos, mas nada se comparava aos excessos de tosse. Esses eram horríveis.
O mago vermelho estava em uma caverna gelada, mas era bem mais aquecida que a paisagem lá fora. Estalactites e estalagmites frias brotavam diligentes, mas a fogueira que seu irmão prontamente acendeu deve ser o suficiente para trazer calor e luz. Um local isolado dos outros que sempre buscava para consultar seu grimório e preparar suas magias diárias. Um processo longo e dispendioso que lhe exigia muita atenção e dedicação. Gestos elaborados, palavras estranhas e componentes materiais exóticos que provocavam um efeito na trama e geravam uma determinada magia.
Entretanto, antes dele sequer pegar o livro, uma pessoa se aproximou pela entrada da caverna e isso já o irritou. Queria um tempo para si e seus novos “amigos” pareciam não quererem deixá-lo em paz. Era sempre assim e aquilo estava incomodando Raistlin de uma maneira que afetava seu físico e veio a crise de tosse.
Foi assim que Lua Dourada o encontrou. O aparente frágil arcano estava limpando a boca com seu lenço que se tingira rubro como seu robe. Aquela era uma doença eterna que o matava por dentro e estaria sempre mostrando que o poderoso mago era apenas um mortal no fim das contas.
- Veio me curar princesa exilada de Que Shu? – perguntou o alto mago – Receio que a incomode ser sacerdotisa da Deusa da Cura e andar em uma campanha com alguém tão enfermo como eu.
- Eu posso... – tentou começar ela, mas Raistlin a interrompeu com novos rompantes de tosse e se levantou ignorando-a.
O homem se afastou dela indo em direção a fogueira em chamas buscando um pouco mais de conforto e aparentemente deu certo, pois suas crises deram finalmente alguma trégua. Entretanto Lua Dourada o seguiu e sentou-se do lado dele. O arcano a encarou e viu apenas olhos amáveis. Deveria ser uma linda visão observar aquela mulher, mas o jovem não poderia vê-la da forma que os outros viam. Não podia ver ninguém da forma que os outros normais faziam. Seus olhos de íris em formato de ampulheta viam apenas a passagem do tempo e como toda a matéria se deteriora. Não era uma linda jovem que o alto mago via, mas uma mulher envelhecendo e isso o deixava ainda mais triste e pessimista. A real percepção das coisas como costumava dizer para si mesmo. Tudo está sempre morrendo.
- Porque sempre se afasta dos seus amigos? – indagou a clériga – Eu sei que algo o incomoda, mas posso ajudá-lo!
- E nada a faria tão feliz não é mesmo? – ironizou o mago – Por trás de seu aparente altruísmo está à satisfação pessoal de sanar os males de alguém como eu ou levar para o rebanho esse cordeiro desgarrado.
- Você não é maligno, o que todos falam sobre ti não é verdade. Eu sei que existe bondade em você!
- Ora, sabes de muitas coisas não é mesmo? A grande princesa dos bárbaros já sabe tudo ao meu respeito, mesmo depois do que? Alguns dias que nos encontramos pela primeira vez na Hospedaria do Lar Derradeiro? Agora tu e todos estes teus “amigos” conhecem-me perfeitamente não é mesmo? Sinto dizer querida que as profundezas da minha alma sejam bem mais espessas!
- Sei o suficiente para dizer que o que tens posso curar, mas é a ti que não queres que eu te cure.
- Parabéns, você adquiriu a incrível habilidade de perceber o óbvio!
A lenha fumegante estalou distraindo os dois e dissipando a tensão que havia sido criada pela conversa. Raistlin aproveitou o momento para se retirar e ir mais adentro das sombras da caverna. Com apenas uma palavra mágica, shirak, ele fez a bola de cristal na ponta do seu cajado se iluminar e o usou-a como um archote para que não fosse totalmente imergido na escuridão.
Lua Dourada o seguiu prontamente, pois não queria desistir ainda de seu companheiro. Não sabia se havia verdade nas palavras dele. Ela, como qualquer mulher com sua sabedoria e comprometimento, questionava-se o tempo todo. Perguntava se estava sendo útil a causa dos deuses. Perguntava se era realmente um instrumento da vontade deles.
Assim a sacerdotisa o seguiu.
Caminharam por alguns metros mais adentro da garganta da caverna e quando o frio voltou a incomodar, Raistlin parou e encarou Lua Dourada nos olhos. Aquela não era uma das visões mais agradáveis, pensou ela, mas estava focada em seu objetivo e pedindo forças a Deusa ela iniciou.
- Vocês magos se acham inteligentes e são mesmo! No entanto é uma qualidade adquirida exclusivamente pelo conhecimento. Tanto aprendem, mas pouco sabem o que fazer com isso. Os arcanos valorizam muito pouco a sabedoria.
- Entendo. – disse Raistlin – Acredito que apreciem sua intuição e capacidade de tirar deduções baseados no nada. Claro que conhecimento é inútil não é mesmo? Já que são sempre guiados pelos deuses!
- Não foi... – a clériga parou, pois apenas agora tinha entendido como suas próprias palavras soaram arrogantes. – Eu só estou tentando entender você. – agora Lua Dourada estava conseguindo ser mais humilde – Sei que acha que eu o ajudo por arrogância, mas eu realmente acho que tem um lado bom em ti e por algum motivo não mostras... talvez por...
- Medo! – completou o mago vermelho – Não acho que seja arrogância querida, mas com certeza não é altruísmo. Você ficaria muito satisfeita consigo mesma se me conseguisse “salvar”. Isso não condiz com altruísmo não é mesmo? A grande sacerdotisa da Deusa da Cura se importa mais com estar agradando sua própria divindade que com minha alma, disso tenho certeza!
- Sabe o que eu acho? – Raistlin não respondeu, mas olhou para ela atento. Assim Lua Dourada achou melhor prosseguir – Acho que você fala muito sobre mim mesmo dizendo que nos conhecemos pouco. Diz-me que não sei nada sobre você, mas sabes muito sobre mim não? Acho que fala assim pra esquivar do ponto principal de nossa conversa.
- Quer saber sobre mim? O cavaleiro já não lhe disse o bastante? Sou um arcano e por isso só posso ser maligno e ele está certo, devo ser justo, pois nada ficará entre eu e meus objetivos. Qualquer um que se opor a mim sofrerá conseqüências e isso meu irmão pode lhe dizer melhor que eu mesmo!
- Será mesmo ou isso é apenas a projeção que os outros fazem sobre você? Talvez goste dessa imagem, pois isso lhe protege como uma armadura. Se você os decepcionar logo no inicio não ficará com remorso quando abandonar aqueles que ama, mas sabe de uma coisa? Todos têm um propósito! Guiados pelos deuses ou não e o grande mago Raistlin também tem o dele e tenho certeza que é bem diferente que eu ou qualquer um de nós possamos imaginar.
- Existem sombras em mim Lua Dourada. Mais que possa imaginar e sua cruzada para me salvar falhará vergonhosamente.
- Existem sombras em você? Ora, meu caro, existem sombras em mim e no mais altruísta dos heróis de Ansalon! Tal como existe bondade no mais perverso dos corações. Acha realmente que dizer que eu falharei vai me fazer desistir?
- Não! – disse o arcano – No entanto essa sua visão maniqueísta do mundo vai fazer com que cometa erros e vai se arrepender deles no fim. Bem e mal não existem realmente, são apenas pontos de vista.
- Agora sabes do meu futuro?
- Sabe por que eu tenho esses olhos de ampulheta? Por que eu vejo o futuro e tudo se desintegrando no processo. Eu vejo a sua morte como vejo a de todas as pessoas que conheço ó grande Filha do Líder! Quando todos vêem a linda e perfeita Lua Dourada eu apenas vejo seu corpo envelhecer inexoravelmente.
Aquilo fez o coração da sacerdotisa descompassar. Ela tentou disfarçar, mas percebeu no sorriso de Raistlin que tinha falhado miseravelmente. Se o mago vermelho dizia a verdade aquilo deveria ser horrível. Ver tudo morrendo... Então a clériga o entendeu. Finalmente alguém tinha compreendido. Como poderia haver esperança em alguém que só via o mundo em decadência e ruína?
- Talvez eu não possa o compreender meu caro. Todo mago se gaba por não ser marionete dos deuses, mas acaba sendo influenciado também.
- Como assim?
Ele fez uma pergunta e Lua Dourada percebera que realmente tinha chamado a atenção daquele homem tão reservado. Era aquele o momento que ela poderia ajudar verdadeiramente. Ela tinha que atacar sua arrogância.
- Os deuses podem não guiá-lo, mas você, como todos nós, é influenciado pelo seu meio. Pelas pessoas que dizem quem você é e pelas circunstâncias impostas pelo seu destino. Tenta desesperadamente ser dono de seu destino, mas se entrega a algo traçado por fatores que acredita não estar em suas mãos.
- Eu sou o que eu mesmo faço de mim!
- Então me prove isso e faça com que todos vejam que você não é o mago que eles projetam em você, mas que é bem mais que isso. Não dominamos o futuro meu amigo, mas pode ser o mestre do passado e do presente.
- Realmente existe sabedoria nas palavras de uma sacerdotisa! No entanto, como saber se sou o que sou por mim mesmo ou pelo meio em que vivo?
- Realmente existe inteligência nas palavras de um mago! Não saber é o que deve nos motivar, meu caro. Sofremos decepções, mas são elas que fazem nossa vida mais interessante...
Os dois sorriram e a imagem do arcano não era mais assustadora para Lua Dourada como a imagem da clériga não era mais tão mórbida para Raistlin.
- Receio que a decepcionarei sacerdotisa!
- Mesmo? Acho que ficará surpreso do quanto coloco minha fé em ti. Acho que você nos salvará antes do fim. Acredito mesmo!
- Eu vejo a morte minha querida e seu fim será com um grande sacrifício e isso é tudo que vou revelar sobre sua morte.
- Então é tudo que preciso saber e fico feliz, pois me mostraste agora que servirei a causa plenamente. Como disse, ainda há bondade em você.
Lua Dourada se afastou do mago deixando-o em suas próprias sombras na penumbra da caverna. Raistlin a acompanhou com o olhar enquanto podia e contemporizou sobre as ultimas palavras que ela disse. Os últimos momentos dela, que o mago tinha visto com seus olhos de ampulheta, estavam claros na mente dele, pois aquela visão também era sobre seu próprio futuro. Talvez não exista mais bondade nele, mas existe amor e estava preparado para matar aquilo que nunca tinha existido.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Adeus.


“Ela se vestiu, e se olhou;
sem luxo, mas se perfumou.
Lágrimas por ninguém,
só porque, é triste o fim.
Outro amor se acabou.”
Ela disse Adeus – Os Paralamas do Sucesso

A menina caminhou entre as ameias floridas da primavera, mas mesmo com todas aquelas cores, a alegria não atingia a sua alma. Sua mente não estava ali, mas no quarto que acabara de sair, de ter sido abandonada. Pensou em olhar para trás uma última vez, talvez buscando aquele que a tinha deixado, mas desistiu rapidamente desses pensamentos e só pensava como ainda não havia chorado. Depois de tudo que aconteceu, não tinha derrubado uma lágrima ainda.
Aquilo tudo era tão injusto, tão derradeiramente injusto. Ela o tinha amado tanto, talvez mais que os outros e mesmo assim tudo tinha dado errado. Realmente tentou fazer tudo certo desta vez. Prometera a si mesma a nunca se entregar totalmente de novo, devido a decepções passadas, mas não tinha conseguido evitar. Ele era tão apaixonadamente charmoso. Seu sorriso era tão lindo e as marcas do tempo que se formavam em seu rosto lhe davam uma calma única.
Não queria, mas aconteceu e agora só podia lamentar por ter ocorrido da mesma forma que tantas outras vezes. Ela o amou, mas o fez sozinha como nos versos de Poe e pensou se em algum momento aquele lindo rapaz de olhos escuros gostou realmente dela em algum momento.
Tinha feito tudo por ele e foi em vão. Achou que naquele momento seria diferente. Apostou tudo por aquele homem. Tudo seu era de seu amado e ele tinha o coração dela nas mãos, mas preferiu partir em outras aventuras. Ela seria apenas mais uma daquelas aventuras, pois o amor tinha se fragmentado em mil pedaços como um vidro que se quebra e nunca mais pode ser concertado totalmente.
Mais uma vez ela estava sozinha e novamente às ironias do destino a exigiam força para seguir em frente. Sim! Seria forte, mas estava tão cansada de ser forte sempre. Tão cansada de nunca demonstrar seus sentimentos. Suas fraquezas. Isso a estava deixando dura e tinha medo que seu jeito a fizesse se tornar uma mulher sozinha e isso era, talvez, o que mais a assustava.
A jovem perdida meneou até um banco quase em vertigem. Sentou. Colocou as mãos ao rosto quente e as lágrimas salgadas finalmente deslizaram em sua pele alva como a chuva suave das tardes que teimavam não vir naquele dia. O dia estava feliz, era apenas ela que estava triste. Apenas ela. Foi então que olhou para trás e...
Ela disse adeus.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Doces Sonhos


“Sweet dreams are made of this.
Who am i to disagree?
I traveled the world and the seven seas.
Everybody's looking for something.”
Sweet Dreams

O que você fez comigo?

Algo tão recente e ao mesmo tempo tem tanta intensidade. As emoções tão a flor da pele, seja por um lado ou por outro. Gostar do que você faz é o mesmo que amar e achar ruim alguma atitude sua é o mesmo que odiar. Paixão inexorável para o bem ou para o mal.

Força avassaladora que se bateu contra mim vertiginando meus sentidos e revirando meu mundo de maneira tão assustadora. Arrebata meu juízo e faz com que eu surpreenda a mim mesmo. Tira de mim a mim mesmo. Retira os grilhões que eu mesmo prendi a mim, sejam eles justos ou não. Faz-me ousar o que nunca imaginei antes.

No entanto, o que mais me intriga é que mesmo assim eu tenho uma paz que nunca senti antes. Mesmo com medo eu me entrego e fico sereno diante da tormenta. Consigo perceber e entender bem todos os riscos e tudo que estou apostando, mas ainda sim eu sei exatamente o que quero e isso me traz uma estranha calma.

Intensidade e ao mesmo tempo suavidade. Sentimentos tão opostos que se misturam em minha alma e fazem com que eu me compreenda melhor. Fazem com que eu queira ser melhor, mesmo cometendo meus erros humanos. Foi o que essa dicotomia provocou em mim. Querer ser ainda melhor para você.

O futuro é incerto para nós. Disso eu sei e você sabe muito bem também, mas pense! Algo que gera essa profusão de sentimentos não poderia ser diferente. A magia nunca foi mais que um doce sonho minha querida. Tivemos nosso momento e aquela linda tarde ainda está em minha mente como muitas outras coisas que me faz lembrar você. Por isso eu não tenho receio do que há por vir, pois seja que rumo nossas vidas tomem ainda temos nosso momento. Pode ser passado, mas espero que seja presente também. Acho que minha pergunta inicial não faz mais sentido, pois eu deveria perguntar...

O que você faz comigo?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Quarto


Foi naquele desconhecido quarto escuro que derradeiramente estendeu o que tinha se passado e como aquela profusão de sentimentos o tinha entorpecido. Era como se estivesse sobre o efeito das drogas que os outros usavam festivamente fora dali. No entendo, se via sobre o efeito de uma química muito mais antiga e inexorável. Algo ainda mais profundo e bem mais complicado.

O Amor.

Tinha prometido a si mesmo não cair nesses meandros dissimulados e sentimentos platônicos, mas como sempre, isso realmente não se pode controlar. Percebeu o perigo bem antes, claro, e a mantinha distante, entretanto algo os aproximou e os levou para aquele quarto.

Como ele poderia evitar?

Havia algo na forma que ela se movia que encantava. Talvez na maciez do seu andar ou talvez na forma que o vento acariciava-lhe os cabelos escuros. Não sabia. Apenas tinha certeza que aquela pequena o tinha abalado de tal forma que era difícil se manter longe. Penoso ter que esconder todo aquele sentimento dentro de si... e ela se movia.

Ela se movia.

O apaixonado olhava a sua musa se virar na cama. Era tão calmo a ver dormir que o rapaz agora ignorava as risadas e sons que vinham de fora do quarto. Somente havia aquela respiração profunda que mesmo assim era de uma leveza incomparável. A moça tinha abandonado as cobertas e ele podia ver os primeiros brilhos do alvorecer adentrar pelas frestas da janela e tocar-lhe a pele alva e cremosa.

Puxou-a para si.

Ela prontamente respondeu sem nem precisar ser instada. Abraçaram-se da forma em que ele ficaria as suas costas e a jovem meneou a fim de buscar-lhe os lábios, mas estes não se aproximaram. Houve dúvidas em sua mente e confusão na dela, mas ambos se aproximaram ainda mais. A moça se virou manhosamente e com as mãos deslizando por seus cabelos, com calma e firmeza, suas bocas se tocaram novamente.

Beijo.

Era tímido e suave, mas ascendeu de forma vigorosa que provocou uma força desesperada em ambos. Não mais entendiam o que aconteciam e estavam tão perdidos como toda a confusão que acontecia fora dali, mas ao mesmo tempo estavam calmos e certos do que estavam fazendo. Não pensavam no passado e nem no futuro. Pensavam no presente que aquele momento tinha proporcionado aos dois apaixonados. Era tudo o que existia para eles.

Apenas um momento naquele quarto esquecido.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Celofane


Em meio a uma profusão de personalidades.
Palavras cruzadas e idéias ascendendo.
Mudos esquecidos em plena atividade.
Ignorados em sombras ressentidas.
Sozinho no olho de um furação.

Crepúsculo dos sentimentos de falta.
Isolado pelas alegrias alheias.
Querer estar e nunca ser lembrado.
Abismo que separa os olhares.
Longe da busca dos corações.

Saber da presença, mas não encontrar.
Reconhecimento apenas de mim mesmo.
Esquecido em meio aos egos inflados.
Perda das palavras de acalento.
Um deserto de grãos de areia.