domingo, 22 de setembro de 2013

Carta de Devon, O Portador da Luz


Amaldiçoados são os dias que eu tenho passado nessa terra esquecida pelos Deuses Verdadeiros, essa é a verdade! Sombria é minha caminhada pela ilha de Ergoth Meridional, mesmo que eu tenha atravessado Daltigoth com seus Ogros, desvendado os mistérios do Vale Enevoado ou escapado das entranhas da Cordilheira do Último Gaard. Mesmo assim, o que vivo agora é o pior dos tormentos. Nem meus pesadelos mais obscuros e íntimos possuem um terror tão avassalador.
Minhas desventuras nas ruínas do antigo império tiveram seus momentos derradeiros em um pequeno vilarejo chamado Mardóvia na região ancestral da Valáquia, local que guarda os segredos do Castelo Valenescu, que embora tenha a aparência de ter sido abandonado há muito tempo, muitos falam que o próprio lorde do local, Conde Stefan, ainda mora lá nos dias de hoje.
E eu não acreditava nos aldeões...
A vila é exatamente isso, um pequeno povoado que de tão isolado do mundo depois que ocorreu o fatídico Cataclisma, nem haviam clérigos no lugal. Obviamente, como era meu dever e, devo admitir, desejo também; acabei por ficar entre seus moradores e servir como a única luz dos Deuses diante daquelas trevas.
Diante de tantos acontecimentos sinistros hoje eu quase não consigo me lembrar dos meus primeiros anos ali, pois eles foram bons. Encontrei uma dedicada aluna e companheira chamada Katarina Dobrev. Aqueles foram bons anos e geraram muitos bons frutos para mim e principalmente para a comunidade, mas então a verdade saiu do interior da neblina espessa.
Começamos a ter vários problemas com o cemitério ao norte de Mardóvia e logo percebemos se tratar de mortos-vivos! Entretanto, os que ainda caminham já não seria um problema tão sério, pois eu mesmo tinha fundado a Ordem dos Portadores da Luz e contava com quase dez companheiros corajosos e fiéis a causa.
No entanto, por mais que combatêssemos as criaturas, mais surgiam em outro dia e tivemos um trabalho enorme pra convencer a população que a partir daquele dia deveríamos queimar nossos mortos.
Mesmo assim, não adiantou muito.
O Bosque Raska, que quase engole totalmente a vila, acabou ficando ainda mais sombrio do que já era... Relatos de lobos enormes e morcegos medonhos têm sido cada vez mais freqüentes e praticamente qualquer um que se aventure por lá acaba desaparecendo. Eu mesmo perdi um dos meus melhores homens naquelas matas.
Logo, resolvi que eu deveria entender mais sobre o que estava acontecendo, assim eu deveria estudar mais sobre a história do Condado da Valáquia e sobre os mortos-vivos, por conseqüente a própria e nefasta necromancia.
E tive resultados esclarecedores.
Descobri, incrivelmente, que o Castelo Valenescu realmente ainda estava em atividade. Aquele era o lar dos lordes da Valáquia que tinham ganhado essas terras do próprio Imperador de Ergoth quando o império ainda estava no seu auge. Algum momento logo antes da Rebelião das Rosas.
A história da poderosa família Valenescu não chegou ao fim como a maioria das famílias meridionais ergothianas durante o Cataclisma. Eram os tempos de Titius e Anastásia Valenescu. Eles prevaleceram e quando os problemas da Era do Desespero atingiram suas terras houve quem se levantasse e os ajudasse.
Surgiu um cavaleiro incrivelmente hábil chamado Stephanos Von Torevich que expulsou as hordas de Ogros da Valáquia e desafiou que qualquer hoste maligna ousasse entrar naquele condado novamente.
Claro que Stephanos fora bem sucedido e a família Valenescu o encheu de honrarias lhe concedido tudo que o cavaleiro pedia, menos uma única coisa. Sua filha. A pequena e jovem Valéria.
Entenda que os pais adorariam casar sua filha com um poderoso cavaleiro como Stephanos, mas este era velho demais e causava profunda insatisfação em Valéria. Por fim, o Conde Titius Valenescu resolveu conceder a mão de sua filha caso ela mesma aceitasse Stephanos.
Isso nunca aconteceu.
Movido pelo sentimento de ingratidão e puro ódio Stephanos Von Torevich, o cavaleiro branco que salvara o condado, se voltou contra o castelo e assassinou toda a família Valenescu deixando somente a jovem Valéria com quem se casaria, agora, a força, mas esta, por um golpe do destino, se matou pulando de uma das torres do castelo, horrorizada com as atrocidades de Stephanos.
Mesmo com a perda, o cavaleiro se auto-intitulou Conde da Valáquia e governou o castelo por... todos esses anos. São duzentos anos de governo, mais os cinqüenta que ele deveria ter na época, logo percebo que não é natural essa criatura.
Isso eu descobri por último, pois o Conde Stefan que todos falam não é seu descendente, mas sim o próprio Stephanos que matou a família Valenescu comendo seus corpos e bebendo de seus sangues.

Este é o inimigo que eu enfrento, uma criatura sinistra quase tão antiga quanto nossa Era e que levou a vida da maioria dos meus homens e de muitos inocentes da vila da pequena e simplória Mardóvia. Ele já levou quase tudo de mim e é por isso que desesperadamente venho pedir ajuda de vocês e já me condeno por trazê-los ao terror que temos vividos aqui nas ruínas do Antigo Império de Ergoth.