terça-feira, 20 de agosto de 2013

O Crepúsculo do Heróis

             
Nesses dias eu, como muitos da minha idade, fui com muitas expectativas ver o filme novo do Superman chamado Homem de Aço. Não irei falar diretamente sobre minhas impressões sobre esse filme aqui, mas comentarei principalmente o final (SPOILER) em que nosso “herói” mata em suposta defesa dos inocentes o vilão chamado Zod.
            Minha maior estranheza não foi com tal fato em si, mas com o pequeno garoto de apenas 4 anos que assistia o filme ao meu lado no cinema indagar o pai do porque o Superman estava se penalizando pelo tal ato. O pai, atenciosamente, explica que o “Super” não queria matá-lo, já que ele é um herói e heróis não fazem isso. O garoto respondeu simplesmente que Zod é um vilão, logo ele DEVE morrer.
            Entrei em uma leve discussão sobre isso com um grande amigo meu e fiquei refletindo sobre um de seus comentários. Ele disse que nos dias de hoje os heróis morreram e agora temos apenas anti-heróis e isso atinge até os clássicos heróis. Juntando isso ao fato de muitos comentários na internet sobre o filme eu sou obrigado a concordar com tal argumento.
            Mas... Por quê?
            Mudamos tanto assim que não vemos mais a necessidade de criar estórias com heróis clássicos para nossas crianças?  
            Ora é natural preferirem Han Solo à Luke Skywalker, Lancelote à Rei Arthur ou Wolverine à Ciclope. No entanto, sempre existem os Lukes da vida, mesmo que sejam apenas para contrapor o anti-herói. Esses são personagens ótimos, sem dúvidas. A lenda do Rei Arthur é pior sem o Lancelote (a original era assim), mas também fica péssima sem a caracterização do herói.
            Receio que isso se iniciou pela fissura na profundidade dos personagens. Isso é ótimo, pois colocar tons de cinza em enredos os torna mais verossímeis, mas e os velhos contos de fadas. Ainda existem espaço para os heróis de caráter inabalável?
            Aqui, receio, que nossa sociedade tem algo a dizer. Vivemos em um mundo em que a violência não é só banalizada nos jornais, mas nas nossas ações do dia a dia, quando fechamos o vidro do carro para não ver um mendigo na rua ou cometermos pequenos delitos dentro da máxima de sermos sempre os mais espertos.
            Vivemos um tempo em que dizem que é melhor ser o opressor do que ser a vítima e isso não é de hoje, vem desde lá de trás. Da História que não estudamos e do mundo que fingimos ignorar.
            A literatura, filmes ou quadrinhos são apenas reflexos da sociedade de uma época em questão. Sendo assim há muito mais por trás do Superman, um “bom moço” ser retratado da forma que foi em seu último filme. Há muito mais por trás de personagens fascistas como o Capitão Nascimento ou psicopatas como Rorscharch serem aclamados como verdadeiros heróis pelo público.  
            Claro que eles são ótimos, adoro ambos, mas não em colocação de que o herói clássico é um otário. Li muito sobre que o novo Superman não é mais um otário. Eu mesmo tenho minhas queixas pessoais ao antigo “Super” como um personagem que representa o conservadorismo e o ufanismo estadunidense, mas obviamente esses aspectos estão presentes no novo filme, mas seu lado paladínico foi extirpado.
            Talvez seja exagero ou conservadorismo meu ou talvez a visão da Bradley em As Brumas de Avalon onde Arthur é um corno otário e Lancelote é o grande herói, mesmo roubando a mulher do amigo tenha sido trazida a quase todas obras nos dias de hoje.
            Os valores mudaram, sem dúvidas, mas eles mudam sempre não é mesmo?
            Não é no final dos anos 70 no ápice dos filmes de anti-heróis como em Desejo de Matar e Taxi Driver que um impopular nerd iniciou uma das maiores franquias do cinema chamada Star Wars,onde um jovem cavaleiro resgata a princesa de uma fortaleza impenetrável?

            Adoro anti-heróis sem dúvidas. Adoro o Han Solo, Dexter e o Justiceiro. Adoro aqueles heróis com cara de vilão que trucidam os vilões e causam uma vingança poética naqueles que oprimem suas vítimas. Sobretudo adoro os tons de cinza de um fascista e psicopata chamado Rorscharch que tem uma visão mais pura e verdadeira no final de Watchmen, mas permitam que as pessoas também possam conhecer, e quem sabe adorar, o Coruja...

Um comentário:

  1. Excelente reflexão, deixando um gostinho de quero mais após "a História que não estudamos" :)

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