Livro
do gênero de ficção de terror estadunidense escrito por William Peter Blatty e
publicado em 1972. O Exorcista também teve sua versão para filme em 1973 sendo
adaptado para o cinema de forma muito fiel, pois contou com o trabalho do
próprio autor que também é roteirista. O livro foi reformulado por Blatty para
uma edição comemorativa de 40 anos e essa resenha é uma critica justamente a
essa versão traduzida pela Carolina Caires Coelho.
O escritor se baseou em uma matéria jornalística
“real” sobre um garoto de 14 anos cuja família alegava que o mesmo esteve
sofrendo de possessão demoníaca. Essa história do garoto real também é relatada
no livro do Thomas B. Allen chamado O
Exorcismo que também narra como os eventos serviram de inspiração para
Blatty.
William
Peter Blatty é um escritor e roteirista nova-iorquino aclamado principalmente
por essa obra, mas foi autor de outros livros como A Nova Conspiração de 1978 e O
espírito do Mal de 1983. Ganhador de
um Oscar por sua fiel adaptação ao filme de 1973 dirigido por William Friedkin
e também trabalhou no roteiro de outros filmes pouco conhecidos como Lili, Minha Adorável Espiã de 1970,
dirigido por Blake Edwards e chegando a dirigir O Exorcista III em 1990, baseado em outro de seus romances chamado Legião de 1983.
O Exorcista
conta a história da atriz em ascensão Chris MacNeil e o drama com sua filha de
11 anos Regan que tem mudanças bruscas físicas e psicológicas, bem como também
narra a trajetória do padre Damien Karras que recentemente teria perdido sua
mãe acreditando ter negligenciado ela e não mais consegue se conectar
espiritualmente com seus afazeres para com a Igreja Católica.
Embora
o próprio autor diz ter “caído do gênero de terror por acidente nessa obra”
temos claros momentos de tensão que vão crescendo angustiantemente com uma
letargia aterradora gerando no leitor um clima de suspense que toma conta de
forma horripilante em seu desfecho final que mais causa choque do que medo
propriamente dito. No entanto, até o clímax, somos perturbados por
coincidências estranhas e situações inquietantes.
Uma
narrativa muito bem estruturada que não declara, até seus momentos derradeiros,
se realmente se trata de uma possessão demoníaca ou alguma enfermidade ou
desvio psicológico. Blatty é brilhante ao instigar dúvida no leitor utilizando
de elementos críveis como todos os médicos e psiquiatras que tentam, sem
sucesso, tratar a pequena Regan. Para deixar tudo bem amarrado o autor abusa de
termos técnicos da psiquiatria e teorias discutidas em boa parte da obra.
Alguns
leitores podem acabar se irritando com toda uma a construção dos médicos
examinando e apesar da clara competência que os personagens parecem ter, não
conseguem resolver muito e passando para outra teoria só para ser mais uma vez
quebrada pelos exames submetidos à inocente Regan. Mas essa narrativa é
totalmente compatível com o ateísmo de Chris MacNeil e com a descrença da era
moderna que o autor tanto critica tornando a história mais plausível.
Entretanto,
ao mesmo tempo que temos um ceticismo presente, principalmente na mãe de
Reagan, temos vários elementos narrativos no mínimo medonhos acontecendo na
casa reforçados paralelamente por profanações acontecidas em uma igreja próxima
bem como a presença quase reveladora de uma médium Mary Jo Perrin que, em pouco
que aparece, tem falas que aumentam ainda mais a tensão da história.
Essa
forma que a tensão vai preenchendo a narrativa nos dá a impressão que cada vez
mais alguma entidade está, aos poucos, dominando a garota e ganhando cada vez
mais força. Tudo isso descrito com bastante calma pelo autor, mas sem perder em
momento algum a expectativa do leitor que fica totalmente preso às páginas e
acontecimentos habilmente narrados.
William
Peter Blatty usa do mais refinado de sua escrita em O Exorcista construindo um enredo sólido e conseguindo caminhar no
limiar do real cético e do horror sobrenatural, sem entregar levianamente seu
inexorável final. A habilidade que ele dispõe os elementos narrativos é
impressionante dando uma sensação única no leitor que sente medo, estranheza,
emoção e até nojo na hora certa devido a ótima capacidade de descrição de cenas
pelo autor.
O
final tem alguns dos diálogos mais perturbadores que já li colocando
definitivamente essa obra como gênero de terror com momentos até escabrosos,
mas principalmente com um apelo psicológico sombrio e inteligente que nos faz
temer por todos os personagens envolvidos, não apenas pela inocente Regan.
O
autor trabalha com esses personagens e enredo para nos mostrar como estamos
distante da fé e da moralidade cristã ignorando a espiritualidade de Deus e a
existência real do mal encarnado representado pelo demônio. Assim Blatty constrói
o enredo de forma a corroborar com sua proposta de forma cativante e que faz
uma profunda reflexão do quanto os valores da modernidade podem estar
perdidamente deturpados e o quanto isso afeta intimamente a humanidade.
Finalmente
O Exorcista é recomendado para todos
aqueles que gostam de terror e suspense sendo uma obra prima do gênero. Uma
narrativa aterradora que é muito imitada por autores posteriores, mas muito
raramente trabalhada com tanta genialidade como por William Peter Blatty.
Essa resenha faz parte do projeto #DesafioLiteratureSe2019 do mês de janeiro com o tema "Uma história muito conhecida, mas nem tanto pelo livro" da booktuber Mell Ferraz.
Veja a baixo o vídeo em que ela expõe o desafio...