sábado, 17 de setembro de 2016

Homem-Animal de Grant Morrison e o Ativismo Ecológico



Grant Morrison comandou a que é considerada a melhor fase do Homem-Animal nas revistas The Animal Man 01 a 26 e na revista Secrets Origins 39 e, como seria conhecido do autor posteriormente, todas suas estórias são uma profusão de temas ligados por um fio condutor nem sempre muito visível ou claro para os leitores.
Temas filosóficos, a quebra da quarta parede, dramas familiares, o multiverso, alienígenas, xamanismo, desenhos animados, a busca pelos próprios ideais e conquistas pessoais entre outros são abordados por Morrison, mas talvez o mais importante e seu objetivo principal esteja em algum lugar entre a defesa dos animais, ecologia e vegetarianismo.
Tais assuntos poderiam muito bem cair no clichê, já que os temas ecológicos estavam ganhando força no final dos anos 80 e nos anos 90, ou poderiam ser abordados de maneira superficial, forçada e piegas, mas com certeza não é o que acontece em Homem-Animal.
O Ativismo Ecológico é abordado de maneira crua, embora gradual, que vai se tornando cada vez mais visceral na narrativa e faz o leitor se sentir entrando em um verdadeiro atoleiro de sujeira das industrias alimentícias e de corporações que fazem pesquisa cientifica com animais. Com certeza é um tema muito forte e a liberdade que Morrison teve para trabalhar veio muito do momento que os quadrinhos passavam naquela época.
Os leitores dos Estados Unidos já estavam se saturando das mesmices de revistas de super-heróis e buscavam novas leituras. No entanto, a Inglaterra via seu florescimento de novas historias em quadrinhos com abordagens diferenciadas mesmo para temas heróicos e alguns autores estavam ganhando muita notoriedade.
Assim, a DC Comics decidiu investir nesses novos quadrinistas em uma iniciativa que futuramente seria chamada de Invasão Britânica. A editora contratou esses autores para escrever nos Estados Unidos entregando apenas personagens de segunda linha não muito expressivos que estavam para serem cancelados e assim podiam trabalhar com mais liberdade e originalidade do que fariam com os heróis principais da empresa.
Foi quando Allan Moore escreveu em O Monstro do Pântano, Neil Gaiman em Sandman e consecutivamente Grant Morrison foi escrever em Homam-Animal. Claro que todos fizeram um sucesso tremendo tornando seus nomes e as revistas muito aclamadas pelos leitores e de tão diferenciadas eras as estórias que a DC Comics acabou criando um novo selo de publicação chamado Vertigo para temas mais adultos e alterando para sempre o mercado de Histórias em Quadrinhos.
Grant Morrison pode então testar toda sua genialidade em temas que nunca um super herói alcançou e transformou o duble de cinema suburbano e caçador nas horas vagas, Buddy Baker em um ativista da causa dos animais, defensor da vida natural e vegetariano de maneira orgânica que faz o leitor não apenas se divertir com a revista, mas também refletir sobre questões tão pertinentes naquele momento e que está presente hoje em dia. Até mesmo quando o personagem surta e briga com sua própria esposa para não mais trazer carne para dentro da sua casa, os leitores entendem totalmente o que o faz agir de maneira tão radical.
O autor faz com que o Homem-Animal busque conciliar seu papel como pai de família que tem que ajudar no sustento da casa e ao mesmo tempo ser um super herói famoso e buscar o seu sonho que é entrar para a Liga da Justiça. Morrison também o faz encontrar com seu lugar no mundo criando uma empatia com os animais, que antes eram apenas a fonte dos super poderes do personagem, e que agora Buddy Baker os enxerga como seus iguais e tão merecedores de viver em felicidade no mundo como qualquer outro ser humano.
Esta comparação entre animais e o chamado humano atinge sua maestria quando Grant Morrison trabalha na origem do Homem-Animal o colocando em meio a experiências alienígenas que despertaram seus poderes em uma clara alusão as experiências cientificas que mutilam animais na desculpa que querem avançar no combate a doenças com novos “milagres” farmacêuticos.
A forma que Buddy Baker é jogado, sem chance de escolha ou reação, a essas experiências nos faz refletir na maneira fria e muitas vezes cruel como tratamos os animais e as questões de preservação da natureza. Assim como não nos importando com o destino do próprio planeta em que vivemos e dos seres outros em que o compartilhamos de forma tão abrupta e leviana.

Reflexões e ponderações que trás um gosto amargo em nossa boca e faz a estréia de Grant Morrison no mercado estadunidense de quadrinhos ter sido tão aclamada e sendo tanto a base da popularidade do personagem como de seu próprio autor que, no final das contas, talvez seja mais uma interpretação de metalinguagem deliberada do próprio Grant Morrison presente em Homem-Animal.

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