Grant
Morrison comandou a que é considerada a melhor fase do Homem-Animal nas
revistas The Animal Man 01 a 26 e na
revista Secrets Origins 39 e, como seria
conhecido do autor posteriormente, todas suas estórias são uma profusão de
temas ligados por um fio condutor nem sempre muito visível ou claro para os
leitores.
Temas
filosóficos, a quebra da quarta parede, dramas familiares, o multiverso,
alienígenas, xamanismo, desenhos animados, a busca pelos próprios ideais e
conquistas pessoais entre outros são abordados por Morrison, mas talvez o mais
importante e seu objetivo principal esteja em algum lugar entre a defesa dos
animais, ecologia e vegetarianismo.
Tais
assuntos poderiam muito bem cair no clichê, já que os temas ecológicos estavam
ganhando força no final dos anos 80 e nos anos 90, ou poderiam ser abordados de
maneira superficial, forçada e piegas, mas com certeza não é o que acontece em
Homem-Animal.
O
Ativismo Ecológico é abordado de maneira crua, embora gradual, que vai se
tornando cada vez mais visceral na narrativa e faz o leitor se sentir entrando
em um verdadeiro atoleiro de sujeira das industrias alimentícias e de corporações
que fazem pesquisa cientifica com animais. Com certeza é um tema muito forte e
a liberdade que Morrison teve para trabalhar veio muito do momento que os
quadrinhos passavam naquela época.
Os
leitores dos Estados Unidos já estavam se saturando das mesmices de revistas de
super-heróis e buscavam novas leituras. No entanto, a Inglaterra via seu florescimento
de novas historias em quadrinhos com abordagens diferenciadas mesmo para temas
heróicos e alguns autores estavam ganhando muita notoriedade.
Assim,
a DC Comics decidiu investir nesses
novos quadrinistas em uma iniciativa que futuramente seria chamada de Invasão
Britânica. A editora contratou esses autores para escrever nos Estados Unidos
entregando apenas personagens de segunda linha não muito expressivos que
estavam para serem cancelados e assim podiam trabalhar com mais liberdade e
originalidade do que fariam com os heróis principais da empresa.
Foi
quando Allan Moore escreveu em O Monstro do Pântano, Neil Gaiman em Sandman e
consecutivamente Grant Morrison foi escrever em Homam-Animal. Claro que todos
fizeram um sucesso tremendo tornando seus nomes e as revistas muito aclamadas
pelos leitores e de tão diferenciadas eras as estórias que a DC Comics acabou criando um novo selo de
publicação chamado Vertigo para temas
mais adultos e alterando para sempre o mercado de Histórias em Quadrinhos.
Grant
Morrison pode então testar toda sua genialidade em temas que nunca um super herói
alcançou e transformou o duble de cinema suburbano e caçador nas horas vagas, Buddy
Baker em um ativista da causa dos animais, defensor da vida natural e
vegetariano de maneira orgânica que faz o leitor não apenas se divertir com a
revista, mas também refletir sobre questões tão pertinentes naquele momento e
que está presente hoje em dia. Até mesmo quando o personagem surta e briga com
sua própria esposa para não mais trazer carne para dentro da sua casa, os
leitores entendem totalmente o que o faz agir de maneira tão radical.
O
autor faz com que o Homem-Animal busque conciliar seu papel como pai de família
que tem que ajudar no sustento da casa e ao mesmo tempo ser um super herói famoso
e buscar o seu sonho que é entrar para a Liga da Justiça. Morrison também o faz
encontrar com seu lugar no mundo criando uma empatia com os animais, que antes
eram apenas a fonte dos super poderes do personagem, e que agora Buddy Baker os
enxerga como seus iguais e tão merecedores de viver em felicidade no mundo como
qualquer outro ser humano.
Esta
comparação entre animais e o chamado humano atinge sua maestria quando Grant
Morrison trabalha na origem do Homem-Animal o colocando em meio a experiências alienígenas
que despertaram seus poderes em uma clara alusão as experiências cientificas
que mutilam animais na desculpa que querem avançar no combate a doenças com
novos “milagres” farmacêuticos.
A
forma que Buddy Baker é jogado, sem chance de escolha ou reação, a essas experiências
nos faz refletir na maneira fria e muitas vezes cruel como tratamos os animais
e as questões de preservação da natureza. Assim como não nos importando com o
destino do próprio planeta em que vivemos e dos seres outros em que o
compartilhamos de forma tão abrupta e leviana.
Reflexões
e ponderações que trás um gosto amargo em nossa boca e faz a estréia de Grant Morrison
no mercado estadunidense de quadrinhos ter sido tão aclamada e sendo tanto a base
da popularidade do personagem como de seu próprio autor que, no final das
contas, talvez seja mais uma interpretação de metalinguagem deliberada do próprio
Grant Morrison presente em Homem-Animal.
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