Carol
Susan Jane Danvers é uma personagem fictícia criada pelos quadrinistas Gene
Colan e Roy Thomas para a editora Marvel
Comics em 1967. A heroína teve várias encarnações e nomes diferentes em
suas várias fases bem confusas e com grande diversidade de roteiristas e
artistas, mas inicialmente ela surgiu para ser apenas uma coadjuvante nas
revistas do Capitão Marvel e logo acabou
se tornando o par romântico de Mar
Vell capitão e membro da raça alienígena Kree.
Nesse
início Carol não passava de parte de um triângulo amoroso entre ela, o Capitão
Marvel e outra personagem chamada Una. Aqui Danvers ainda não tinha super
poderes, mas era renomada major da Força Aérea dos Estados Unidos, sendo
inclusive exímia piloto, chegando a trabalhar para C.I.A. (Central
Intelligence Agency) ao lado de personagens famosos da editora como o
Wolverine. No entanto, foi em um trabalho posterior como chefe de segurança da
N.A.S.A. (National Aeronautics and Space
Administration), em uma instalação no Cabo Canaveral, que a personagem
conheceu o Capitão Marvel e assim figurando o título do herói alienígena.
Entretanto
com o fortalecimento da Segunda Onda do Feminismo (iniciada ainda nos anos 60 e
mais evidenciada nos anos 70) os editores da Marvel Comics, principalmente Stan Lee, viram uma oportunidade de
atrair mais leitoras para as histórias em quadrinhos. A Casa das idéias sempre
foi relacionada por ter enredos de vanguarda e por destacar os movimentos
sociais à medida que ocorriam nos EUA e no mundo ao seu redor. Logo era
esperado que cedo ou tarde a editora buscasse criar uma forte personagem feminina
como ícone, aos moldes da Mulher Maravilha heroína da concorrente DC Comics.
Essa
postura da Marvel sempre é vista como
ideológica e, por vezes de viés doutrinador, mas, na verdade, está muito mais
relacionada simplesmente com as vendas da revista, buscando sempre novos
leitores em grupos de pessoas que normalmente não lêem quadrinhos, aumentando
exponencialmente os lucros da editora. Logo se entendeu que era necessária,
pelo contexto da época, a criação de verdadeiro símbolo feminino para ser a nova
super heroína da Casa das Idéias.
Assim
Mary Skrenes ficou responsável por dar forma a uma nova personagem que seria
uma garçonete chamada Loretta Petta que se transformava em super-heroína, ou
seja, uma personagem totalmente original. No entanto, a idéia foi recusada pela
editora que incumbiu a outro roteirista a uma nova proposta. Gerry Conway então resgatou a modesta
coadjuvante Carol Danvers transformando-a em não mais que versão feminina do
Capitão Marvel, chamada de Miss Marvel, que teria ganhado seus poderes pelas
ações do vilão Yon-Rogg, um outro
alienígena da raça Kree. Na ocasião,
Carol tinha sido seqüestrada pelo inimigo ( o que geralmente acontecia com as
namoradas SOS heróis) e durante a explosão, causada pelo facínora com seus
raios Psico Magnitron, o Capitão
Marvel tentaria protegê-la com o próprio corpo, mas a radiação acabou
misturando seu DNA Kree com o da
Carol concedendo a ela parte de seus poderes.
Surgia
então Miss Marvel (primeira encarnação heróica de Carol Danvers) que, pelas
mãos de Gerry Conway e John Buscema ganhava um título próprio em 1977. Uma das
primeiras super-heroínas dos quadrinhos, mas que falha como representação
feminina ao elaboraram uma origem totalmente dependente de um patrono homem,
sendo apenas sua versão mulher, e com roteiros no mínimo desastrosos que a
personagem sofreria nessa primeira fase.
Uma
integrante sem muito destaque dos Vingadores, Miss Marvel teria dupla personalidade
no inicio (Carol humana comum e a Miss Marvel super-heroína Kree) que geravam vários problemas. No
entanto, talvez o pior arco de histórias da personagem seja quando ela foi
abusada sexualmente por um vilão chegando inclusive a engravidar e sendo levada
para se casar com seu estuprador. Uma história tão mal construída onde, em Avengers 200, nem mesmo os Vingadores foram
colocados para ajudar a amiga abduzida pelo seu algoz, que a levou para o Limbo,
uma outra dimensão.
Entendemos
assim que apesar da Marvel Comics ter
tido a iniciativa de criar uma super-heroína para sua editora, a Casa das
Idéias não soube bem como trabalhar com uma personagem feminina e,
provavelmente, buscando toscamente eliminar Miss Marvel jogando-a literalmente no
limbo. Mas logo o, já aclamado roteirista dos Fabulosos X-men, Chris Claremont
resolve, no inicio dos anos 80, resgatar Carol Danvers trazendo justiça a uma
heroína tão maltratada, inclusive fazendo-a confrontar os Vingadores mostrando
sua hipocrisia ao deixá-la nas mãos de tão vil algoz.
Agora
Miss Marvel apareceria nas revistas dos Filhos do Átomo sendo bem melhor trabalhada
como apenas o quadrinista de um título que tratava sobre preconceito poderia
escrever. Nessa fase Carol se
transformaria na heroína chamada Binária (sua segunda encarnação) pelos desenhos
de Dave Cockrun iniciada na Uncanny X-Men
164 de 1982, ampliando seus poderes como nunca e fazendo parte de aventuras
cósmicas como integrante do grupo espacial Piratas Siderais.
A
popularidade da personagem foi crescendo aos poucos e no final dos anos 90 a
editora percebeu que já era hora da Carol voltar de suas aventuras no espaço e
figurar mais uma vez aos Vingadores, agora em sua terceira encarnação heróica
chamada de Warbird pelas mãos do aclamado George Pérez e Kurt Busiek na que
seria uma das melhores fases dos assim chamados Heróis mais Poderosos da Terra.
Carol
Danvers cada vez mais foi ganhando maior destaque com uma editora cada vez mais
empenhada em torná-la a super-heroína principal da Marvel Comics e uma adversária digna para a concorrente da DC Comics, Mulher Maravilha. Foi sendo
elaboradas histórias mais profundas, e com dilemas humanos e sofrendo conseqüência
de seu passado ao melhor estilo Marvel,
como quando ela tem que lidar com alguns transtornos devido a confusão mental
que sua encarnação de Binária acarretou, chegando ate mesmo ao alcoolismo. Ela
venceu com ajuda de amigos como Tony Stark (Homem de Ferro) que também tinha
sofrido com o mesmo problema de excesso com bebidas alcoólicas.
A
idéia de fazer dela, apesar de humana, uma melhor representação feminina que foi
tomando forma, mesmo que vagarosamente. Foi ficando cada vez mais claro que a
personagem deveria crescer ainda mais para ser um destaque não apenas nos
quadrinhos, mas também em outros projetos da Marvel.
Foi
então que em 2012, Carol passaria por mais uma e derradeira mudança. Por
conselhos de ninguém menos do que o Capitão América, a personagem passaria a
assumir o manto do herói que a inspirou adotando o nome de Capitã Marvel (sua
última encarnação. Trazida pela quadrinista Kelly Sue Deconnick com titulo
próprio, já que não há mais um Capitão Marvel na editora (vale salientar que o
título em inglês, Captain Marvel,não
tem gênero).
Agora
a Carol Danvers estaria na frente de importantes sagas da Casa das Idéias sendo
uma das personagens principais da Marvel
Comics visando uma representação feminina mais respeitosa e condizente com
o contexto atual, mas ainda falhando com algumas decisões editoriais, como
sendo colocada praticamente como vilã em na saga Guerra Civil II, por exemplo.
Entretanto,
não se pode negar a importância do papel da Capitã Marvel para a
representatividade feminina mesmo com tantas histórias controversas em seus
altos e baixos. A personagem é praticamente indispensável para uma análise de
como a mulher tem sido representada nas histórias em quadrinhos de super-heróis
nas ultimas décadas e nos mostra como os leitores ainda reagem a uma
protagonista feminina que, principalmente, não se encaixa mais no padrão de
mulher hiper sexualizada tão comum nas histórias em quadrinhos.
A
Capitã Marvel hoje raramente é representada em posições constrangedoras e usa
um uniforme mais pratico (e mais condizente com seu histórico militar) que não,
necessariamente, evidencia suas curvas. Ela é uma personagem que prova seu
valor por ser heróica e não por ser um desejo sexual. Até mesmo sua origens
sofreu mudanças para retirar o total Complexo da Costela de Adão gerado pela heroína
ter recebido os poderes acidentalmente de uma figura masculina.
Carol
vence e alcança lugares onde tradicionalmente apenas os homem conseguiam chegar
e o faz mostrando muita força e personalidade sendo reconhecida pelos seus
colegas como uma igual e não sendo inferiorizada momento algum por ser mulher e
nisso, devemos reconhecer, a Marvel
Comics tem acertado muito.
Entretanto,
por um lado temos uma personagem extremamente importante que levanta temas
muito relevantes da nossa sociedade, em quase uma auto critica, mas por outro
lado temos historias quase sempre ruins de roteiro em sua trajetória que acabaram
acarretando em ainda mais preconceito com a imagem das mulheres no meio
quadrinístico, seja por pura implicância machista de alguns leitores ou seja
simplesmente por arcos mal escritos que gerava um protagonismo forçado da super
heroína em uma elaboração raza demais para ser crível.
Talvez
a maior importância das histórias em quadrinhos da Capitã Marvel é perceber claramente
que boas histórias não são feitas apenas por colocar superficialmente
determinados personagens levantando uma bandeira sem qualquer profundidade ou
conhecimento de causa, mas sim de boas histórias que podem sim ter suas criticas
sociais. No entanto, essas questões devem ser construídas com seriedade e
principalmente com bons quadrinistas que realmente se dediquem a contar, além
de ótimas histórias, enredos que ainda traga importantes reflexões sobre nossa
sociedade.
É
assim que se constrói uma boa narrativa gráfica.
Temos
ainda, infelizmente, uma legião de fãs que parecem não terem entendido que o público
algo da personagem não são necessariamente eles, mas sim leitores de quadrinhos
diferentes do usual e não há problema nenhum com isso, pois estes sempre
tiveram uma profusão de personagens para se sentirem representados. Carol
Danvers (agora Capitã Marvel) foi desde o inicio criada para conversar e se
identificar mais com o público feminino que ainda não tinham muitas opções de
representatividade. Tudo isso traz uma maior diversidade de leitores e
mostrando perspectivas cada vez mais diferentes evoluindo todo o contexto narrativo
da Nona Arte.
A
Capitã Marvel, em todas as suas encarnações, quase nunca retratada da maneira
correta, mas teve um esforço quase louvável de atrair garotas para as histórias
em quadrinhos onde elas possam se sentir finalmente representadas em um meio
repleto de preconceitos e machismos, que não é nada mais de um micro reflexo de
nossa própria sociedade. Talvez essa seja a verdadeira importância da
personagem na atualidade, pois ao mesmo tempo que nos faz refletir como pessoas,
também busca uma melhor representatividade feminina no real cenário de cultura
nerd e pop.
Nenhum comentário:
Postar um comentário