quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Questão de Fé...


“Feel the anxiety hold off the fear
some of the doubt in the things you believe
Now that your faith will be put to the test
nothing to do but await what is coming
Why is then God still protecting me
even when I don't deserve it?
Though I am blessed with an inner strenght
some they would call it a penance
Why am I meant to face this alone
asking the question time and again
Praying to God won't keep me alive
Inside my head feel the fear start to rise...”

Sign Of The Cross - Iron Maiden



Caiu de joelhos no campo de batalha com os braços latejantes de dor e com uma leve vertigem por todo o esforço que a guerra lhe trazia aquele dia. Podia sentir o cheiro de morte por toda a parte e se perguntou se haveria perdão para tudo aquilo. Observava o que tinha feito e mais uma vez sua bravata escapou a boca.
- Sou a vontade de Deus e antes de cair verei os corpos dos meus inimigos em minha volta consagrando essa terra com seu sangue infiel!
Olhou para o céu como quem quisesse desviar do resultado do seu próprio pecado. Como se assim o fizesse, teria respostas para tanta brutalidade. Matar era pecado, mas escutou seus padres dizendo que matar um infiel era um passo para o paraíso. No entanto, como então podia se sentir tão mal ainda?
Tinha a impressão que o nível do sangue no chão era tanto que atolava seus joelhos, mas deveria estar delirando. Claro! Estava exausto da contenda e matar os muçulmanos não era assim não fácil como os mais velhos diziam. As canções também não diziam o quanto era bárbara e cruel a guerra. Não falaram do quanto ele se sentiria sujo...
Mesmo o negro de sua roupa estava ruborizado, mas não tão tingindo como a cruz branca que percorria quase toda a vestimenta. Lavaria com dificuldade, mas sairia. Complicado seria tirar o sangue da cota de malha, talvez limpando anel por anel. Mas e a sujeita de seu corpo? Mas e a sujeira de sua alma?
Não! Aquilo era errado e não importavam o que diziam. Passou toda a vida sendo um bom cristão e agora a própria cristandade o tinha enviado para uma terra que só conhecia pelas escrituras e para que? Para matar pessoas estranhas cuja cultura exótica nunca tinha ouvido falar. Não havia sentido naquilo.
Os outros cavaleiros pareciam não se importar. A vontade de Deus. Ouvira muito essas palavras ultimamente, mas não tinha mais tanta certeza disso. Na verdade, não tinha mais certeza do certo ou do errado. Não sabia se o mundo era mesmo era mesmo dividido entre o bem e o mal. Desacreditava nos desígnios de Deus, afinal Ele, em Sua infinita sabedoria, não poderia permitir aquela atrocidade.
Sabia, no fundo, que os homens eram culpados por seus atos. Livre arbítrio. Culpar Deus era apenas uma maneira de se enganar. Ele mesmo era o responsável por todas aquelas mortes que provocara. Pelos órfãos que fizera. Pelos pais que nunca verão seus filhos voltarem. Pelas mulheres que sofreram com lágrimas e lamentos...
Assim só restava uma coisa a fazer. Umas palavras a proferir:
- Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.Te decet hymnus, Deus, in Sion, et tibi reddetur votum in Jerusalem. Exaudi orationem meam, ad te omnis care veniet. Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.

2 comentários:

  1. Muito bom, muito bom mesmo! Adoro essa temática, e o texto ficou bem impactante. Só senti falta de mais descrição do cenário e da cena, mas muito bom. Como é um texto mais intimista, creio que a intenção tenha sido mesmo não se estender nisso.

    Abraços.

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  2. Opa...
    Tentei não descrever muito para dar um certo ar de atordoamento...
    Acho q até acabei descrevendo muito, mas...

    Valeu pelo comentário!
    Eu tmb gostei do texto e me veio do nada...

    Abraços

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