terça-feira, 27 de julho de 2021

Arqueiro Verde: Os Caçadores


Minissérie da DC Comics publicada de agosto a outubro de 1987 em três edições escrita e desenhada por Mike Grell com a assistência de Lurene Haines e as cores de Julia LacQuemetOs Caçadores narra a perseguição de Oliver Queen à um serial killer enquanto sua namorada está investigando os traficantes de drogas ilícitas de sua cidade. Logo temos o super herói em uma temática mais profunda e adulta onde os vilões são substituídos por senhores do crime das ruas e por políticos corruptos. No entanto, existe outro caçador que tem uma habilidade com arquearia comparável ao protagonista, mas não tem suas convicções morais e éticas. Assim a minissérie eleva as histórias do personagem à um patamar mais sombrio e verossímil com pertenço realismo que, embora não tenha sido abordado desta forma pela primeira vez, traz aqui uma carga bem mais madura do herói que deve lidar não apenas com criminosos bem reais, mas também como dilemas cotidianos de sua vida ordinária de um homem comum que já sente o peso e as responsabilidades dos anos em suas costas. 

Muito inspirada na abordagem de Denny O’Neil e Neal Adams em 1960 quando eles colocam o Lanterna Verde e o Arqueiro Verde em uma viagem pelo interior dos Estados Unidos mostrando todas as mazelas e incoerências de um país forjado por guerras e desigualdade social em que ainda estava longe de ser a democracia perfeita que tanto fazia parte de sua propaganda nacionalista. Oliver Queen era o guia desta roadtrip onde o personagem estava se estabelecendo não mais como um simples rico que ajudava os pobres (inspiração obvia em Robin Hood), mas que era um ativista envolvido em questões sociais, ao mesmo tempo que um homem falho, que tinha também seus próprios preconceitos e dúvidas internas de como deveria ser realmente um super herói. 



Entretanto em Os Caçadores damos mais um passo de profundidade à essa camada “mais realista ou adulta”. Agora não seria mais focada, apenas, na visão diferenciada de Arqueiro Verde para com os outros super heróis, mas com o Oliver Queen totalmente imergido nos meandros da criminalidade das ruas ao tempo que persegue os representantes de um Estado corrupto que não apenas amplia a desigualdade social e a miséria em sua volta, mas também como parece enriquecer com a manutenção desse círculo vicioso. Logo, o protagonista se vê em dilemas morais de como deve agir diante de tão perversos oponentes e sistema, bem como encontra uma contraparte sua bem menos idealista que fora vítima de tais opressores e agora busca sua vingança fria utilizando de qualquer meio necessário.  

A busca por histórias mais realistas também fica claro em pequenas, mas significativas, mudanças no universo do personagem, como, por exemplo, a alteração da sua cidade de atuação, a fictícia Star City para a real Seatle. Assim fica mais evidente a verossimilhança da história sendo narrada dando ao leitor um sentimento de um enredo mais possível e menos fantasioso.  

O Arqueiro Verde também se torna mais profundo e maduro mostrando a relação que tem com sua namorada, Dinah Lance, e as problemáticas de pessoas comuns sendo também grandes obstáculos para o protagonista como o envelhecimento e suas contemporizações sobre seu tão incerto futuro. Logo temos um Oliver que deseja levar seu relacionamento ao próximo nível, mas encontra, pela visão de Dinah, a problemática de tais relações com a vida extremamente perigosa de vigilantismo. Aliás a abordagem da Canário Negro aqui é incrível, pois fica claro o quanto ela é apaixonada pelo Arqueiro Verde ao mesmo tempo que ela é uma mulher muito independente e que, ambos, sabem muito bem respeitar suas individualidades. Chegam até a serem meio individualistas em algumas questões, principalmente na forma que cada um leva o combate ao crime.  

Claro que também temos ação e aventura dignas de estórias de super heróis, mas aqui vemos sua melhor fase investigativa tanto como detetivesca nas ruas periféricas da cidade, bem como de um exímio rastreador em florestas, talvez devido ao seu passado como um sobrevivente de áreas selvagens. Temos assim um caçador nato tanto em ambiente urbano como em ambiente natural. E, quanto a isso, uma mudança no personagem foi fundamental... o abandono de parafernálias tecnológicas e flechas com mil habilidades, enfocando agora mais em sua inteligência a precisão com a arquearia. Tal mudança deixou o personagem ainda mais humano e crível, o que era claramente o objetivo.  



Os desenhos de Mike Grell casam tão bem com esse clima soturno quanto seus próprios roteiros. Fruto de um quadrinista experiente em obras autorais como Jon Sable Freelance e Starslayer, bem como outras obras na DC Comics, sobretudo o título Super Boy e a Legião dos Super Heróis onde teve muita notoriedade. Ele mesmo já tinha experiencia com o personagem no renascimento do título de Lanterna Verde/Arqueiro Verde em 1976 junto com Denny O’Neil que obviamente inspirou Os Caçadores. Os desenhos de Grell aqui são muito ao estilo noir (como seu roteiro) em ângulos mais desafiadores do que é comum em quadrinhos de super heróis. Utiliza muito de closes em detalhes importantes para sua narrativa (como mostrar em destaque a ponta da flecha antes de um disparo ou os olhos do arqueiro trazendo tensão) bem como passadas de quadros muito arrojadas e dinâmicas dando velocidade a cenas de ação. As cores executadas por Julia LacQuemet complementam o clima sombrio que o autor busca nessa publicação dando um acabamento refinado a esse material. 

Essa união de roteiro e arte fez com que o Arqueiro Verde deixasse de ser visto como não mais que um parceiro do Lanterna Verde, emplacando o personagem para um maior destaque na editora chegando a concorrer a prêmios importantes como o Eisner. Isso garantiu a contratação de Mike Grell como quadrinista principal para as mensais de Oliver Queen, tornando sua restruturação do protagonista ainda mais permanente sendo revisitado até as histórias em quadrinhos atuais. O artista mudou e aprofundou o personagem definindo não apenas o Arqueiro Verde, mas como boa parte do seu universo chegando a criar coadjuvantes marcantes, como a arqueira asiática Shado, que se tornaram fundamentais em sua mitologia.  



Assim Mike Grell foi fundamental para estabelecer o Arqueiro Verde ao que ele é hoje, popularizando o personagem e o tornando ainda mais importante no Universo da DC Comics. Os Caçadores ainda é um dos melhores materiais sobre Oliver Queen sendo fundamental para sua mitologia e uma das principais referências para publicações futuras do mestre da arquearia e defensor dos mais oprimidos.  

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