domingo, 25 de julho de 2021

Thor: O Último Viking


Arco das histórias em quadrinhos que marca o início da fase de Walter Simonson no título do Poderoso Thor pela Marvel Comics sendo reconhecida como um dos melhores materiais do personagem desde a era Stan Lee e Jack Kirby, seus criadores originais. Aqui temos um conto épico em escala cósmica que redefiniu o Deus do Trovão gerando um legado sentido até hoje em suas revistas. Nunca a junção dos temas de super herói, ficção cientifica e mitologia nórdica foi entrelaçada de forma tão orgânica e funcional em sua narrativa.  

Temos aqui a criação de um dos mais importantes, e queridos, personagens do universo do herói asgardiano, o extra terrestre ciborgue chamado Bill Raio Beta, que representa exatamente essa mistura de ópera espacial com alta fantasia. Um ser vindo dos confins espaço que tem uma horrenda forma alienígena cibernética e, ao mesmo tempo, possuidor de um coração tão puro que é capaz de levantar o mjolnir sendo tão, ou mais, digno que o próprio Thor.  



Justamente utilizando desta mistura que o quadrinista Walter “Walt” Simonson fez seu nome na indústria tanto como escritor e, bem como, desenhista também. Simonson já era grande fã do personagem bem antes de ter seu primeiro contato com o título de Thor como seu ilustrador anteriormente. Seu primeiro quadrinho que leu em vida foi justamente do Deus do Trovão pelas mãos de seus criadores Lee e Kirby tendo os traços desse último como grande influenciador de sua arte, mas é aqui que o fã amadurece e começa a trilhar seu próprio caminho.  

Apesar dos seus roteiros beberem muito da fonte do que tinha sido estabelecida anteriormente, Simonson traz a mitologia nórdica como uma forte inspiração nunca tão bem representada antes. Nessas páginas, aos poucos, o super herói vingador Thor vai se tornando cada vez mais o lendário deus Thor. Essa mitologia vai ganhando cada vez mais peso no enredo quando outras figuras asgardianas vão tendo uma participação cada vez maior no título e até alguns contos mitológicos acabem ganhando sua versão quadrinistica aqui. Assim temos uma relação mais próxima do personagem dos quadrinhos com o deus mitológico dando um certo tom de fábula as suas narrativas e tramas elaboradas.  



Talvez os interesses pessoais de Simonson com História e Arqueologia tenham sido fundamentais para essa construção narrativa, bem como o fato de ser leitor de quadrinhos, especialmente fã do poderoso Thor. No entanto, nada disso teria tanto significado se não fosse sua própria habilidade de escrever boas estórias tanto como força criativa de personagens e ideias como um bom desenvolvedor de tramas capaz de narrar de forma coesa ao decorrer do avanço do enredo. 

A sua incrível criatividade e habilidade para urdir temas tão distintos em um mesmo enredo também se faz igualmente capaz de enredar tramas diversas em uma mesma narrativa sequencial contínua. Mesmo nesse início temos, em um mesmo arco, um antigo dragão que ameaça Nova Iorque, alienígenas vindos do além espaço, os maquiavélicos planos de Loki, o último descendente dos Viking, entre outras estórias em meio ao inexorável retorno de Surtur. Tudo muito bem amarrado e nem um pouco exagerado ou confuso dando importância não apenas ao protagonista, mas a uma profusão de personagens coadjuvantes que conseguem enriquecer demais a trama principal deixando o universo do Deus do Trovão mais vivo e, até crível, do que nunca fora sequer imaginado.  



A habilidade narrativa de Simonson é comparável apenas a sua própria arte que está especialmente magnifica nessas páginas trazendo a mesma ligação orgânica nas estórias de super heróis, espaciais e mitológicas. Tudo é estranho e ao mesmo tempo que uma conversa muito bem com a outra. O leitor pode achar absurdo a ideia de um Thor que viaja pelo espaço na velocidade da luz em uma biga conduzida por dois bodes mágicos, mas que aqui, por algum motivo, isso parece plausível ou, ao menos, condizente ao universo ali criado.  

Assim o autor acaba reconstruindo as bases do personagem que ao invés de altera-las levianamente ou ignora-las, Simonson simplesmente as expande dando um sentido único a toda aquela profusão de temas ao mesmo tempo que consegue deixar sua marca como escritor e desenhista que é, até hoje, reverenciada e reconhecível pelos leitores contemporâneos e posteriores. São contos de aventura e muita ação para o divertimento, mas que ganha também certa notoriedade no aprofundamento e significância dos seus personagens bem como algumas questões pertinentes levantadas no desenrolar do enredo.



Tudo culmina nesse arco com o personagem ancião Eilif, o Ultimo Viking, que nomeia esse material trazendo uma carga emocional para fechar com chave de ouro esse início de publicação, buscando o heroísmo e a coragem em uma melancolia derradeira de sacrifício na tentativa de se alcançar os tão desejados salões sagrados, quase que como um paralelo ao próprio Simonson, que buscava alcançar sua importância no título do seu personagem preferido ao mesmo tempo que queria deixar um legado da sua arte e escrita ao universo das histórias em quadrinhos. Sendo assim tanto personagem como seu autor acabam por conquistar sua entrada ao Valhalla e seu lugar de direito entre os maiores campeões desse universo. 

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