Agora
com mais de dois anos depois e culminando em seu final, já está mais que na
hora de analisar toda a fase do DC
Renascimento, tanto em sua estória como na repercussão para compreender se
essencialmente esse período de publicações da editora realmente cumpriu a
proposta e se essa estratégia funcionou refletindo nas vendas.
O
DC Renascimento foi uma iniciativa da
editora em frente à baixa de vendas que estava sofrendo com a estratégia
anterior, o chamado Novos 52. Nessa
antiga fase, na tentativa de atualizar seus super heróis, a editora muda não só
o ritmo das estórias, alterando as equipes criativas, mas acaba exagerando nas
novas definições modificando a essência de seus personagens. O resultado é que os
antigos leitores ficaram muito insatisfeitos com o fato que não mais
reconheciam os seus heróis que cresceram amando e os novos não acharam as
estórias tão boas para continuarem lendo.
Os
Novos 52 foram um fracasso de publico
e vendas, logo o DC Renascimento
viria para arrumar a casa literalmente.
Para
deixar bem claro a estratégia da editora é lançada a revista em oneshot, ou seja de uma única edição,
chamado Universo DC Renascimento que,
unido a uma ótima campanha publicitária, mostra aos leitores para o que veio
indicando enredos que serão trabalhados até o final da fase. Com uma narrativa
emocionante de Geoff Johns que respeita todo o legado da editora, mas
principalmente seus leitores, o quadrinho foi um sucesso tremendo emocionando
os leitores antigos e empolgando os novos para ler toda a fase interessados no que
viria pela frente.
Assim
a primeira análise que podemos fazer do período é que a iniciativa Dc Renascimento cumpriu o que havia se
proposto a fazer, ou seja, que os heróis voltassem as suas personalidades
aclamadas e tivesses suas identidades novamente reconhecidas pelos leitores que
há muito os acompanhavam. Ainda trouxe leitores novos devido à enorme campanha
publicitária e a boa qualidade das estórias. Tudo isso sem alterar a cronologia
não caindo na estratégia batida de mais um reboot,
que tantos sempre reclamavam que acontecia muito no universo das histórias em
quadrinhos.
A
campanha publicitária acertada e a qualidade das estórias são peças
fundamentais, e pouco analisadas, do sucesso da iniciativa. Comparando com sua rival,
a Marvel Comics, que praticamente na
mesma época colocou em prática sua nova iniciativa chamada Totalmente Diferente Marvel, não tivemos no DC Renascimento algo da qualidade da revista Visão do Tom King, mas também não tivemos uma enxurrada de tantos
títulos sofríveis também, como acabou sendo feito pela editora concorrente. O
resultado disso refletiu nas vendas que inverteu o quadro colocando a DC Comics à frente em praticamente todo
esse período.
A
qualidade dos títulos do DC Renascimento se
mostraram bons, em uma maioria quase absoluta, tendo poucos títulos ruins que
mesmo assim não são um total desastre. Logo devemos fazer aqui um apanhado das principais
revistas mostrando suas características em linhas gerais para podermos analisar
esse período com um maior senso de criticidade. Posteriormente poderemos
analisar mais profundamente os títulos da editora, incluindo s não comentados
aqui, para compreender melhor qual exatamente foram os pontos de acertos da
iniciativa.
Os
títulos que envolvem o Super Homem, e seus personagens relacionados, foram o
que mais tiveram que sofrer mudanças e acertadamente a editora não teve medo de
fazer tais alterações radicais. Para trazer o personagem de volta aos eixos
devíamos buscar do passado toda aquela mística heróica messiânica que envolvia
o herói e para isso a DC Comics
trouxe de volta o aclamado Dan Jurgens, que já havia trabalhado com o
personagem em uma de suas melhores fases, para assumir o título Action Comics com a missão de trazer de
volta o Super Homem clássico de ideais elevados enquanto Peter J. Tomasi
ficaria com o título Superman
trabalhando a relação do herói com sua família, a esposa Lois Lane e o filho
Jonathan Kent.
Ambos
os títulos são da melhor qualidade tendo a Action Comics um sucesso de critica
absurda em estórias de muita ação (fazendo jus ao título do quadrinho) e com
toda aquela atmosfera heróica do bem contra o mal exaltando o bom mocismo do
Super Homem como Jurgens já tinha feito entre os anos 80 e 90. No entanto,
apesar de não ter sido recebida com tanto alarde, acredito que o trabalho de
Tomasi a frente do título Superman
tenha sido no mínimo de igual qualidade, pois ao invés de apelar a estórias
mirabolantes e vilões poderosos e caricatos, temos uma trama muito mais
intimista, desde o primeiro arco da revista, que mexe muito com o psicológico
do Super Homem e faz uma trama mais pessoal e profunda que apenas um quadrinho
de pura ação não trabalharia. Ao acompanhar um Super que além de lidar com um
mundo que não é dele, tem que ajudar sua família a fazer o mesmo, além de criar
um filho que, quer se tornar um herói como o pai, mas não controla os poderes
instáveis que possui.
Já
nos títulos do Batman (e da chamada “bat-família”) temos ainda mais qualidade
em roteiro e desenho. O histórico título Detective
Comics inicia com os roteiros de James Tynion IV que cria uma estória
intrigante fazendo o Homem Morcego criar uma equipe para resolver assuntos que
ele mesmo não pode resolver passando a liderança para a Batwoman; que é
trabalhada nesse título tão bem quanto em sua própria revista, e as relações
entre os personagens do improvável grupo são ótimas como todo o enredo dessa
fase da revista.
O
título Batman fica por conta do agora
famoso (ou infame por alguns) Tom King, que trás um Homem Morcego
essencialmente humano, mas com toda a inteligência e genialidade característica
do personagem. Tendo a estória dividida em arcos e ciclos bem planejados
podemos acompanhar que o extraordinário do Batman é justamente o heroísmo
máximo de que alguém sem poderem pode fazer mesmo em um universo de uma
profusão de meta humanos. Temos um forte tom investigativo e uma ótima
exploração dos vilões como se exige nas revistas do herói. Talvez esse seja o
melhor título mensal de toda a fase do DC
Renascimento.
A
Mulher Maravilha já tem um tratamento todo diferenciado nessa fase comandada
por Greg Rucka, que tem a brilhante idéia de dividir as estórias iniciais da
personagem em dois arcos tendo um reestruturando o passado da personagem. Para
isso ele intercala as edições e os desenhistas para dar uma identidade visual a
cada estória, passado e presente. Temos a incrível Nicola Scott e Romulo Fajardo Jr. na arte de “Ano Um” e
Lian Sharp e Laura Martin na arte de “Mentiras”.
Esses
primeiros arcos do título da Princesa de Themyscira
são empolgantes tanto em roteiro como visualmente e sua alternância e a ligação
entre as duas estórias é um show a parte, arquitetado pelo competente
argumentista. Assim somos levados a
imaginar o quanto será fenomenal essa fase da personagem, pois a editora teve
todo um cuidado em fazer um trabalho competente, principalmente devido ao
sucesso do filme Mulher Maravilha,
mas infelizmente as estórias perdem um pouco a qualidade com o tempo o que pode
decepcionar alguns. No entanto, continuam sendo ótimas estórias com tramas
interessantes de se acompanhar.
O
título Flash parece iniciar com uma
premissa simplória e até infantil, pois na estória gira entorno de uma
tempestade que acaba proporcionando o dom da força de aceleração a quase toda a
população de Central City. No
entanto, o roterista Joshua Willianson soube trabalhar brilhantemente essa
premissa escrevendo um quadrinho envolvente e muito divertido. A arte de
Carmine di Giandomenico só reforçam o estilo e atmosfera suave que a história
em quadrinhos quer proporcionar.
A
qualidade da revista só melhora com as edições até chegar ao bem executado arco
“O Bótom” ao lado do título do Batman, que, apesar de não ter revelado todo o
mistério, deixa um ótimo enredo para a saga final do “Relógio do Juízo Final”.
Logo, Flash é um dos títulos mais importantes dessa nova iniciativa e por isso muito
bem executado pela DC Comics.
Aquaman
chega as mãos de Dan Abnett com a inglória tarefa de superar a elogiada fase
dos Novos 52 (diferente da maioria dos títulos) trazendo um dos mais antiquados
e ridicularizados personagens da DC
Comics para os holofotes, talvez devido a sua participação nos filmes da
produtora Warner Bros. O argumentista
acerta muito em não querer relacionar Arthur Curry com sua contraparte
interpretada pelo ator Jason Momoa, mas acaba entregando uma narrativa não tão
boa quanto o aclamado arco “O Trono de Atlantida” do próprio Geoff Johns.
Entretanto,
temos uma estória muito bem executada no arco inicial “O Afogamento” tendo
altos e baixos nas estórias seguintes do personagem. Abnnet é muito acertado em
mostrar um Aquaman tendo que superar as desconfianças e indiferenças que sofre
tanto dos povos aquáticos como dos da superfície. Trabalha bem não apenas as
questões psicológicas do herói, mas também as políticas chegando a fazer ótimas
criticas ao governo estadunidense e a forma que se relacionam com os
estrangeiros. Uma narrativa que trabalha bem o passado, não caindo sempre na
facilidade do recurso intensivo de flashback, que aqui são pontuais e bem
colocados.
O
universo do Lanterna Verde aparece em dois títulos; o Lanternas Verdes do argumentista Sam Humphries que mostra as
estórias de Simon Baz e Jessica Cruz onde, ambos, foram indicados como
protetores da Terra; e a revista Hal
Jordan e a Tropa dos Lanternas Verdes roterisada por Robert Verditti
voltada mais a estórias espaciais focada no Lanterna Jordan. Talvez esteja aqui
minha maior surpresa (juntamente com Esquadrão
Suicida) em toda essa fase do DC Renascimento, pois ambos os quadrinhos tem
uma qualidade bem acima da média me fazendo ter simpatia por personagens novos
ou que nunca tinha gostado muito.
São
estórias envolventes que sabem utilizar muito bem o universo dos Lanternas
respeitando e ao mesmo tempo inserindo elementos novos de maneira as vezes
arriscada, mas quase sempre muito acertada. Os arcos vão ficando cada vez mais
interessantes com dozes de piada e ação na medida certa. O desenvolvimento de
Baz e principalmente da Cruz são incríveis e raramente podemos ver Hal Jordan
tão bem representado como um herói de ideais elevados unido a uma experiência
que fazem toda a diferença na estória.
Falando
das equipes temos Liga da Justiça que talvez seja minha única decepção em uma
iniciativa tão boa como o DC Renascimento.
Bryan Hitch não consegue roterizar estórias empolgantes como deveria, talvez
preso a responsabilidade de escrever enredos grandiosos e apocalípticos. Não
consegue desenvolver bem a relação dos personagens, embora saiba trabalhar cada
personalidade de forma convincente. Apesar disso o quadrinista tem uma
narrativa relativamente coesa e que melhora um pouco com o tempo.
Christopher
Priest assume o título na edição 17 (ou 34 nos EUA) trazendo o arco “O Povo
Contra a Liga da Justiça” onde o argumentista trabalha a relação das pessoas
comuns com a Liga depois de alguns eventos problemáticos. Priest tem uma
narrativa mais convincente elevando bem a qualidade do quadrinho acertando
praticamente todos os problemas de seu antecessor para poder entregar a
entregar a revista ao quadrinista Scott Snyder posteriormente.
Outra
grande surpresa, positivamente, do DC Renascimento
para mim foi a revista Esquadrão Suicida,
principalmente depois de um filme que não agradou todos os fãs das histórias em
quadrinhos. Como acontece com o Lanterna Verde eu nunca apreciei muito esses
personagens, mas Rob Willians, juntamente com o ótimo artista Ivan Reis, soube
trabalhar os anti-heróis de maneira bem mais crível que sua contraparte
cinematográfica trazendo estórias com ótimo ritmo e idéias excelentes.
Rapidamente
surge dessas duas equipes a primeira grande saga do DC Renascimento chamada Liga
da Justiça VS Esquadrão Suicida comandada pelo roterista Josha Willianson
que poderia ser bem melhor trabalhada, mas entrega satisfatoriamente bem o
embate entre esses grupos onde já havia tido mostrado tensões entre os
personagens principalmente pelo Batman. A editora decide aqui trabalhar com
cautela ao invés de promover uma mega saga mirabolante entregando uma boa
estória com repercussões comedidas para não se arriscar muito.
Tendo
o risco de me alongar demais, quero destacar alguns títulos como o Arqueiro Verde. Havia muita promessa para
esta fase do Arqueiro escrita por Benjamin Percy, pois a maioria dos leitores
esperavam algo bem diferente do esquecível período do personagem nos Novos 52, ou melhor, uma parte dessa
fase e sua torpe aproximação com a série de TV. Logo, a expectativa era a volta
do velho Arqueiro, um Herói da Justiça Social, ao estilo do arco de estórias
com o Lanterna Verde nos anos 70 comandado pelo Denis O’Neil e Neal Adams. No
entanto, talvez seja justamente por isso que o quadrinho do DC Renascimento não atente a tão alta
expectativa.
A
estória é ótima, mas muito pouco desenvolvida e quando você acha que teremos
mais profundidade; (como quando a Canário Negro mostra toda a hipocrisia de um
herói que diz defender os desvalidos e necessitados, mas é um dos homens mais
ricos do mundo); o argumento não atinge a reflexão necessária e, torna uma
estória de ótimas idéias, bem superficial. Os desenhos de Otto Schimidt pioram
as coisas por, apesar de bem executados, tem um estilo todo “teen” de desenhos
animados que não combina com a estória sombria desenvolvida por Percy, melhorando
levemente quando Juan Ferreira assume a arte. Resumindo, Arqueiro Verde tem ótimas idéias e sombrias como o personagem pede,
mas não tem o desenvolvimento que certamente merecia.
Quero
destacar também o título Exterminador que
sempre foi um daqueles vilões de tanto os leitores gostarem acabou tendo suas
motivações e carismas tão desenvolvidos até virar um anti-herói. Confesso que
nunca gostei do personagem nos quadrinhos preferindo até sua adaptação em outras
mídias como vídeo games e séries de TV. No entanto, fiquei muito satisfeito com
a história em quadrinhos do Exterminador no DC
Renascimento!
O
argumentista Christopher Priest faz uma estória de espionagem brincando com os
clichês do gênero e por vezes pervertendo muitas soluções fáceis geralmente
encontradas em quadrinhos de super heróis. Logo temos uma estória bem executada
de muitas reviravoltas e que ainda tem tempo para desenvolver mais o personagem
deixando o Exterminador mais dentro dos tons cinzentos entre o bem e o mal
criando uma identificação ainda maior pelo personagem onde com certeza ele não
é um herói, mas você torce por ele mesmo assim.
Por
último quero também me dedicar ao Asa
Noturna, pois havia uma maior empolgação da minha parte por ler seu título,
devido a ótima dele na fase dos Novos 52, principalmente quando Tom King assume
o personagem. Assim Tim Seeley parte daí com um Dick Grayson que foi dado como
morto e tenta voltar a ser o Asa Noturna enquanto se infiltra no, agora,
Parlamento das Corujas. Seeley trás ainda mais humanidade ao personagem que
quer destruir uma organização criminosa global por dentro e ainda assim não se
corromper ou literalmente cruzar a linha que separa heróis de vilões.
O
autor se utiliza ainda os novos vilões do Batman, a Corte das Corujas e avança
ainda mais sua mitologia tornando-a bem maior que anteriormente. Fiquei bem
satisfeito com o primeiro arco chamado “Melhor que o Batman”, mas senti falta
de mais detalhes sobre o Parlamento das Corujas e mais informações sobre seus
agentes, os garras, algo que eu também tinha sentido quando Scott Snyder os
criou.
Resumindo
a DC Renascimento foi uma excelente
iniciativa da editora que acertou muito ao ouvir seus fãs e entregar exatamente
o que eles estavam pedindo. A qualidade das estórias se mantêm em um bom nível,
mesmo as que não desenvolveram tão bem e infelizmente talvez a única exceção
seja mesmo o título da Arlequina que
teve os roteiros, escritos pela dupla Amanda Conner e Jimmy Palminotti,
sofríveis o suficiente para me fazer abandonar a revista. No mais, temos
títulos muito bem trabalhados e que principalmente soube respeitar seus fãs
antigos e ainda atraindo novos leitores para a editora se consolidando à frente
da concorrente tanto em crítica quando em vendas. Uma estratégia de marketing
muito bem empregada e com uma ótima base em ter ótimos profissionais criando de
forma competente e produzindo um resultado muito bem executado.
Ótima análise,realmente a DC com o renascimento trouxe um fôlego que apesar de revigorado respeita seus leitores antigos ,parabéns ótima matéria.
ResponderExcluirExatamente! A DC Comics conseguiu assim atraindo novos leitores sem perder os antigos!
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