quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Homem de Aço: O Superman humano de Brian Michael Bendis

Homem de Aço é uma mini série em seis partes lançada pela DC Comics em 2018 (e ainda inédita no Brasil) que faz parte da mudança de equipe criativa planejada pela editora para o Superman e abre o terreno para que seu novo contratado, Brian Michael Bendis, tenha inicio nos títulos principais do personagem. Para entender todo o significado dessa nova iniciativa, devemos primeiro compreender sua trajetória.


Brian Michael Bendis é um renomado (e controverso) quadrinista que já foi chamado de um dos maiores propulsores da Marvel Comics para o século XXI. Nascido em Cleveland no estado de Ohio e como muitos leitores de histórias em quadrinhos, Bendis adorava criar personagens e seus próprios enredos quando era criança. Conhecido mais como roterista, mas na verdade ele também é artista iniciando sua carreira como caricaturista e ilustrador pela editora Calibar Press.
Foi ganhando sucesso em revistas detetivescas ao melhor estilo Noir como Fire, Goldfish e Jinx; além da famosa Torso em que Bendis fala sobre a resolução de crimes em Cleveland tendo como personagem ninguém menos que o próprio Elliot Ness (responsável pela prisão do famigerado mafioso Al Capone) pela Image Comics. Pela mesma editora tivemos Powers, que trabalha crimes envolvendo super-heróis.


 Tudo isso lhe rendeu um convite de Todd MacFarlane (criador da revista Spawn) para um spin off de seu título chamado Sam & Twitch que envolve os dois detetives que já tinham aparecido nas revistas do soldado do inferno.
Sendo reconhecido pelo meio dos quadrinhos, Bendis finalmente é chamado pela Marvel Comics para “trazer a editora para o século XXI” e assim ele se envolve com a iniciativa do chamado Universo Ultimate trabalhando junto com outros grandes nomes da indústria como Bill Jemas, Joe Quesada e Mark Millar criando o aclamado personagem Homem Aranha Milles Moralles.


Durante o ano de 2001, Brian Michael Bendis acaba criando o selo Marvel Max introduzindo a melancólica personagem Jessica Jones na revista Alias. Assim com uma carreira consolidada na editora, Bendis é chamado para mais um projeto audacioso três anos depois, a reestruturação da principal equipe da Marvel Comics, os Vingadores.
Na sua passagem pela equipe de super heróis que vão dos arcos Vingadores A Queda e Vingadores o Cerco, Bendis trás os Vingadores ao patamar de título de maiores vendas da editora, lugar que antes eram dos X-Men e do Homem Aranha. Ainda na Marvel, algum tempo depois, ele ainda escreve no titulo do Demolidor fazendo de sua fase uma das mais aclamadas do personagem.
Nesse momento você pode estar se perguntando o que tudo isso tem relação com sua nova fase na DC Comics à frente do título do Superman. Tem tudo, pois Bendis coloca toda sua experiência e trabalhos anteriores na nova mini-série O Homem de Aço e contra todos os receios dos leitores ele acaba se saindo muito bem!


A trajetória nos quadrinhos de Bendis, principalmente na Marvel, nos mostra sua genialidade em trabalhar temas bem cotidianos mesmo com super-heróis. O quadrinista nos mostrou o lado mais humano do Demolidor e uma heroína cheia de falhas como Jessica Jones além dos diálogos e relações entre personagens incríveis como em sua brilhante passagem em Vingadores.
Os dramas cotidianos e a humanidade por trás das máscaras e uniformes espalhafatosos eram justamente as maiores qualidades de Brian Michael Bendis e ao mesmo tempo a maior preocupação dos leitores quando souberam que ele iria trabalhar com o Super Homem na DC Comics.
Como Bendis trabalharia tudo que faz de melhor justamente com um personagem tão poderoso e tão fora da realidade como o Homem de Aço?
Haviam vários caminhos a seguir e talvez o mais obvio dele seria trabalhar mais com o alter ego do Superman, o repórter Clark Kent. Envolver o universo de noticias do Planeta Diário e as relações entre seus personagens como Lois Lane, Perry White ou Jimmy Olsen. No entanto, essa seria uma saída fácil demais e já trilhada com brilhantismo por outros autores. Bendis faria diferente desta vez.
Ele humanizaria o próprio Homem de Aço.


Claro que todas as coisas que faz do personagem “super” ainda estão lá, mas Bendis tem a sagacidade de nos mostrar o cotidiano do Superman mesmo com o extraordinário. A saída do quadrinista é mostrar o mirabolante como algo cotidiano na vida do Super Homem. Tudo que o torna incomum permeiam a vida do Homem de Aço, no entanto, vários dilemas bem comuns são mostrados e até aprofundados.
Somos convidados a entrar mais intimamente na mente do Superman e assim podemos ver suas duvidas e o peso que o personagem carrega, até mesmo por ser poderoso de mais. O Homem de Aço também tem receios e preocupações, principalmente por que uma falha sua pode acarretar em um desastre de proporções inimagináveis. É um fardo grande ate mesmo para o personagem e com isso Bendis produz o impossível ao fazer com que nos identifiquemos com alguém que está tão longe da nossa realidade.
Isso se torna evidente quando o quadrinista cria vários acontecimentos que abalam o personagem e mostra outro ponto genial da abordagem que Bendis escolheu...
 O Super Homem voltará a ser um símbolo de esperança e heroísmo.
Seja visualmente, como a volta da “cueca sobre a calça” ou psicologicamente, Bendis resgata o Homem de Aço como símbolo de justiça a ser seguido não apenas os outros personagens, mas ao próprio leitor. Pode parecer um paradoxo trazer um Superman mais humano dado a leves autocríticas e mesmo assim inspirador, mas aqui está o ponto que Bendis sabe muito bem trabalhar.
Justamente pela possibilidade de falha e pela humanidade do personagem que faz dele heróico cuja bondade e sensibilidade é apurada o suficiente para ele se importar com a vida e a felicidade do próximo. São precisamente seus questionamentos que dão ao Super Homem a consciência e propriedade de fazer o bem, não importando o quão desafiador essa conduta pode ser.


Superman é bom não por que ele é perfeito, mas por ele ter toda uma responsabilidade auto-imposta. Ele é bom por ele tem que ser. Sem parecer ser forçado ou piegas, tratando tudo de natural e com uma suavidade tocante. Uma nova visão que não deixa de ter como base tudo que foi feito no passado. Uma exploração mais intimista do super herói e para que funcione, Bendis deve se focar no Homem de Aço, para construir os alicerces do que ele trabalhará no futuro.
E não teria como ele reconstruir o Superman se tivesse uma profusão de outros personagens permeando sua estória, logo Bendis faz o que há de mais polêmico na sua mini-série, desaparece com a sua família, Lois e filho John, gerando bastante alarde e sem dar muitas explicações no inicio da mini-série. Essa é com certeza a parte mais arriscada de sua narrativa e, sem dar muitos spoilers, Bendis o faz muito bem explicando o ocorrido gradativamente em sua estória e ainda com pontas soltas instigantes para trazer futuramente.
Aqui temos outro exemplo uso de recursos narrativos bem construídos. Bendis brinca com os acontecimentos indo e voltando ao passado sem que isso fique de maneira confusa e deixando o leitor cada vez mais interessado em todas as camadas da estória, pois há elementos tanto no presente quando ao passado que interessa ao quadrinho mesmo não fazendo parte da trama principal.  
Entretanto não é só com a questão da família que o quadrinista volta ao tempo, pois novos elementos são introduzidos por Bendis à origem do Super Homem, principalmente no tocante da destruição de Krypton. Outra medida arriscada que infelizmente Bendis acaba não trabalhando tão bem.


Além de introduzir Rogol Zaar, um novo antagonista que tem uma importância incrível para a estória do Superman, Bendis não consegue dar o peso necessário ao algoz que apesar de fazer algumas atrocidades na revista, o inimigo não tem o carisma necessário para se tornar marcante como deveria e acaba sendo mais um vilão genérico, até mesmo em sua aparência, ao enfrentar o Homem de Aço.  Talvez essa seja a maior falha da mini-série, pois o quadrinista se focou tanto no herói que acabou não explorando tão bem sua contraparte. Mas quem sabe isso será corrigido pelo autor nos títulos vindouros?
A despeito dessas falhas, Bendis constrói uma ótima narrativa ao escolher, mais uma vez, não ir pela saída usual daqueles que costumam a escrever o Homem de Aço, ou seja, o quadrinista escreve uma trama intimista sem cair na problemática de escrever estórias épicas. Busca temas simples, mas profundos, onde pode explorar com mais tranqüilidade a personalidade do Superman que, afinal como vimos em tantos dos seus outros trabalhos, é a sua especialidade. O autor faz isso sem modificar tanto o personagem quanto o próprio universo ao qual o Super Homem está inserido.
 Aliás, raramente vi o uso do Universo DC tão harmônico em uma mini-série de quadrinhos focada em apenas um herói e rendendo ótimas aparições seja da Liga Da Justiça; seja de personagens do núcleo do Homem de Aço, como a Supergirl ou até alguns easter eggs e questionamentos que sempre estiveram na mente dos leitores como onde estava o Lanterna Verde do setor quando Krypton foi destruída.

Brian Michael Benis tinha a missão inglória de estrear na DC Comics com seu personagem mais icônico que foge totalmente do que está acostumado a escrever em uma curta mini-série que plantaria a base para que ele assumisse os dois títulos principais do Homem de Aço. Apesar de todas as duvidas dos leitores o quadrinista faz isso muito bem e deixa um sentimento muito promissor do que estará por vir nas próximas edições das revistas Action Comics e Superman


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