sábado, 26 de junho de 2021

Flash: Nascido para Correr


Nascido para Correr é um arco do personagem Flash lançado pela DC Comics em 1992 escrito por Mark Waid e contando com os desenhos de Greg LaRocque e arte final de José Marzán Jr. Esse material traz o legado de transição do super herói passando o manto de Barry Allen para o jovem Wally West em uma narrativa que vai além dos clichês de origem e responsabilidades, contando uma estória também sobre sentimentos mais profundos de vínculos familiares, o reconhecimento e laços construídos de amizade e companheirismo. A relação dessa parceria heroica são bem mais complexas do que a de mentor e pupilo sendo conduzida com incrível maestria pelo seu autor.  

Mark Waid iniciou sua carreira de argumentista de histórias em quadrinhos nos famigerados anos oitenta em pequenas editoras em mercado mais underground, mas logo conseguiu trabalho na DC Comics escrevendo, entre outras, Origens Secretas. Entretanto, rapidamente se envolveu com o projeto de Legião dos Super Heróis do qual, diz, que o influenciou muito.  Fez sucesso logo depois à frente do título The Flash, incluindo a fase aqui em questão, que o fez ser chamado a trabalhar pela concorrente Marvel Comics no título Capitão América e, depois, teve um grande destaque pela sua aclamada fase em Demolidor. Reconhecido por ambas editoras, em 1996 produziu, junto com o renomado Alex Ross, o que viria a ser considerada sua obra prima; o Reino do Amanhã. Chegou a trabalhar como editor da Patrulha do Destino na renomada passagem de Grant Morrison pelo título e hoje é considerado um dos maiores quadrinistas da atualidade. 



Greg Larocque foi um artista e publicitário de Baltimore que trabalhou no corpo docente do Profissional Institute of Art ainda adolescente. Nos quadrinhos ele começou trabalhando para a DC Comics com o título de ficção científica Mystery in Space em janeiro de 1981. Em setembro do mesmo ano já estava trabalhando na concorrente Marvel Comics no título Power Man and Iron Fist que contavam as estórias da dupla Luke Cage e Punho de Ferro. Trabalhou em várias revistas chegando a criar novas identidades visuais para vários personagens aclamados das histórias em quadrinhos. Também criou materiais para empresar mais independentes como a Avatar PressLondon Night StudiosPeregrine Entertainment Realm Press. 



Tais autores, nesta fase, foram responsáveis por humanizar o personagem Wally West a ponto de torná-lo “Flash preferido” por muitos leitores antes mesmo da aclamada série animada da Liga da Justiça dos anos 2000. Um feito realmente incrível devido a força que Barry Allen tinha como o super herói velocista. Isso se deve muito ao fato da capacidade narrativa dessas estórias que exploravam muitos temas emocionais da vida de West fazendo seus leitores terem uma identificação quase instantânea com ele ao mesmo tempo que tratava Allen com louvável respeito sendo uma mistura inspiradora de mentor, ídolo e “pai” do novo Flash.  

Claro que temos um arco cheio de responsabilidades postas à um adolescente que sente não ser capaz e maduro o suficiente para portá-las, mas ao mesmo tempo persiste com uma força interior incrível movido por ser reconhecido não apenas pelos os que o amam, mas pelos familiares próximos que nunca lhe deram o devido crédito. Um drama semelhante ao encarado muitas vezes por vários adolescentes leitores de quadrinhos (ou até então, não leitores) que causou toda essa identificação com Wally West. No entanto, temos uma deliberada troca da importância do massacrante legado sendo passado como tema principal para as relações pessoais entre os dois super heróis tornado a narrativa ainda mais tocante e íntima cativando uma verdadeira legião de fãs.  

Não há como não se emocionar, no sentido empático da palavra, com o novo “homem mais rápido do mundo” e não se ver torcendo para que West se torne tudo o que um super herói deveria ser. Ter Barry Allen como mentor não traz um peso excessivo ao protagonista, mesmo sendo seu antecessor um exemplo quase inquestionável de bondade e justiça; e sim uma inspiração motivadora em que o personagem deve não apenas se espelhar, mas também superar.  

Todas as imperfeições de Wally West, sejam psicológicas e até físicas, são colocadas aqui para dar ainda mais camadas de profundidade ao velocista que tem muito mais a enfrentar do que uma galeria de super vilões com nomes engraçados. O novo Flash tem dramas bem reais para muitos leitores e dilemas internos a serem ultrapassados ou convividos tornando-o mais humano e crível. É um personagem totalmente diferente do seu mentor ao mesmo tempo que é a escolha perfeita para levar seu legado adiante.  

Tudo isso é narrado de uma maneira incrivelmente orgânica, sem ser forçada em momento algum, mostrando que Mark Waid não decepciona como o grande argumentista de histórias em quadrinhos que é ao utilizar elementos tão variados com equilíbrio e competência de poucos autores. Temos ação, drama, questões relevantes e diversão na mesma medida tornando esse arco totalmente completo transcendendo o que geralmente é produzido normalmente como história de quadrinhos de origem de super heróis. 



A narrativa gráfica é tão perfeita para essa estória como poderia sendo produzida nos anos noventa. Passagem de quadros dinâmicas e rápidas nas cenas de ação com “enquadramentos” mais próximos para o drama. Tudo em ritmos adequados para cada momento do arco com algumas das melhores técnicas que se produzia na época. Nada muito refinado, mas muito bem executado para revistas mainstream com as grandes “páginas de impacto” famosas nesse tipo de publicação em histórias em quadrinhos. 

Assim, Flash Nascido para Correr é um ótimo material do personagem que deve agradar muitos fãs antigos do velocista escarlate, mas também pode ser tranquilamente lido por novos entusiastas sendo uma estória inexplicadamente muito bem fechada para um arco de transição de personagens. Com certeza um dos títulos que fez o Flash ser tão aclamado e uma das fases mais importantes do homem mais rápido do mundo.  

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