sábado, 24 de abril de 2010

Amor Verdadeiro


Vitória fechou seu livro e suspirou profundamente. Apertou contra o peito sua edição de Orgulho e Preconceito, seu livro preferido. A jovem se identificava com a personagem principal da obra, pois não via como coincidência o fato de ambas, ela e a personagem, terem os nomes das rainhas mais fortes de sua pátria. Imaginou o quão poético Jane Austen escreveria sobre o que estava sentindo naquele exato momento.
Sentiu o cheiro das flores amarelas que balançavam ao suave vento do outono de Green Park. Uma esperança a paisagem de árvores secas daquele lugar. Era um dos mais famosos parques de Londres, mas havia uma certa paz ali, que não entendia bem, mesmo com tantas pessoas passando por lá.
Cada um que passava tinha sua própria vida e Vitória refletiu o quão fantástico deveria ser cada universo individual dentro deles. Tinham suas alegrias e angústias e ela se perguntou se alguém sentia algo próximo à dor que estava em seu coração agora.
A jovem inglesa estava apaixonada e, como muitas da sua idade, achava que era um amor impossível de se realizar, mas por motivos bem diferentes e pessoais.
Vitória estava gostando do seu melhor amigo!
Estudavam juntos e isso já bastaria, mas como melhores amigos o rapaz a tinha como confidente e ela, de fato, conhecia todas as tristezas e desilusões de seu amado. Foi justamente isso que a fez se encantar pelo rapaz.
A maioria das pessoas namoravam bem antes de toda essa proximidade, pois quanto mais perto, mais claramente se via o defeito do parceiro e isso acabava com a relação mesmo antes de se tornar mais séria e portanto sólida. Entretanto, com Vitória acontecia justamente o contrário.
Ela não conseguia se apaixonar por alguém que conhecera em uma noite. Não conseguia ter essa confiança em algum rapaz levemente alto pela bebida em um bar qualquer. A jovem precisava admirá-lo para amá-lo. Uma triste condição que a fazia se apaixonar por aqueles que haviam se transformado em amigos e assim jamais a namorariam.
Vitória o amava tão intensamente que gostava até mesmo de todas as fraquezas que seu amigo apresentava. Sentia compaixão quando ele chorava e não se decepcionava pelos seus defeitos. Ela o compreendia como nenhuma outra e era por isso que se achava a única capaz de fazê-lo feliz.
Infelizmente seu amigo não achava o mesmo, pois nunca notara seu amor e isso trazia certa melancolia à jovem. Sua insegurança a fazia pensar que era feia, ignorante e pouco brilhante. Pensava que estava gorda demais e exagerava as imperfeições de seu corpo imaginando que seu amigo a achava estranha e horrorosa. No entanto, sabia que esses pensamentos estavam longe de serem verdadeiros, muito longe!
Então o que a impedia de se declarar? Porque ela não conseguia dizer aquelas palavras tão singelas a ele? Era apenas falar que o amava acima de todas as coisas e todo aquele impasse, para seu bem ou para seu mal, seria finalmente resolvido. Como era extremamente difícil e angustiante pronunciar aquelas simples palavras...
No fundo Vitória tinha medo de perder sua amizade que lhe era tão cara e especial. Temor por ele não confiar mais seus segredos mais íntimos a ela, para sua grande amiga. Será que ele não mais choraria suas mágoas para a jovem se Vitória declarasse seu amor? Ainda passaria todo aquele tempo ao seu lado se ela sinceramente dissesse, eu te amo, ao amigo?
Não. A jovem não poderia abandoná-lo de tal forma. Vitória não poderia trair sua amizade por seu sentimento egoísta. Deveria enterrar todas aquelas emoções bem fundo em seu coração. Ele se afastaria se ela quisesse mais do que a amizade, acharia que era sua amiga e confidente apenas por interesse, embora não fosse verdade. Não poderia se afastar, simplesmente não conseguiria. Seu amigo precisava tanto dela...
Vitória já havia tomado sua decisão há muito tempo, mas faltava a coragem de fazer e, ao bem da verdade, ela não queria. Eram pensamentos tristes de uma história inacabada sem final feliz. Não haveria esperança para a jovem, não haveria sombra no fim da jornada para ela.
Sabia que tinha que deixar de lado sua paixão e continuar apenas uma boa amiga ao seu amado. Ele provavelmente se afastaria dela se soubesse de seus sentimentos e perdê-lo totalmente era ainda pior que ver seu amor sofrer pelas garotas que não lhe davam seu devido valor. Garotas que não viam o quanto aquele lindo sorriso era especial, como Vitória via tão claramente. A jovem o amava demais para se afastar ou abandoná-lo, assim ela sofreria calada e continuaria sendo apenas sua amiga.
Seria o que deveria ser para seu amado amigo, seu amor verdadeiro...

4 comentários:

  1. Fábio gostei muito das histórias... o blog ja ta nos meus favoritos, vou passar sempre por aqui! AbrÇ!!!

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  2. Muito obrigado!
    Espero q continue acompanhando!

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  3. eii Fabiio enfim comecei a ler sue contos e poemas... e ja começou muito bem esse conto é muito lindo.. isso ja meio q aconteceu comigo e sei q é foda ... adorei ^^

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  4. Acho q esse é um problema recorrente Denise!
    Tentei entrar um pouco no universo feminino, não sei se consegui...

    Muito obrigado pelo elogio!

    Beijos

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