segunda-feira, 10 de maio de 2021

Homem de Ferro: Extremis

  

Minissérie da Marvel Comics publicada originalmente em 2005 escrita por Warren Ellis e desenhada por Adi Granov que busca atualizar o personagem Homem de Ferro para os tempos atuais. Assim temos um Tony Stark no epicentro desse novo cenário mundial como um futurista que tenta se desvincular do seu passado como um industrial armamentista ao mesmo tempo que planeja novos avanços para o bem comum observando seu triste legado tentando alcançar uma visão mais altruísta e benéfica em escala global. No entanto, uma nova tecnologia chamada Extremis ameaça a humanidade em uma época cheia de inovações perigosas de cientistas que tentam ocupar o vácuo deixado por Stark.  

Warren Ellis é um roteirista britânico de histórias em quadrinhos que iniciou sua carreira em 1990 de forma independente entrando para a Marvel Comics apenas 4 anos depois. Trabalhou nas principais editoras tais como DC Comics/VertigoWildstormImage ComicsPlanet Lar Avatar Press. Um de seus primeiros sucessos foi Red lançado pela editora Wildstorm em 2003 ganhando uma adaptação cinematográfica em 2010. Conhecido por comentários ácidos e trabalhos críticos que geralmente abordam temas transumanistas como pode ser observado nas obras The AuthorityPlanetaryTransmetropolitan Global Fraquancy. Foi também desenvolvedor, produtor e escritor da série animada Castlevania pela Netflix.  

Deve-se entender que é justamente essa postura ousada e conhecimento com tecnologias de ponta que trouxe Ellis ao título do Homem de Ferro. Não bastava apenas aparatos futuristas bacanas para atualizar o personagem à era atual, também se faz necessário refletir e criticar o impacto que o super herói tem no mundo moderno. Assim o autor entende que era normal, no passado, ter um protagonista que era herói e ao mesmo tempo vendedor de armas, mas agora isso não poderia acontecer sem um maior aprofundamento nesta questão. Então o que significa para Tony Stark ser um futurista buscando melhorias para a humanidade a ponto de estar na linha de frente contra os vilões e, ao mesmo tempo ter um passado sombrio cheio de culpa por ter construído aparatos de destruição em massa? 

Assim temos, nas mãos hábeis do roteirista, um Homem de Ferro mais humano cheio de camadas em sua personalidade com alguns cantos em sua alma bem escuros. Um Stark amargurado e com menos certeza de que é a melhor pessoa do mundo, mas com uma vontade inabalável de fazer o melhor que pode tendo sempre a sua visão em um futuro bom para todos. 



Essa, com certeza, foi a base para se construir um Homem de Ferro adaptado aos novos tempos e que serve de ponto de partida para todas as histórias em quadrinhos do personagem a partir deste ponto. Com certeza é o alicerce para a construção do protagonista nos cinemas que teve apenas como um acréscimo as construções que o brilhante ator, Robert Downey Jr., conseguiu realizar. No entanto, aqui temos um Stark muito mais sério e contemplativo que deixa ainda mais evidente a sua absurda inteligência sendo um personagem levemente mais responsável que sua contraparte cinematográfica.  

Não temos um roteiro muito preso a trama e, embora tenha algumas reviravoltas sensacionais, também não dando grande importância ao vilão em si a ser enfrentado. É uma estória sobre as responsabilidades do Homem de Ferro e as novas tecnologias que ameaçam as pessoas modernas contendo ainda leves, mas muito assertivas, críticas ao pensamento ocidental contemporâneo seja em seu individualismo ou em sua mecanização das relações humanas. Sobre tudo temos críticas a como o jogo político atrapalha os cientistas em desenvolvimento de novas tecnologias que ao invés de incentivar inovações para o bem comum, acaba se rendendo ao capital, mesmo os contratos com exclusividade do governo, para que sejam desenvolvidos apenas o que for rendável e, em se tratando dos Estados Unidos, isso significa maior estabilidade em acordos com os militares.  

Neste cenário incrivelmente atual de tecnologias e futurismo o artista da minissérie não poderia ser diferente daquele que conseguisse expressar um certo ar ferroso e sombriamente mecanizado. Logo foi chamado para essa tarefa Adi Granov que é um ilustrador nascido em Sarajevo na Bósnia-Herzegovina cuja a arte tem chamado muita a atenção na atualidade. Suas ilustrações são ultra realistas com efeitos extremamente refinados que dão certa impressão de tridimensionalidade devido aos trabalhos com sombreamentos impecáveis. Já trabalhou, além do Homem de Ferro, na arte ou capa de títulos como Os Vingadores, X-men e Homem Aranha. Desenvolvedor da arte conceitual do filme do Homem de Ferro de 2008 e do jogo eletrônico do Homem Aranha de 2018 criado pela Insomniac Games e lançado pela Sony Interactive Entertainment 



Sua arte é uma extensão perfeita do clima necessário que a história em quadrinhos precisava para deixar mais nítido ao leitor todo o ambiente em que a trama se passa e, neste sentido, funciona demais. Particularmente eu não gosto muito dos traços de Granov e sua narrativa gráfica, para mim, é muito direta e sem refinamento nos seus enquadramentos ou, melhor dizendo, na transição de um quadro a outro. No entanto, tenho que admitir que ela foi perfeita para tudo que o roteiro e o enredo exigiam fazendo-se necessária onde outro artista, até mesmo mais arrojado, talvez não conseguisse dar o tom certo para o que essa estória precisava. Assim, também concluo que a escolha foi muito precisa nesta história em quadrinhos fazendo deste um dos melhores trabalhos do ilustrador. 

Por fim, Homem de Ferro Extremis pode não ter toda a simpatia e o charme que temos do Homem de Ferro em tela, é verdade, mas temos uma maior profundidade e crítica que nunca foi alcançada com tanta competência ao personagem e seu universo nos cinemas, apesar de vermos que muito destas ideias foram usadas nas produções da Marvel Studios. Temos o desenvolvimento do legado armamentista do protagonista e como isso impacta profundamente o personagem em um roteiro mais maduro e consciente de muitas questões relevantes sobre o tema sem deixar que o super heroísmo e a visão futurista de Tony Stark fiquem de lado transformando-o em um herói mais complexo e bem mais humano que sua armadura o faz parecer.  

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