segunda-feira, 30 de agosto de 2021

LJA: Nova Ordem Mundial


Originalmente publicado como minissérie em quatro partes no ano de 1997 pela DC Comics. Escrita pelo aclamado quadrinista Grant Morrison e desenhada pelo ilustrador Howard Porter. Nova Ordem Mundial tem como enredo o surgimento de novos “super heróis” que prometem muito mais do que enfrentar vilões, mas provocar mudanças significativas para o avanço da humanidade.  Isso acaba colocando em xeque a Liga da Justiça e tudo que representavam até então, deixando a população mundial com reservas e críticas severas sobre os objetivos dos antigos super heróis e como eles tem usado seus poderes e tempo para proteger o planeta até então....  

Roteirizada pelo controverso e polêmico quadrinista escocês Grant Morrison que reformulou totalmente os títulos do Homem Animal e Patrulha do Destino, participando da chamada invasão britânica nas histórias em quadrinhos durante os anos 80, estando intimamente ligado ao início do selo Vertigo. Seus trabalhos na DC Comics mais conhecidos são tanto com grandes títulos da editora como Liga da Justiça, Superman e Batman como trabalhos mais autorais incluindo a aclamada Os Invisíveis. Tem uma memorável passagem pela Marvel Comics no título dos X-Men reformulando a equipe trazendo temas mais pertinentes, como o racismo, de volta ao seu enredo principal. Também é criador, junto com Brian Taylor, da série televisiva Happy! do canal Syfy. Assim, Morrison é reconhecido por suas tramas complexas e com narrativas de metalinguagem cheias de referências culturais e de, na maioria das vezes, contra cultura.  

Desenhada por Howard Porter um ilustrador estadunidense formado pela Paier College of Art em Connectcut. Ganhou notoriedade na DC Comics ao lado de Mark Waid na minissérie A Vingança do Submundo e por esse próprio trabalho em Liga da Justiça América: Nova Ordem Mundial. Na mesma editora passou por títulos de personagens como Aquaman, Batman, Flash,  Shazan, Superman, Titãs e outras revistas da própria Liga da Justiça. Na Marvel Comics voltou a trabalhar com Mark Waid no título do Quarteto Fantástico, entre 2003 e 2004 seu mais expressivo trabalho por essa editora.  



Nova Ordem Mundial apresenta um enredo muito bem elaborado em que novos vilões surgem se passando por super heróis caindo nas graças da opinião pública. Não é a primeira vez que os inimigos da Liga colocam as pessoas comuns contra a equipe, mas aqui, na modernização dos temas, parece muito bem colocado dando uma importância, de certa forma, realista e muito atual para a forma com que as ditas “massas” são manipuladas. Temos alegorias típicas do gênero, como controle mental, mas isso fica dentro da paranoia de teorias da conspiração que povoavam a mente das pessoas nos anos 90 e, ao bem da verdade, ainda permanece esses receios para alguns até os dias de hoje.  

Assim, ao que parece, a proposta, como muitas histórias em quadrinhos desta década, era atualizar os heróis em narrativas mais sérias e complexas. No entanto, está muito longe do teor demasiadamente sombrio que vemos guiar as produções cinematográficas da DC Comics/Warner atualmente. Aqui não temos nada de cores escuras e diálogos pseudo intelectuais. Temos sim um pano de fundo tratado com mais seriedade e com tramas elaboradas para serem reflexivas e questionadoras, como era muito esperado em se tratando do quadrinista ao estilo e peso de Grant Morrison.  

Entretanto, embora tenhamos um novo reinicio mais moderno da Liga e a apresentações de alguns temas bem pertinentes, me parece que sua execução foi muito apresada e ainda sem a devida profundidade. São várias sub tramas meio que jogadas, deixando tudo um pouco confuso e perdendo o peso que deveria ter tanto na história, como nos questionamentos que deveriam levantar ao leitor. Isso ocorre, provavelmente, pelo hermetismo deliberado que Morrison costuma a ter em seus trabalhos, e por se tratar de um arco de início onde a preocupação é mostrar apenas o novo status da Liga da Justiça, apresentando das tramas e temas que serão melhor desenvolvidos mais para frente no enredo.  

Mesmo assim as ideias utilizadas aqui mereciam ser melhor tratadas, talvez no formato de uma mega saga, cuja importância acabou sendo diluída em resoluções rápidas e cenas de ação confusas onde até suas excelentes reviravoltas ocorrem ser ter uma mudança mais permanente no status quo.  



A arte, por muitas vezes, é igualmente confusa e muito poluída com traços exagerados e não muito bem acabados. Isso é um resquício da década de noventa com as artes demasiadamente exageradas que Howard Porter tenta replicar da melhor maneira possível, mas acaba por ter diversas páginas pouco inspiradas. 

Talvez seja fruto das exigências editoriais afetando o processo criativo do autor tanto ao estilo da arte como, provavelmente, aos prazos que eram exigidos nesse tipo de publicação. Principalmente tendo em vista outros trabalhos de Porter que costumam ter traços belíssimos e que combinam perfeitamente com o gênero de super heróis para quadrinhos de grandes editoras.  

Apenas de não ser o trabalho mais inspirado de ambos autores e não ser o melhor material da Liga da Justiça, Nova Ordem Mundial ainda entrega ótimas ideias de tramas, modernizando a equipe em temas mais sóbrios sem exagerar na maturidade do enredo, formando um alicerce sólido para futuras estórias dos melhores do mundo, podendo ser revisitada sempre por novas equipes criativas e funcionando muito bem como ponto de partida para novos leitores.  

É um material que vale muito à pena pelo seu pano de fundo, por tratar vilões com mais seriedade e por privilegiar a inteligência dos personagens na resolução de conflitos da trama e não apenas a força bruta como saída fácil que muitos autores de super equipes nos quadrinhos costumam a produzir.  

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