terça-feira, 31 de agosto de 2021

The Walking Dead: Os Mais Íntimos Desejos


Quarto arco (e encadernado) da história em quadrinhos elaborada e escrita por Robert Kirkman com desenhos de Charles "Charlie" Adlard e arte final de Cliff Rathburn, publicado pela editora Image Comics. Temos a continuidade da aclamada fase dos sobreviventes na prisão, onde já iniciamos com um conflito direto entre os seus “antigos moradores” com o grupo de Rick Grimes. No entanto, este não são os únicos perigos e segredos que aguardam os personagens, pois boa parte do local ainda continua inexplorado. Além da entrada de novos e marcantes personagens, como Michone Hawthorne.   

Se você quiser saber mais sobre como The Walking Dead foi criado nos quadrinhos, sobre seu idealizador e suas inspirações; aproveite para ler também nossa resenha sobre este material. Também é possível acompanhar nossa análise dos títulos anteriores como o primeiro volume chamado Dias Passados, sua segunda edição Caminhos Percorridos, bem como a terceira intitulada Segurança Atrás das Grades.  No entanto, se quiser saber mais sobre este quarto encadernado continue lendo por aqui. 



Temos em Os Mais Íntimos Desejos uma edição dedicada mais a narrativa e diálogos, apesar do volume anterior sugerir um grande combate no final. Claro que temos conflitos por todo esse arco, mas eles são conduzidos, em sua maioria, por embates morais e confrontos entre personagens o que acaba por desenvolver ainda mais suas personalidades e enriquecer muito as tramas que envolvem cada um. É um arco necessário para conduzir a dinâmica dos protagonistas para com quem é mais recente no enredo, estabelecendo laços que serão importantes no futuro. 

Também foi uma ótima oportunidade para o leitor poder presenciar o quanto toda a situação pós apocalíptica está afetando todos os personagens e como, gradualmente, eles estão perdendo suas próprias sanidades. Claro que aqui começa a ficar mais evidente os sinais de esgotamento do protagonista Rick já antevendo os surtos que ele terá posteriormente, mas também é perceptível que tal desgaste está em todos os personagens gerando algo que pode vir a ser uma loucura generalizada indicando que ninguém é capaz de suportar muito tempo em meio a toda a desolação que o mundo acabou se tornando.  

É tudo muito bem amarrado desenvolvido nas relações entre os personagens onde vários pontos de vista são apresentados e muitas discussões pertinentes são levantadas pelo autor, deixando claro que a publicação não se trata apenas de mais uma estória de zumbis. Aliás, para mim, esse sempre foi o ponto mais alto não apenas de The Walking Dead, mas de praticamente todos os títulos criados por Robert Kirkman nas histórias em quadrinhos. Trata-se do desenvolvimento humano e as suas relações em situações de grande stress e acontecimentos trágicos. Talvez essa seja a marca do autor e sua particularidade nas próprias obras.  



Aqui temos um embate físico e psicológico entre Rick e Tyreese que é simplesmente de tirar o fôlego. Não apenas por fazerem chegar ao nível do, humanamente, insuportável à ambos, mas pelo confronto visceral entre seus diálogos e posições à cerca de seus ideais. De certa forma, até parece que os personagens ganharam vida e estão disputando, eles mesmos. o protagonismo da estória, não por vaidade, mas para firmar seus posicionamentos e relevância no enredo geral da publicação.  

Claro que o leitor pode chegar a própria conclusão elegendo um preferido no embate, mas sem nunca conseguir “vilanizar” o outro ou simplesmente desacreditar qualquer um dos dois pontos de vista. O que acontece aqui é marcante para toda a trama e irá repercutir por vários arcos a frente.  

A arte continua excelente e os tons de sombreamento que foram experimentados no arco passado se tornam mais orgânicos aqui. São técnicas fundamentais para cada vez mais dar um aspecto de claustrofobia, como deveria ser em uma prisão e, essa direção, casa com o rumo em que a estória está tomando onde fica cada vez mais evidente uma sensação angustiante de que tudo está para desmoronar a qualquer momento.  



Parece que a corda está cada vez mais apertando sobre o pescoço dos protagonistas. Enforcando cada vez mais. A loucura aumentando. A segurança se esvaindo. Os zumbis cada vez mais numerosos nas grades. O sentimento de paranoia causando desgaste físico e mental. A sujeira impregnada em tudo, poluindo até a alma. A morte e desolação cada vez mais evidentes.  

A falta da derradeira esperança quando o destino inexorável se revela.  



Tudo, argumentos, arte, evolução do enredo, tramas propostas e relação entre personagens é incrivelmente muito bem pensada e executada nessa publicação conduzindo o leitor à uma estória angustiante, empolgante e intrigante ao mesmo tempo, guiada com extrema maestria pelos autores desde o início e, aqui, começa a se revelar cada vez mais prazerosa de se acompanhar.  

A qualidade está evoluindo cada vez mais junto com a trama e, talvez, com o desenvolvimento dos próprios autores. The Walking Dead nos quadrinhos faz jus a toda a aclamação que tem recebido junto às suas várias premiações. É, com certeza, uma das publicações mais aprazíveis de se acompanhar nesses últimos anos, principalmente em se tratando de revistas mensais, onde é sempre certeza de encontrar uma ótima estória a cada página.  




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