Demolidor,
o Homem sem Medo, alter-ego de Matthew “Matt” Michael Mordock, é um personagem
da Marvel Comics criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett, que acabou
ganhando uma popularidade absurda nos anos 80 depois que um então jovem
quadrinista chamado Frank Miller revitalizou o personagem em um período que a
editora já pensava no cancelamento da revista por baixo consumo. Miller não apenas conseguiu a façanha de
fazer o Demolidor ser altamente vendável, mas também deu a identidade que
conhecemos do personagem hoje como um herói sombrio e melancólico com estórias
em tom bem mais adultas e realistas, escapando da formula de super-vilão
diferente em cada mês ou publicação.
Assim,
devido à enorme repercussão de Miller a frente do titulo do Homem sem Medo, muitos
outros quadrinistas, que vieram posteriormente, continuaram a escrever estórias
densas e urbanas com dilemas pessoais e morais. Logo o personagem se tornou um
dos heróis mais sofridos na Marvel que, apesar de todas as suas tragédias e sendo
literalmente massacrado por seus autores, o Demolidor acaba sempre por se
reerguer de algum modo no final e vencer a vitória, mas quase sempre com um
sabor amargo. Foi dessa forma que vários leitores têm compreendido o personagem
durante esses anos até que veio Mark Waid para modificar o status quo do herói.
Mark
Waid iniciou sua carreira de argumentista de histórias em quadrinhos nos
famigerados anos oitenta em pequenas editoras em mercado mais underground, mas logo conseguiu trabalho
na DC Comics escrevendo, entre outras, Origens Secretas. Entretanto rapidamente
se envolveu com o projeto de Legião dos Super Heróis do qual, diz, que o
influenciou muito. Fez sucesso logo
depois à frente do título The Flash que o fez ser chamado a trabalhar pela concorrente
Marvel Comics no título Capitão América. Aclamado por ambos, em 1996 produziu,
junto com o renomado Alex Ross, o que viria a ser considerada sua obra prima; o
Reino do Amanhã. Chegou a trabalhar como editor da Patrulha do Destino na
renomada passagem de Grant Morrison pelo título e hoje é considerado um dos
maiores quadrinistas da atualidade.
Waid
nos trouxe um Demolidor que apesar de ter um passado carregado de tragédias
horrendas ainda tem uma visão otimista e até ingênua. Pode parecer uma mudança
sem sentido, mas é muito mais compreensivo que Matt consiga enfrentar tanta
tristeza e desastres na sua vida tendo uma personalidade inabalável do que
sendo alguém deprimido e que não consegue encontrar um sentido positivo em
frente aos seus problemas. Um personagem assim também acaba por ser ainda mais
atrevido diante dos perigos, o que acaba combinando bem com o termo do nome
original do heróis em inglês, o Daredevil.
Claro
que para uma mudança nesse aspecto não deveria contar apenas com a estória
produzida pelo argumentista, os desenhos deveriam sair do estilo sombrio e por
vezes Noir para algo mais vibrante.
Para isso tivemos, em toda a fase do Waid, os desenhistas Paolo Rivera em
parceria com o arte finalista Joe Riveira; que realizaram o inicio do arco, e
Chris Samnee junto a Tom Palmer; que assumiram a arte do título até o final,
além de alguns colaboradores como Kano, Khoi Pham e Emma Rios. O estilo mais
limpo e cartunizado desses artistas colaboraram com o tom mais leve e otimista
proposto por Mark Waid, mas deve-se destacar, para uma maior justiça com a
todos envolvidos, os coloristas Javier Rodrigues, Laura Allred e Matthew Wilson
que com suas cores chapadas e novos painéis com uma palheta bem mais colorida
reafirmando o tom que Waid queria para essa fase do Homem sem Medo.
Toda
essa alteração estética também pode ser facilmente explicada narrativamente
devido à mudança do Demolidor para São Francisco, uma cidade bem mais vibrante
o colorida do que a melancólica e sombria Nova Iorque onde Matt viveu toda sua
vida.
Assim
sendo, não temos apenas um Demolidor mais otimista, mas a própria vida do
personagem dá uma trégua em toda profusão de tragédias que ele sempre está
envolvido. Tornando as estórias com um ar mais leve também, apesar dos traumas
de Matt sempre estarem presentes. Talvez o melhor exemplo dessa narrativa de
Waid esteja representada na personagem Kristin McDuffie, a assistente da
procuradoria e nova namorada de Matt que além de ser uma personagem
extremamente positiva a estória acaba quebrando a máxima que toda namorada do
Demolidor sofre na mão de seus arquiinimigos. McDuffie é forte e determinada sempre
saindo de situações perigosas com inteligência a despeito do medo do Demolidor
que algo lhe aconteça.
Logo
Mark Waid faz toda uma revolução drástica de como o Demolidor encara o mundo,
mas com total respeito aos quadrinistas que vieram antes dele. Os problemas e
tragédias passadas continuam a permear o herói e o mundo continua a tentar puxá-lo
para as sombras, mas agora sua positividade causa um novo gás ao enfrentamento
de seus inimigos e dilemas pessoais.
Vale
ressaltar aqui a doença terminal que o personagem Franklin “Foggy” Percy Nelson
acaba contraindo na estória e a forma que Matt se torna otimista, pois agora
ele tem que ser positivo para ajudar na recuperação do melhor amigo.
Entretanto,
alguns leitores reclamaram muito dessa visão mais otimista do Homem sem Medo,
principalmente por ter sido seqüência da fase em total estilo Noir de Alex Malleev, Brian Michael
Bendis e Ed Brubacker. Ora, o tom melancólico, realista e sombrio já eram características
definidoras do Demolidor agora e Mark Waid poderia ter descaracterizado o
personagem em sua fase. No entanto, devemos refletir bem sobre essas
afirmações.
Apesar
do tom da revista ser mais leve Waid não deixou de lado os dilemas pessoais do
Demolidor e os mesmos ainda perturbam o herói. Tudo que foi feito antes é
reaproveitado em sua fase e apenas Matt toma uma atitude diferente diante seus
problemas. O quadrinista muda o personagem, mas com respeito ao que foi feito e
sem ignorar nada do passado do Homem sem Medo.
Aliás,
aqui temos novamente o talento argumentativo do quadrinista que faz Matt, e até
seu amigo Foggy, refletir profundamente sobre seu passado na forma de uma auto-biografia
que o personagem se propõe a escrever a certa altura da estória.
Outra
critica recorrente é que Mark Waid volta, de certa forma, a usar a fórmula de
super-vilão do mês trazendo desde vilões clássicos, mas também considerados ridículos
como o Coruja e o Garra Sônica; outros vilões pouco conhecidos como o Mancha e
os Filhos da Serpente; e até novos vilões como os filhos do Homem Púrpura, tirando o foco de antagonista que
quase sempre ficava para o Rei do Crime, Wilson Fisk. No entanto, essa é uma
analise preguiçosa, pois claro que Waid se vale de tramas obscuras, mas
condutoras que trazem esses vilões apenas como distração ao Demolidor e
homenagens ao passado do título.
Está
justamente aqui outra genialidade do quadrinista.
Mark
Waid volta as origens do personagem pré Miller e traz muitos elementos germinados
por Stan Lee e Bill Everett que tinham já um tom mais positivo e otimista para
o Demolidor. Por vezes ate mais engraçado como eram as histórias em quadrinhos
naquela época áurea da Marvel Comics. Assim Waid não apenas respeita os
quadrinistas que desenvolveram o lado soturno do herói, mas também trás elementos
da origem do titulo combinando visões tão diferentes do personagem de forma
impar e nunca vista antes. Agora teríamos um Demolidor completo que tem na
bagagem simplesmente tudo que foi feito ao personagem de forma coerente, mas
principalmente muito divertida e instigante de se ler.
Claro
que essa fase tem seus altos e baixos, principalmente por ser um titulo mensal,
que tem prazos muito apertados influenciando muito a qualidade em que as
estórias são produzidas, mas podemos notar um inicio de arco absurdamente
empolgante e um final simplesmente espetacular que não vamos entrar em detalhes
para não estragar a experiência de quem não leu ainda.
Existe
até uma genial e corajosa reviravolta bem no meio da fase de Mark Waid que além
de abalar as estruturas e de como concebemos o personagem o autor mostra todo
seu brilhantismo em mostrar as repercussões de tal revelação e não perde o ritmo
narrativo de forma alguma, muito pelo contrario.
Talvez
o maior mérito de Waid com seu otimismo para o personagem tenha sido não apenas
nos proporcionar a incrível sensação que, depois de acompanhar as revistas por
anos, poder ver um Matt sorrindo em frente às ameaças. Mas com isso também
reforçar que o Demolidor é o verdadeiro paladino da Marvel que se firma inabalável
a toda sua profusão de problemas. Um cavaleiro urbano que desafia o perigo
audaciosamente e encara o inimigo com uma atitude atrevida que só é possível graças
a uma confiança que apenas os maiores heróis possuem.
Mark
Waid conseguiu escrever uma fase única do personagem que justifica as
premiações que recebeu e trazendo elementos tanto novos como resgatando o que
já havia sido esquecido do Demolidor. Com certeza esse arco ficará marcado como
um dos melhores estórias do Homem sem Medo.
Legal, ainda não tinha visto nada sobre esse novo demolidor, mas agora deu vontade de conhecer.
ResponderExcluirEssa e uma fase anterior a atual no Brasil. Chegou em encadernados de capa mole que aparecia a cada trimestre, mas difícil de encontrar completa hoje. Recomendo buscar em scans para ler.
Excluir