quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Planeta Hulk de Greg Pak


Arco das histórias em quadrinhos publicado em mensais do Incrível Hulk nas edições 92 a 105 no ano de 2006 pela Marvel Comics. Conta a estória do personagem traído pelos amigos e exilado no planeta Sakaar transformado em escravo e gladiador para a diversão deste estranho lugar. Logo o Gigante Esmeralda tem contato com os oprimidos do lugar onde uma revolução é fomentada enquanto sua popularidade como herói daquele povo aumenta, apenas de sua relutância em ajudar devido ao remorso de experiências passadas na Terra. 

Este enredo, de um Hulk exilado em algum lugar do espaço, foi entregue pronto ao argumentista Greg Pak que ao invés de reclamar pelo tema imposto pelos editores ou se limitar a proposta original o argumentista expande muito a ideia podendo trazer todo um planeta com novos personagens, alienígenas e toda a sorte de monstros e tecnologias diferentes mostrando assim novos conceitos não muito usuais na Marvel escrevendo uma estória que faz uma mistura competente de ficção científica e alta fantasia para os quadrinhos de super heróis.  




Greg Pak argumentista estadunidense formado em Ciências Políticas na Universidade de Yale e História em Oxford. Trabalhou com vários títulos da Marvel como X-Men, Homem de Ferro, Hércules e Surfista Prateado bem como da rival DC Comics em revistas dos Jovens Titãs, Batman/Superman e Action Comics, além, claro de alguns títulos mais autorais. Também trabalhou como cineasta em vários filmes, curtas e documentários onde um deles, The Personals, um documentário curta metragem dirigido por sua esposa Keiko Ibi, chegou a ser premiado com um Oscar na edição de 1999.  

Talvez o autor tenha se valido de todas suas formações e experiencias para conceber a saga Planeta Hulk, pois existem lá vários elementos de intriga política baseada, principalmente, no antigo Império Romano. Um cruel senhor de escravos, o Rei Vermelho, organiza lutas de gladiadores em um verdadeiro Coliseu para divertir seus súditos e aliená-los dos problemas de seu próprio governo. Dentro desta perspectiva histórica temos o monstro Hulk, um estrangeiro e bárbaro quase insano que se torna herói, contra a vontade, dos espectadores e lentamente vai se envolvendo em uma resistência ao poder estabelecido. 

Apenas de todos os elementos novos (e alguns reciclados) o argumentista os adequa aos temas que permeiam as estórias do Gigante Esmeralda. Hulk é um monstro que apenas de todo o ressentimento dos amigos que o jogaram para fora da Terra, o mesmo se vê realmente como uma besta incontrolável e essa é a base principal deste arco bem como a relutância do protagonista em se ver como salvador dos oprimidos em Sakaar 

Apenas da personalidade Bruce Banner estar quase que totalmente suprida neste arco, o próprio Hulk tem medo de que sua fúria acabe causando dor e morte aos novos companheiros. No fundo, ao que parece, o personagem entende sua expulsão da Terra e receia causar tantos ou ainda mais estragos agora neste lugar desconhecido.  

Ao decorrer da estória o Hulk é visto como um salvador predestinado de antigas escrituras religiosas do lugar, mas ele mesmo se vê mais como outra figura também mitológica, o Quebra Mundos e em toda a saga ele oscila em finalmente liderar os revoltosos contra os crimes do Rei Vermelho e seu medo em que suas atitudes apenas tragam mais destruição e seus novos companheiros ou tenham que traí-lo como os do passado ou que ele acabe matando à todos.  

Essa é a primeira trama que se destaca em como mesmo sem Bruce Banner o tema central as estórias do Hulk ainda se fazem presente. O homem e o monstro. O lado humano e o lado da fúria descontrolada do gigante Esmeralda. Temos um aprofundamento do personagem, mesmo em um enredo que aparentemente era de ação pura e nos faz refletir, lendo agora, em tudo que ficou de fora da visão cinematográfica do personagem e como realmente faz falta um filme solo do Hulk no Universo da Marvel nos cinemas.  

Entretanto, Greg Pak não se limita apenas a dicotomia psíquica do protagonista. O personagem é um monstro. Visto como um e usado como um. Então a pergunta lançada é... pode um mostro ser um super herói? Outro tema não inédito aos leitores do Hulk, mas usado em um contexto mais direto e, por vezes, até intimista. Ganhando uma proporção mais rica quando o autor se inspira na visão que os antigos romanos tinham dos bárbaros que eram tão importantes ao Império e ao mesmo tempo tão menosprezados. Tais preconceitos são justificados? O Gigante Esmeralda pode realmente salvar o dia no final ou seus amigos estava, certos em exila-lo?  




Tudo isso fica cada vez mais delicado devido ao grande ressentimento que Hulk sente destes amigos que o traíram e por vezes estendido a desconfiança em todos os seres das raças “fracotes que querem apenas usar Hulk e depois descartar” como teria ocorrido na Terra. O ressentimento aqui é o maior combustível para a fúria e já sabemos o que acontece quando o Gigante Esmeralda sede a fúria incontrolável.  

É incrível como o autor acaba fazendo você se simpatizar pelo personagem. Não por Banner como geralmente se faz, mas com o monstro. Sem perceber você se vê torcendo para que Hulk cumpra o papel de salvador e fica aflito em todos os momentos que o roteiro o leva a ponto de ceder aos instintos selvagens. Aliás a fúria é quase um personagem aqui, pois ela dita e influencia não apenas o protagonista, mas vários outros personagens da trama onde sempre estão em uma linha tênue entre o humano e o monstro.  

O herói e o vilão.    

Vários temas são trabalhados assim na trama em que as perspectivas mudam radicalmente dependendo do ponto de vista. Os oprimidos em seu levante devem buscar a justiça ou vingança? Qual é a diferença? Qual é o limite? Devemos inverter a balança de um sistema opressor ou construir algo novo que não permita mais a opressão? Isso é realmente possível?  

No fim Planeta Hulk parece, mas é bem mais que uma história em quadrinhos convencional de super heróis trazendo temas mais delicados e profundos em um enredo que tem todos os elementos de boa ação e diversão descompromissada fazendo um equilíbrio perfeito deixando o leitor vidrado nos combates e ao mesmo tempo reflexivo sobre os elementos abordados. O desenvolvimento da trama é dinâmico e, apenas de extenso com novos elementos e todo um universo com cultura e personagens próprios, sua leitura flui em uma estória toda bem amarrada com personagens marcantes e uma identificação quase única pelo seu protagonista.  

Conseguirá o Hulk vencer todos os estigmas que lhe foram impostos de maneira tão perversa a ponto de fazê-lo acreditar neles e, finalmente, se tornar o herói aclamado por seus pares?   


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