domingo, 24 de janeiro de 2021

Invasão Secreta de Brian Michael Bendis

                                               


História em Quadrinhos escrita por Brian Michael Bendis e com a arte de Leinil Francis Yu conta a estória de uma invasão dos alienígenas Skrulls que havia sendo planejada a décadas, substituindo os heróis da terra por esses extraterrestres metamorfos. Faz parte do arco de Bendis na equipe iniciado em Vingadores A Queda que visava uma restruturação dos Maiores Heróis da Terra para que se tornem a publicação principal da Marvel Comics vista o sucesso dos filmes.  

Brian Michael Bendis é um renomado (e controverso) quadrinista que já foi chamado de um dos maiores propulsores da Marvel Comics para o século XXI. Nascido em Cleveland no estado de Ohio e como muitos leitores de histórias em quadrinhos, Bendis adorava criar personagens e seus próprios enredos quando era criança. Conhecido mais como roterista, mas na verdade ele também é artista iniciando sua carreira como caricaturista e ilustrador pela editora Calibar Press. 



Foi ganhando sucesso em revistas detetivescas ao melhor estilo Noir como FireGoldfish e Jinx; além da famosa Torso em que Bendis fala sobre a resolução de crimes em Cleveland tendo como personagem ninguém menos que o próprio Elliot Ness (responsável pela prisão do infame mafioso Al Capone) pela Image Comics. Pela mesma editora tivemos Powers, que trabalha crimes envolvendo super-heróis. 

Leinil Francis Yu é um artista filipino desenvolvedor de um estilo próprio de desenho que ele mesmo chamou de Pseudo-realismo dinâmico iniciando sua carreira nas HQs mainstream na editora Windstorm Productions. Na Marvel Comics trabalhou nos títulos como WolverineQuarteto Fantástico e X-Men. Chegou até trabalhar com arte conceitual para o cinema, como no filme de 2005 Serenity - A Luta pelo Amanhã de Joss Whedon. 

Invasão Secreta traz uma trama de paranoia instaurada nos quadrinhos desde a Guerra Civil (2006) de Mark Millar, mas agora chegando à um outro patamar, pois com os alienígenas metamorfos, qualquer pessoa pode ser o inimigo. Claro que podemos fazer paralelos com a Guerra Fria, mas receio que a saga está mais ligada ao momento em que foi escrita em 2008, ou seja, após os ataques do 11 de setembro, como Guerra Civil também estava ligada aliás, e principalmente por Invasão Secreta, reverberar na saga adjacente Reinado Sombrio 



Assim mais do que a paranoia em ter um espião extraterreste no lugar de qualquer pessoa, seja do governo ou super herói, temos também alguns vilões bem terrenos aproveitando a chance de poder moldar seu caminho na terra das oportunidades, algo construído vagarosamente e que Bendis não aproveita tão bem, ou com a sutiliza que era necessária nessa publicação.   

Entenda que, apesar de Bendis ser um dos meus argumentistas preferidos e Invasão Secreta fazer parte de sua aclamada reformulação dos Vingadores esse arco em específico não é um dos seus melhores trabalhos. Temo que o enredo exigia mais do clima de espionagem com reviravoltas dignas do cinema que retratava a Guerra Fria e, embora tenha realmente suas guinadas narrativas, estão bem longe de empolgar ou auxiliar a deixar o leitor tenso. 

Claro que se você olhar toda a fase do autor em Vingadores pode perceber pistas dessa invasão desde as primeiras edições de A Queda e isso gerou especulações sobre quem era ou não um Skrull que deixaram os leitores loucos, mas até a isso a saga acabou ficando um pouco aquém. Talvez o problema tenha iniciado pelo marketing da editora que vendeu a estória como espionagem clássica e pura (Em quem você confia?), mas se trata de um enredo de guerra com muita ação e páginas duplas impactantes. 



Aliás a arte de Francis Yu é o melhor da saga com desenhos muito bem executados dentro da linguagem mais heroica das HQs e embora não tenha uma narrativa gráfica muito inspirada, ele tem o domínio necessário para desenhar vários heróis juntos em campo aberto ou cidades destruídas como exige o enredo.  

Ponto alto para as naves dos Skrulls que realmente tinham um aspecto alienígena (não é à toa que ele fez a arte conceitual de Serenity) e pena terem sido tão pouco desenvolvidas pelo roteiro.  

Talvez essa saga precisasse de mais edições de desenvolvimento da trama principal, mas tem um ótimo fechamento com uma reviravolta propositalmente anticlimática que surpreende (única que realmente funciona) dando abertura para outra saga posterior. O que acaba não sendo tão bom, pois Invasão Secreta fica com um aspecto de prólogo de Reinado Sombrio ou transição entre arcos dentro do run de Brian Michael Bendis. 

Entretanto se você entender essa saga como mais um acontecimento Marvel Comics e que, apesar de inspirada nas grandes histórias de espionagem, não tem o seu glamour, mas ainda assim tem alguns pontos altos e arte impressionantes, o leitor acaba apreciando essa estória e talvez, mesmo que superficialmente, possa refletir sobre o papel do Estado em crises e o risco que podem representar nesses momentos, bem como o perigo da iniciativa privada unida (direta ou indiretamente) com os meios de comunicação em massa e formadores de opinião.  

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