domingo, 17 de janeiro de 2021

O Anão


“O machado será a vingança dos esquecidos. 

Apenas o mais audacioso o portará. 

O Mal rastejará novamente para as profundezas.” 

 

E desferiu mais um poderoso golpe ao som do suspiro derradeiro da criatura sentindo aquela maldita vida esvair por entre suas escamas. Audácia. Eliminar um draconiano sempre era perigoso, pois não importasse a espécie que fosse, sempre sua morte causava um efeito colateral naquele que desferiria o ultimo golpe. Uma criatura amaldiçoada de fato. Ainda mais um Aurak que apesar de nascer dos ovos dos benignos dragões dourados, estes emergiram de rituais profanos para servir aos designíos da Rainha das Trevas e, como tal, irrompe em chamas amaldiçoadas quando morre destruindo todo aquele que ousou exterminá-lo.  

Entretanto o machado que o proscrito anão usa não é comum. 

Thorvalen Escudo Negro é um anão que jurou se vingar deste draconiano em específico, pois a fera teria massacrado o seu povo. Tal feito só foi possível devido ao fato de que o Aurak o ter enganado para entrar na cidadela sob a montanha que o mestre anão protegia. Chamas. Adultos, velhos e crianças em chamas. Agora esquecidos no tempo, mas ele nunca poderia esquecer, pois foi deixado vivo propositalmente. Uma última maldade da besta. E o guerreiro realmente nunca esqueceu. Acontece que os anões são uma raça tenaz que vive por séculos, mas nunca se esquece dos seus desafetos demorando anos para nutrir sua vingança da mesma forma que trabalham com todos seus artefatos de ferro e madeira. O tempo faz com que suas obras sejam duradouras da mesma forma que tornam suas vinganças inexoráveis.  

A vingança é um prato que se come frio... literalmente neste caso. 

Literalmente, pois Thorvalen, depois de abandonar tudo que lhe restava, tinha tudo preparado. Todo seu tempo era dedicado apenas a uma coisa. Vingança. Demorou 53 anos, 139 dias, 4 horas e 47 minutos; mas tinha tudo bem planejado. O anão matou o draconiano utilizando um machado forjado com a mítica lâmina gélida. Uma sólida folha de gelo em um estado tão frio que nada mais o descongela sendo capaz de cortar praticamente qualquer coisa e ainda manter o seu portador imune a qualquer temperatura incluindo quando está em meio a chamas.  

Chamas. 

Nada da habilidade mortal do draconiano poderia fazer para ferir o mestre anão e sabendo disso ele teria tempo o suficiente para realizar um ritual muito específico. Claro, uma vingança tanto tempo remoída dentro de sua alma não terminaria apenas com a eliminação da criatura. Não. Tão pouco o guerreiro não moveu montanhas para encontrar a Lâmina Gélida apenas para sobreviver ao surto derradeiro do draconiano. Sacrifício seria um preço justo pela sua vingança. 

Havia bem mais. 

Thorvalen tinha que sobreviver para realizar o ritual que devolveria a consciência ao draconiano. A besta retornaria, mas agora com sua alma de dragão dourado restabelecia e ciente de todos os horrores que causou. Atormentado eternamente pelos espíritos de todos que matou e fez sofrer. Provavelmente a criatura não suportaria. Talvez a fera se mataria condenando sua existência a vagar pelo vazio sem a proteção de nenhum deus, bom ou mal. Estes por menores, não importavam de fato. Só uma coisa realmente importava. 

Sua vingança estaria completa, por todos aqueles que sofreram. 

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