segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Cerejeira


O grande guerreiro estava sentado taciturno em frente à exuberante árvore de cerejeira. Era talvez o mais hábil dos samurais do Imperador. Um especialista na técnica de Iaijutsu, ou saque rápido com sabre. O mais mortal dos estilos de luta.
Ali, sentado sobre os joelhos, ele meditava sobre as palavras de seu mestre, que se encontrava logo atrás, imaginando se estava no caminho certo. O caminho da espada!
Tinha vencido muitos inimigos e eram tempos negros aqueles realmente, mas era conhecido como o melhor dos espadachins de seu tempo. Isso o fazia ser um homem orgulhoso e confiante, algo que vinha preocupando seu mestre.
Lentamente ele abriu os olhos e viu as flores alvas que delicadamente descansavam sobre os galhos finos, mas firmes, da Cerejeira. O vento soprava tão suavemente que ainda não tinha derrubado nenhuma daquelas lindas pétalas no chão.
O guerreiro ficou impaciente e resolveu golpear o tronco da árvore com o cabo de sua espada.
Surtiu efeito!
As flores começaram a cair pelo impacto do golpe e finalmente o homem se pôs de pé e golpeou novamente a fim de cortar as flores que caíam suavemente.
Mas as pétalas foram levadas pelo vento do norte e, como se fosse uma ação deliberada, desviaram do fio da lâmina do samurai.
Aquilo não estava certo! Ele estava errando em algo e, voltando a se sentar, contemporizou sobre sua falha. Logo percebeu que sua falta estava em golpear duas vezes, uma para fazer as flores caírem e outra para golpeá-las.
Sim! Muita energia era perdida no primeiro golpe. O espadachim deveria esperar pacientemente que o próprio vento derrubasse as pétalas. Devia deixar a natureza seguir seu curso.
O samurai fechou os olhos e pôde sentir o vento percorrer-lhe a face. Ouviu o sibilar do canto dos pássaros e o som das águas límpidas do rio próximo que não passava de um confortante sussurro. O guerreiro pôde sentir a natureza em sua volta expandindo seus sentidos. Sua alma tocou o espírito da Cerejeira e finalmente ele se tornou uno com o universo em sua volta.
Percebeu que tudo estava ligado. O bosque, a árvore e ele eram uma coisa só.
Assim pôde sentir claramente o vento norte soprar e ouviu o ruído das pétalas se desprendendo da Cerejeira tão nitidamente que quase podia vê-las.
O golpe foi desferido de forma perfeita. Mais rápido que os olhos de seu mestre, mas mesmo assim nenhuma das flores foi arrebatada no ar como pretendia o habilidoso samurai...
- Não está certo! – bradou o espadachim. – O que me pede é impossível!
- Por quê? – perguntou o mestre – Não seria mais obvio que você esteja em falta com seu treinamento?
- Sim! – respondeu o discípulo admirando a Cerejeira. – Mas a natureza é poderosa demais, não me envergonho de ter sido derrotado por uma força tão esplêndida!
- Então uma árvore derrotou o maior guerreiro de seu tempo?
- Claro, pois está na Cerejeira a alma de um samurai!
- Sim, de fato! – concluiu o ancião. – És apenas uma parte do todo. O maior dos homens do Imperador, mas ainda passível de ser derrotado! Ninguém é imbatível como seu ego imaginava. Diminua, reflita e aprenda!
Os dois, mestre e aluno, ficaram a contemplar as pétalas de Cerejeira que delicadamente caíam sobre o rio e tingiam as águas anis de uma tonalidade alva e pura como as nuvens que desafiavam o azul celestial...

3 comentários:

  1. Mto bom!

    Lição de vida. Acho que talvez em outro conto sobre as mesmas decorrências seria legal inclusive discorrer sobre a importância da paciência. Falei td invertio mas acho q entenderás!
    rsrs

    Keep Writing!

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  2. Estou pensando em fazer isso mesmo Math!
    Com os mesmos personagens...
    Cada um com um tema, mas curiosamente eu não pensei em paciência...

    Obrigado pela dica Math!!!

    Abraços

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  3. muito bom mesmo! acredito que o seu melhor, até agora, claro..na verdade estou an dúvida sobre os seus melhores...são tantos. se pá não tem nenhum melhor, são todos muito bons..mas confesso que este realmente me agradou muito!

    parabéns novamente!

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