sábado, 12 de junho de 2010

Eu te Amo

“Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?”
Vinicius de Morais

Vitória olhava para as pétalas alvas dos lírios do campo e apenas sentia mais tristeza. Não era uma mulher melancólica, mas os golpes que o destino tinha desferido contra ela nos últimos anos eram inexoráveis. Há pouco tempo ela tinha perdido a avó e a mãe juntas e agora a morte tinha também levado seu amado pai.
Amado pai! Fazia algum tempo que ela não o chamava assim. Ela o culpava pelas mortes da mãe e avó, pois ambas morreram pelos ideais de seu pai. Ele era um político. Um da pior espécie, um político honesto. Infelizmente era assim em um país onde a corrupção reinara e devido à honradez dele, devido à sua ética inabalável, inocentes foram mortos. A mãe e avó de Vitória foram mortas...
Entretanto tudo mudara agora. Ela lia a lápide em sua frente. Fernando Roberto Vilela e não mais tinha raiva desse nome. Seu pai estava morto agora e nem enterrá-lo ela podia, pois nem imaginava onde estava seu corpo. Sabia apenas que estava morto e resolveu homenageá-lo de alguma forma no jardim em frente à sua casa.
Queria tê-lo visto pela última vez. Queria dizer que o amava ainda e que suas dores eram iguais, pois ambos perderam suas mães juntos. Queria ter dito que não era culpa dele, mas ela não podia fazer isso mais. Era horrível a sensação de amar alguém e não poder se expressar. Não poder dizer que o amava e tendo esse sentimento apenas para si. Ela queria gritar! Gritar tão alto para que ele ouvisse aonde quer que estivesse naquele momento. Aquilo a sufocava, mas nada fez além de olhar para a fria lápide de mármore escura. Era dolorido não poder dizer eu te amo!
Sabia que poucas pessoas iriam vir prestar essa última homenagem, mas estavam apenas ela e uma ex-aluna de seu pai. A mesma mulher que trouxe a fatídica notícia de sua morte. Ela estava com Roberto momentos antes desta. Como Vitória invejava aquela jovem francesa!
Eleanor LeBeau tinha vindo ao Brasil para realizar um trabalho com Roberto, ambos eram arqueólogos, mas tudo tinha dado errado e o velho homem havia sacrificado a própria vida pela jovem. A francesa sentia certa culpa por isso. Sentia que tinha privado Vitória de seu amado pai, mas não imaginava que a dor que a filha sentia era bem maior que isso.
Lágrimas percorriam a face de Vitória enquanto ela olhava para o chapéu fedora que Eleanor estava carregando. Sabia que era de seu pai e não entendia o porquê de aquilo estar com a francesa. Viu quando a mulher partiu colocando o chapéu na cabeça e percebeu que aquilo significava muito para ela, para ambas.
Vitória voltou a olhar para a lápide e mais uma vez leu o nome de seu pai. Ficou ali por um bom tempo. Ajoelhou-se em meio ao jardim de lírios do campo. Fechou os olhos e sentiu uma necessidade de pedir desculpas, mas não o fez. Ela disse apenas, em uma voz tão suave que não era mais que um sussurro, eu te amo...

6 comentários:

  1. MUITO MAIS QUE BELOOO...FOI TUDO
    muito mais que em uma vida eu expolicaria

    Não entendo como uma pessoa como vc que relata uma historia fascinate gosta de meus meros textos :( rsrs

    OBRIGADA POR ME DAR O PRAZER DE LER ALGO TÃO LEGALL

    XEROOOOOOOO

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  2. Muito obrigado Math!

    Eu escrevi ontem mesmo e já postei!
    Surto entre estudo da prova...
    Espero q não tenha lhe trazido nenhuma lembrança ruim...

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  3. Cywmara,

    nossa menina!
    Assim eu fico até sem jeito...

    Fico contente que tenha gostado tanto!

    E para com isso q estou adorando seus escritos!

    Muito obrigado mais uma vez!

    Beijinhos pra vc!

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  4. Nossa,Fábio!

    que triste!

    Senti até a angústia dela agora! O.O

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  5. Oi querida,

    muito triste não é?

    Mas lembre do nome da personagem...
    Ela se chama Vitória!
    Mesmo em dias tão tristes ela conseguirá se recuperar!

    Sempre há primavera depois do inverno!

    Beijos

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